Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
PREVENIR É MELHOR QUE REMEDIAR
Nos idos de 1966, o maestro João Carlos Martins despontava como um dos grandes talentos da música clássica no mundo. 18 de Outubro de 2019Nos idos de 1966, o maestro João Carlos Martins despontava como um dos
grandes talentos da música clássica no mundo. Não é preciso contar sua carreira
vitoriosa para que a maioria dos leitores saiba de quem estou falando. Sua
história de superação se iguala ao seu extraordinário talento e o coloca no
alto do pedestal dos maiores nomes da música.
Voltando a 1966, contado por ele numa sessão da Academia Paulista de
Letras, o jovem pianista chamava a atenção da crítica e do público, iniciando a
consolidação de uma carreira que se estenderia pelas décadas seguintes, até os
dia de hoje, razão pela qual seu empresário, um belo dia, o procurou e sugeriu
que ele contratasse um seguro para suas mãos.
Jovem, brasileiro, relativamente imprevidente, João Carlos Martins adiou
a decisão. “Depois vemos isso”. E tocou em frente. Afinal, em pouco tempo ele
voltaria ao assunto e contrataria o seguro. Nestes poucos dias com certeza não
lhe aconteceria nada que pudesse prejudicar a carreira ou a contratação da
apólice.
Mas nem sempre o que nós queremos é o que os deuses querem. Quinze dias
após seu empresário haver comentado sobre a importância dele contratar um seguro,
João Carlos Martins sofreu um acidente e quebrou o braço.
Quem quebrou o braço até o final do século 20 sabe o desconforto do
gesso, da imobilização, da coceira, invariavelmente num lugar de difícil
acesso, até para a salvadora agulha de tricô, que é a única coisa capaz de
colocar fim ao drama.
Além de sofrer os suplícios da situação, o jovem pianista descobriu um
outro problema: como ele havia quebrado o braço, as seguradoras não aceitavam
mais o seguro de suas mãos. E o maior patrimônio de um pianista são,
justamente, suas mãos.
Importante frisar que a negativa não era das seguradoras brasileiras, mas
de seguradoras norte-americanas. Naquela época, as seguradoras nacionais não
faziam esse tipo de seguro. Assim, a contratação deveria ser feita nos Estados
Unidos ou na Europa, onde a cobertura existia e o interessado podia contratá-la
sem maiores dificuldades, exceto se tivesse sofrido algum acidente que pudesse
comprometer, ainda que indiretamente, a capacidade de utilizar as mãos.
João Carlos Martins, no lapso de tempo entre a sugestão de seu empresário
e a decisão de efetivamente contratar o seguro, quebrou o braço. Daí para
frente estava enquadrado na regra de não aceitação do risco e não conseguiu
mais contratar a proteção para acidentes que atingissem suas mãos.
Resumo da história: prevenir é melhor do que remediar. Seguro existe para
garantir a recomposição do patrimônio ou da capacidade de atuação do segurado
no caso de acontecer um determinado evento que cause um prejuízo.
A “Lei de Murphy” anda meio fora de moda, mas ela é absolutamente real:
“Se alguma coisa pode dar errado, dará”. E, se não tiver seguro, o interessado
ficará com o prejuízo, como aconteceu com o grande maestro brasileiro.
Ainda que ele não tenha, ao longo da carreira, sofrido prejuízos maiores
por causa do acidente que lhe quebrou o braço em 1966, daí para frente ele não
conseguiu mais contratar a melhor proteção para o caso dele não poder mais
tocar por problemas nas mãos.
Numa situação dessas, a indenização do acidente, representada por uma
quantia em dinheiro, estipulada numa apólice de seguro, é o consolo que
minimiza materialmente o prejuízo decorrente da interrupção da carreira.
Mas a “Lei de Murphy” não vale apenas para as mãos dos grandes pianistas,
ou para a voz dos grandes cantores, ou para os seios das atrizes. Ela se aplica
a todos os momentos da vida cotidiana de pessoas ou empresas.
É curioso, mas é justamente quando estamos sem seguro que os acidentes
acontecem. É na janela de tempo entre alguns dias sem cobertura e a contratação
da apólice que ocorre a batida do automóvel. Ou um curto-circuito queima o novo
televisor.
O seguro é uma ferramenta para ser utilizada num momento delicado, no
qual aconteceu um prejuízo. Ninguém gosta de pensar que isso pode acontecer com
ele, mas acidentes acontecem. Então, é melhor prevenir do que remediar.