
Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
A DANÇA DAS COMPANHIAS
Quem não tem familiaridade com o mercado segurador, invariavelmente tem a sensação de que é um mercado mais ou menos rígido, com poucos movimentos alterando a sua composição ou a posição das companhias, no ranking ou em produtos. 05 de Abril de 2024Quem não tem familiaridade com o mercado segurador, invariavelmente tem a
sensação de que é um mercado mais ou menos rígido, com poucos movimentos
alterando a sua composição ou a posição das companhias, no ranking ou em
produtos.
Mas a realidade não é esta. Se fizermos um corte dos últimos 50 anos,
veremos mudanças significativas, tanto nas companhias, como nos produtos
comercializados. Começando pelos
produtos, até para explicar o desempenho de algumas seguradoras que se
destacaram ou sumiram, na década de 1970, os seguros importantes eram incêndio,
vida, transporte e lucros cessantes. As seguradoras se preocupavam mais em
aceitar grandes riscos do que focar no varejo, com pequenas apólices que tinham
alto custo administrativo e rendiam pouco. Mesmo o seguro de automóveis era um
produto marginal, que as seguradoras aceitavam emitir para contentar os grandes
clientes das contas empresariais.
Nessa época, as três grandes seguradoras eram Sul América, Atlântica-Boa
Vista e Internacional de Seguros, todas independentes, quer dizer, não ligadas
a conglomerados financeiros. As seguradoras ligadas a banco estavam começando a
surgir e, num movimento improvável, o Bradesco se uniu à Sul América e à Atlântica-
Boa Vista, para, depois de alguns anos, desfazer a parceria e a Atlântica-Boa
Vista se tornar a Bradesco Seguros, até hoje a maior seguradora brasileira e
responsável por parte importante dos resultados do grupo.
Ao longo do tempo, a Internacional de Seguros despareceu, bem como outras
seguradoras importantes, que ou foram compradas e mudaram de nome, ou
simplesmente sumiram, por uma razão ou outra. É o caso da Paulista de Seguros,
que virou Liberty, que acaba de ser comprada pela HDI, seguradora alemã que
desembarcou no Brasil no final dos anos 1970, chamando Hannover Internacional,
associada à Internacional de Seguros.
E sumiram a Nacional, transformada em Unibanco Seguros, São Paulo,
Cruzeiro do Sul, Bandeirantes, Marítima, Indiana e tantas outras, que deram
lugar a novas companhias, que vieram ocupar seus espaços e atuar com produtos
diferentes, tendo como carro-chefe o seguro de automóvel, a grande contribuição
da então Porto Seguro, atual Porto, para o desenvolvimento acelerado do
faturamento do setor.
Da mesma forma que as seguradoras mudaram, os produtos mudaram. O seguro
de incêndio deixou de ser o carro-chefe e hoje atravessa um período delicado em
função do abandono da tarifação técnica em favor do preço, que teve como
consequência a não aceitação de uma série de riscos, por causa da alta
sinistralidade não ser coberta pelo preço baixo do seguro. Em seu lugar,
pontifica o seguro de automóvel, com mais de 30% de participação no faturamento
do mercado e o preferido de seguradoras e corretores de seguros.
De uns anos para cá, estão surgindo novas companhias, com propostas
inovadoras, tanto para produtos, como para a comercialização. Evidentemente,
como já aconteceu no passado, algumas delas acabarão desaparecendo, por quebra
ou aquisição. Mas muitas seguirão em frente, se consolidando e contribuindo
para o dinamismo de um mercado que pretende atingir faturamento igual a 10% do
PIB em 2030.