Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
VAI PIORAR
Ao contrário do que o Brasil estava acostumado a ver, desta vez a catástrofe foi ampla, geral e irrestrita. As tempestades atingiram uma enorme área do Rio Grande do Sul, causando danos em mais de 300 municípios. 10 de Maio de 2024Ao contrário do que o Brasil estava acostumado a ver, desta vez a
catástrofe foi ampla, geral e irrestrita. As tempestades atingiram uma enorme
área do Rio Grande do Sul, causando danos em mais de 300 municípios.
O Rio Grande do Sul vem sendo sistematicamente atingido por tempestades
violentas desde setembro do ano passado. Esta foi a terceira e a mais
destruidora, causando danos de todas as naturezas em boa parte da região da
serra e do norte do Estado. Agora a destruição atinge o sul, somando novas
chuvas com as águas que se acumularam no Lago Guaíba e que inundaram vasta área
de Porto Alegre.
A devastação é quase que absoluta. As imagens do que sobrou das cidades gaúchas
lembram as fotos das cidades destruídas por bombardeios aéreos, durante a
Segunda Guerra Mundial. E o que não está arrasado, está debaixo d’água. Vale
dizer, para a destruição aparecer é só uma questão de tempo.
É sempre bom lembrar o passado e melhor ainda ter os dados arquivados
para traçar a linha necessária para mostrar a evolução dos desastres naturais
no Brasil, notadamente, as chuvas que se abatem sobre todas as regiões do país
e a seca que sistematicamente lhe faz contraponto.
Mas só olhar o passado não é suficiente. Por exemplo, as autoridades
gaúchas não imaginavam possível uma cheia maior do que a de 1941. No entanto, o
que aconteceu agora superou em muito o recorde anterior e as medidas de
proteção se mostraram absolutamente insuficientes, tendo como resultado a
inundação de vasta área da Capital. Não é caso de culpar alguém, afinal, o país
inteiro se comporta assim, mas é caso de mudar completamente os maus hábitos
nacionais e transformar o discurso de depois da tragédia em ações concretas
para, se possível, evitar os danos, se não, ao menos para minimizar os
prejuízos e atender rapidamente a população atingida.
Os eventos climáticos continuarão acontecendo cada vez com mais
frequência e mais intensidade. E as áreas atingidas não serão necessariamente
as mesmas. Tradicionalmente, vasta área do território nacional é varrida por
tempestades. A tendência é acontecer mais vezes e com mais força. Então, o Rio
Grande do Sul tem que ser visto como um aviso do que vem pela frente.
Sem ações para realocar a população que vive em áreas de risco, ou ao
menos para evitar que mais gente as ocupe, sem ações para minimizar a força das
águas, sem a criação de estoques estratégicos de alimentos e medicamentos e sem
a criação de um fundo de catástrofe, não tem como dizer que uma tragédia futura
terá desfecho diferente da tragédia gaúcha.
O setor de seguros pode contribuir efetivamente para reduzir as perdas e
permitir a reconstrução de parte das áreas atingidas, mas sua ação será sempre
posterior aos fatos e complementar à ação do governo. Além disso, se as
apólices podem reduzir prejuízos individuais, elas não têm como interferir em
obras como estradas, pontes e outras dessa natureza. Como as tempestades
seguirão acontecendo, se quisermos reduzir seus efeitos, é hora de todos
conversarem a sério para tomar as medidas necessárias para o seu enfrentamento.