Antonio Penteado Mendonça
Antonio Penteado Mendonça

Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras

ANÁLISE DA VIOLÊNCA

Os números sobre a violência brasileira acabam de ser divulgados e não são bonitos. 19 de Julho de 2024

Os números sobre a violência brasileira acabam de ser divulgados e não são bonitos. Seguimos com percentuais elevados em praticamente todos os crimes, do homicídio ao roubo de celulares. É verdade, alguns tiveram queda, como o total de homicídios, mas outros subiram, caso dos estupros.

Entre secos e molhados, o Brasil segue entre os países com maior número de homicídios do mundo. São cinco por hora, o que representa 10% do total de homicídios no planeta. É para ficar envergonhado, ainda que no total o país apresente a queda desse tipo de crime, com a menor taxa desde 2011.

De outro lado, os estupros cresceram. Dez casos são registrados por hora, e isso é só uma parte do número real, porque muitas vítimas têm vergonha, se sentem constrangidas ou mesmo são impedidas de apresentar queixa. Importante salientar que um número muito alto desta modalidade de crime é cometido dentro de casa, quer dizer, por pessoas próximas das vítimas, principalmente quando se trata de abuso sexual contra crianças e adolescentes.

Há quem comemore a queda dos roubos e a notícia é boa, mas não disfarça a realidade de que dois celulares são roubados ou furtados a cada minuto, o que é um absurdo, mas está longe de apresentar uma tendência de queda consistente. E o número de roubos e furtos de veículos segue muito alto e também sem tendência significativa de queda.

Somados a eles, os outros tipos de crimes contra o patrimônio, como roubos de cargas, estabelecimentos comerciais, residências e pessoas aumentam ainda mais a sensação de insegurança da população, o que faz do tema segurança pública o principal ponto de preocupação da sociedade brasileira, devendo impactar as eleições municipais, ainda que o responsável pela segurança pública seja basicamente o Estado e não o Município.

O quadro nacional é dramático e um de seus componentes, na prática, derruba uma das teses mais comuns quando o assunto é turismo. No imaginário popular, a Bahia e os baianos são pacatos, afáveis, pacíficos e de bem com a vida, sempre dispostos a abrir os braços e convidar o próximo para uma festa na rua ou coisa parecida. Não é bem assim. Entre as dez cidades mais violentas do país, seis estão na Bahia.

A violência cobra um alto custo da sociedade brasileira. E aqui estamos falando apenas da violência deliberadamente dolosa, o crime praticado com a intenção de ser crime. Se incluirmos os acidentes de trânsito nesta conta, o total é muito mais grave. São dezenas de milhares de vítimas de outro tipo de violência, tão danosa quanto os latrocínios, os homicídios ou os estupros.

Como não pode deixar de ser, este cenário dramático impacta a sociedade e, dentro dela, impacta mais ainda o setor de seguros, que é responsável pelas indenizações de milhares de casos envolvendo seus segurados, vítimas de algum tipo de violência.

Os impactos mais fáceis de serem percebidos são o preço do seguro e a não aceitação do risco, em função da sinistralidade que inviabiliza o resultado da seguradora.

No curto prazo, lamentavelmente, não vai acontecer muita coisa que modifique o quadro. O mais complexo é que o tema vai muito além da ineficiência policial. Enquanto o país oferecer muito pouco para a maioria da população, como pouca saúde e educação e quase zero de assistência social para os mais carentes, o crime organizado não terá problemas em encontrar os soldados para preencher os seus quadros.