
Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
A INCERTEZA É INIMIGA DO SEGURO
Tudo que uma seguradora não gosta é um cenário incerto diante dela. Pior ainda se em vez da incerteza se delinear uma crise. É tudo que uma seguradora não precisa e a razão é simples. 02 de Maio de 2025Tudo que uma seguradora não gosta é um cenário incerto diante dela. Pior
ainda se em vez da incerteza se delinear uma crise. É tudo que uma seguradora
não precisa e a razão é simples. A seguradora opera assumindo riscos que em
situações de incerteza ou crise podem ficar mais gravosos, pela possibilidade
do aumento dos sinistros e pela possibilidade da piora nos resultados de seus
ativos.
Por exemplo, neste momento, em função das incertezas geradas pelo governo
Trump, o dólar e outros ativos americanos estão enfrentando dificuldades no
cenário internacional e isso tem impacto direto nas economias de todos os
países, tanto para o bem como para o mal.
Estas dificuldades podem gerar uma série de situações nas quais a
precificação atual das apólices pode não ser mais suficiente para manter o
equilíbrio da carteira, comprometendo o resultado da seguradora. Qual o impacto
das sobretaxas impostas pelos Estados Unidos ao aço e a o alumínio brasileiros?
Quanto isso vai encarecer os produtos nacionais no mercado norte-americano e
qual a consequência direta nas quantidades vendidas? Como ficam os produtos que
não encontrarem comprador? Até que ponto a globalização pode interferir para
minimizar ou maximizar os resultados das sobretaxas, abrindo mercados ainda não
explorados ou acirrando a concorrência em mercados já atendidos?
Mas não é só. Quais as consequências dos movimentos norte-americanos
ainda que não sejam direcionados diretamente ao Brasil? A oscilação dólar para
mais e para menos, a baixa procura pelos títulos do tesouro americano, a
realocação de produtos em outros mercados têm influência no movimento diário
das bolsas e nos rumos da inflação. Quando a isso se somam variáveis nacionais,
o quadro se agrava. A inflação dos alimentos tem um impacto direto na mesa do
brasileiro e até agora ela não tem nada com a política adotada pelos Estados
Unidos. Mas essa situação pode se modificar rapidamente. Se os países
retaliados pela política internacional de Trump mudarem de fornecedor e
buscarem os produtos agropecuários brasileiros haverá uma pressão a mais
incidindo sobre o preço dos alimentos. E se as sobretaxas interferirem no preço
de insumos necessários para garantir a produção do agro nacional, mais uma vez
a inflação será pressionada, comprometendo as metas estipuladas pelo Banco
Central e, consequentemente, mantendo a taxa de juros alta.
Se o exposto fosse uma certeza, tudo bem, seria relativamente fácil
precificar, apesar dos resultados gerarem a elevação dos preços e da inflação.
O problema é que o quadro é mais complexo e está atrelado a fatores fora do
controle das autoridades monetárias brasileiras. Isto reduz sobremaneira a
capacidade de interferência no cenário macro, com eventual oscilação dos juros
ou a desvalorização do real, sem que se possa fazer muita coisa para diminuir os
resultados negativos.
Uma seguradora baseia seus negócios em estatísticas e tábuas atuarias
conhecidas. Quando o desconhecido e a incerteza nublam o horizonte, as
premissas até então válidas perdem sua capacidade de servir de bússola para a
aceitação e precificação de riscos. No mundo real, é tudo que uma seguradora
não quer, nem precisa.