Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
O SEGURO DE TRANSPORTE DE CARGAS CUSTA CARO
Faz muitos anos que os seguros de transporte de carga têm um desempenho no mínimo questionável, razão pela qual várias seguradoras preferem não operar no ramo. 19 de Abril de 2024Faz muitos anos que os seguros de transporte de carga têm um desempenho
no mínimo questionável, razão pela qual várias seguradoras preferem não operar
no ramo. Tradicionalmente, a maioria dos eventos acontecem num raio de cem
quilômetros dos grandes centros urbanos, notadamente São Paulo e Rio de
Janeiro. E a principal causa do acionamento do seguro são os furtos e roubos.
Claro que também acontecem acidentes com os veículos e isso volta e meia
resulta na perda da carga, quer porque cai na estrada, quer porque é saqueada,
quer porque, em função do produto, se deteriora antes de poder ser salva. Mas
os acidentes não representam o grande problema do seguro. O que efetivamente
afeta seu resultado são os roubos e furtos, principalmente aqueles em que o
caminhão é levado, depois do sequestro do motorista.
Faz pouco tempo, conversando com um delegado que atua na repressão ao
roubo de carga, fiquei sabendo que o número de casos na Grande São Paulo sofreu
uma redução importante, mas que, de outro lado, os assaltos na Baixada Santista
cresceram muito, comprometendo o resultado final, que segue com altos
prejuízos, o que, naturalmente, encarece o seguro e, consequentemente, o preço
final do produto.
A lista dos produtos mais visados é a mesma, faz muito tempo. Há
variações no ranking, mas, basicamente, os bens mais roubados são medicamentos,
eletrônicos, bebidas, cigarros, alimentos, químicos, pneus, eletrodomésticos e
mais três ou quatro que entram e saem da lista, dependendo da época do ano.
O processo é rápido. O veículo com a carga é interceptado, rapidamente
desviado e levado para um local onde a mercadoria é transferida para outros
veículos menores, que, em seguida, saem com os produtos já com destino certo. A
rede de receptação é altamente sofisticada e o que é roubado some praticamente
sem deixar rastro.
Dadas as características da malha viária brasileira e do movimento de
caminhões, principalmente em torno das grandes cidades, o combate a esse tipo
de crime é complexo e complicado. Em primeiro lugar, exige um sofisticado
serviço de inteligência e, em segundo lugar, a ação rápida da polícia para
interceptar o caminhão antes da carga ser desembarcada para ser distribuída.
Para tentar minimizar a possibilidade dos assaltos, as seguradoras tomam
e exigem que os proprietários das cargas e os transportadores também adotem uma
série de medidas de proteção, que vão do cadastro dos motoristas ao uso de
sofisticados equipamentos de localização durante toda a viagem e alarme, em
caso de assalto ou outra intercorrência que ameace a operação de transporte.
Mesmo com essas medidas e com a maior eficiência da polícia, os roubos
seguem em patamares elevados e isso assusta várias seguradoras, que fazem a
conta e chegam à conclusão de que não vale a pena entrar num campo extremamente
específico, para o qual terão que montar equipes especializadas, além de adotar
procedimentos que também não são baratos. “Para quê investir no desconhecido e
no complicado, se tem seguro em que ganhar dinheiro é mais fácil?”
Entre secos e molhados, não é de se esperar grandes mudanças no quadro,
pelo menos no curto prazo. Quem está nesse ramo deve continuar, quem não está
dificilmente entrará.