Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
SAÚDE, EDUCAÇÃO E SEGURO
A principal causa da baixa contratação de seguros no Brasil é o nível de renda de parte importante da população. 15 de Março de 2024A principal causa da baixa contratação de seguros no Brasil é o nível de
renda de parte importante da população. Quando pensamos que mais de cem milhões
de pessoas recebem até dois salários-mínimos por mês, que mais de sessenta
milhões são vulneráveis à fome e que seguro é menos indispensável do que
comida, habitação e vestuário, não resta dúvida de que a afirmação tem forte
base de sustentação.
É muito difícil alguém que ganha dois mil e quinhentos reais por mês
pensar em comprar muito mais do que o indispensável para manter a família, quer
dizer, há pouca margem para somar algo mais aos custos de moradia, vestuário e
alimentação. Então, contratar seguro deixa de ser prioritário, para não dizer
inexequível, dentro da realidade familiar.
Sem dinheiro sobrando, não é possível fazer mais despesas do que as
obrigatórias e isso por si só é um grande impeditivo para a expansão do seguro
no seio da sociedade brasileira. Mas há mais e este mais tem enorme relevância.
Pode-se mesmo dizer que se aproxima do dinheiro contado das famílias mais
pobres como breque para a contratação de seguros se destacar entre as despesas
que comovem a população.
Seguindo uma ordem de prioridade minha, começo analisando a questão da
saúde pública. Até que ponto a falta de saúde de boa qualidade para grande
parte da população brasileira interfere na contratação de seguros? A resposta é:
muito. A falta de saúde é uma barreira relevante a ser transposta e esse
movimento não depende do mercado segurador, mas do governo, em todos os seus
níveis. Se na linha de frente está o Município, que é quem tem contato direto
com o cidadão, o Estado e a União seguem logo atrás, tanto no fornecimento dos
equipamentos necessários para o atendimento direto, como na transferência de
recursos para o Município fazer a sua parte.
Sem saúde não há como a cabeça da família se preocupar com outras
necessidades e muito menos entender o que é um mecanismo como o seguro e a sua
importância para a proteção de seu grupo familiar.
O segundo capítulo a ser analisado é a educação. E a primeira colocação a
ser feita é que sem saúde não há educação de qualidade, até porque é na
primeira infância que o cérebro se forma e, com saúde deficiente, as chances de
limitações no aprendizado se multiplicam. Sem aprendizado não há como o cidadão
entender um contrato básico e muito menos um contrato minimamente complexo como
é o contrato de um seguro popular.
Enquanto estas questões não forem resolvidas, o real potencial de
crescimento do setor de seguros será sempre menor do que o número teórico, que
aponta os duzentos milhões de habitantes do país como possíveis utilizadores
dos produtos da atividade. Não são. Isso não quer dizer que o mercado não tenha
enorme espaço para crescer e que os objetivos colocados no ano passado não
sejam realizáveis. Eles são. O setor de seguros tem tudo para representar dez
por cento do PIB brasileiro em 2030. E, mais importante, tem tudo para entregar
à sociedade algo próximo de seis por cento do PIB a título de indenizações.
Neste momento, este é o número factível.