Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
SEGURO E CRIMINALIDADE
O negócio do seguro é proteger patrimônio e capacidade de ação garantidos pelas apólices. 08 de Julho de 2022 O negócio do seguro é proteger
patrimônio e capacidade de ação garantidos pelas apólices. O pagamento da
indenização pode ou não acontecer, sendo que é justamente a aleatoriedade que
permite que as seguradoras aceitem os riscos propostos por preço infinitamente
menor do que o valor do bem segurado.
As seguradoras trabalham com tábuas estatísticas que lhes permitem
quantificar cada seguro de acordo com a sinistralidade média e as tipicidades
de cada proposta. A seguradora sabe com bastante certerza o comportamento de cada
ramo de seguro e com base neste conhecimento consegue taxar suas apólices com
exatidão.
O acompanhamento do que acontece no cotidiano da sociedade permite que a
seguradora se previna de desvios inesperados, tanto no que diz respeito aos riscos,
como às tentativas de fraude, parte das quais ela não consegue comprovar, o que
a obriga ao pagamento da indenização.
O aumento das indenizações leva, naturalmente, ao aumento do preço do
seguro. Não tem como ser diferente. As seguradoras trabalham com margens
apertadas e seu principal gasto é com as indenizações. Se estas sobem, a
seguradora, em algum momento, tem que mexer nas taxas aplicáveis aos riscos
para reequilibrar o resultado operacional.
As crises são momentos em que a sinistralidade tende a aumentar. Em
função delas, há o relaxamento na manutenção, dispensa de funcionários, aumento
das fraudes e explosão da criminalidade e da violência.
O Brasil atravessa um desses momentos, com a soma de todos os fatores
influindo negativamente na sinistralidade das seguradoras. Em 2021 aconteceu o
aumento expressivo dos sinistros, puxado pelos seguros de veículos e pelo
seguro rural. Mas não foram apenas eles que apresentaram crescimento. 2022
começa mantendo a tendência no seguro rural e no seguro de veículos. E outros
ramos também preocupam.
A criminalidade está em alta e, principalmente na cidade de São Paulo, o
roubo de celulares explodiu, inicialmente por conta dos próprios aparelhos e
depois por causa da possibilidade dos ladrões acessarem as contas correntes dos
proprietários e, usando o PIX, sacarem rapidamente os recursos depositados.
Além do roubo de celulares, aumentou muito os assaltos nas ruas e há
também o aumento dos roubos de residências, muitas vezes com os bandidos usando
as roupas dos entregadores de aplicativos para facilitar o acesso. Quer dizer,
eles assaltam primeiro os entregadores, roubam suas motos, suas roupas e
mochilas, para depois assaltarem as casas, praticando, assim, dois crimes quase
que concomitantemente ou numa mesma ação.
As seguradoras estão atentas aos fatos e já sentiram o impacto desses
crimes em suas carteiras. Se a situação não for revertida com a efetiva queda
da criminalidade e se a polícia não conseguir passar sensação de segurança para
a população, não demorará muito para esses riscos não serem mais aceitos ou, se
o forem, terem o preço exponencialmente aumentado, aliás, como já vem
acontecendo com vários seguros empresariais.