Antonio Penteado Mendonça
Antonio Penteado Mendonça

Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras

A INCERTEZA É INIMIGA DO SEGURO

Tudo que uma seguradora não gosta é um cenário incerto diante dela. Pior ainda se em vez da incerteza se delinear uma crise. É tudo que uma seguradora não precisa e a razão é simples. 02 de Maio de 2025

Tudo que uma seguradora não gosta é um cenário incerto diante dela. Pior ainda se em vez da incerteza se delinear uma crise. É tudo que uma seguradora não precisa e a razão é simples. A seguradora opera assumindo riscos que em situações de incerteza ou crise podem ficar mais gravosos, pela possibilidade do aumento dos sinistros e pela possibilidade da piora nos resultados de seus ativos.

Por exemplo, neste momento, em função das incertezas geradas pelo governo Trump, o dólar e outros ativos americanos estão enfrentando dificuldades no cenário internacional e isso tem impacto direto nas economias de todos os países, tanto para o bem como para o mal.

Estas dificuldades podem gerar uma série de situações nas quais a precificação atual das apólices pode não ser mais suficiente para manter o equilíbrio da carteira, comprometendo o resultado da seguradora. Qual o impacto das sobretaxas impostas pelos Estados Unidos ao aço e a o alumínio brasileiros? Quanto isso vai encarecer os produtos nacionais no mercado norte-americano e qual a consequência direta nas quantidades vendidas? Como ficam os produtos que não encontrarem comprador? Até que ponto a globalização pode interferir para minimizar ou maximizar os resultados das sobretaxas, abrindo mercados ainda não explorados ou acirrando a concorrência em mercados já atendidos?

Mas não é só. Quais as consequências dos movimentos norte-americanos ainda que não sejam direcionados diretamente ao Brasil? A oscilação dólar para mais e para menos, a baixa procura pelos títulos do tesouro americano, a realocação de produtos em outros mercados têm influência no movimento diário das bolsas e nos rumos da inflação. Quando a isso se somam variáveis nacionais, o quadro se agrava. A inflação dos alimentos tem um impacto direto na mesa do brasileiro e até agora ela não tem nada com a política adotada pelos Estados Unidos. Mas essa situação pode se modificar rapidamente. Se os países retaliados pela política internacional de Trump mudarem de fornecedor e buscarem os produtos agropecuários brasileiros haverá uma pressão a mais incidindo sobre o preço dos alimentos. E se as sobretaxas interferirem no preço de insumos necessários para garantir a produção do agro nacional, mais uma vez a inflação será pressionada, comprometendo as metas estipuladas pelo Banco Central e, consequentemente, mantendo a taxa de juros alta.

Se o exposto fosse uma certeza, tudo bem, seria relativamente fácil precificar, apesar dos resultados gerarem a elevação dos preços e da inflação. O problema é que o quadro é mais complexo e está atrelado a fatores fora do controle das autoridades monetárias brasileiras. Isto reduz sobremaneira a capacidade de interferência no cenário macro, com eventual oscilação dos juros ou a desvalorização do real, sem que se possa fazer muita coisa para diminuir os resultados negativos.

Uma seguradora baseia seus negócios em estatísticas e tábuas atuarias conhecidas. Quando o desconhecido e a incerteza nublam o horizonte, as premissas até então válidas perdem sua capacidade de servir de bússola para a aceitação e precificação de riscos. No mundo real, é tudo que uma seguradora não quer, nem precisa.