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Com pandemia, PIB do Brasil cai 4,1% em 2020

Quedas no consumo das famílias e no setor de serviços são destaques negativos

Folha de S.Paulo - 03 de Março de 2021

A economia brasileira registrou em 2020 contração recorde de 4,1%, resultado do impacto econômico gerado pela pandemia do novo coronavírus​, segundo dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados nesta quarta-feira (3) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Esse é o maior recuo da série histórica com a metodologia atual, que começa em 1996, superando a retração de 3,5% registrada em 2015. Nas séries anteriores, elaboradas pelo IBGE e pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) desde 1901, a maior queda havia sido em 1990 (-4,35%).

O instituto informou ainda que a recuperação do PIB que havia sido registrada no terceiro trimestre do ano passado perdeu força nos três últimos meses do ano.

No quarto trimestre, houve crescimento de 3,2% em relação aos três meses anteriores, quando a expansão havia sido de 7,7%. Na comparação com o mesmo período de 2019, o PIB do período de outubro a dezembro caiu 1,1%.

Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam queda de 4,2% no acumulado do ano e crescimento de 2,8% no trimestre, na comparação com o trimestre anterior (-1,6% na comparação com o mesmo trimestre de 2019).

O resultado do ano veio melhor do que o projetado pelo Ministério da Economia, que esperava uma queda de 4,5% para o ano de 2020. Já o Banco Central estimava uma queda de 4,4% para o ano.

O PIB per capita recuou 4,8% em relação ao ano anterior, alcançando R$ 35.172 em 2020.

Apesar do crescimento no quarto trimestre, a economia brasileira não voltou ao nível pré-crise. Ainda está 1,2% abaixo do último trimestre de 2019. O resultado também se encontra 4,4% abaixo do pico registrado no início de 2014. Ou seja, ainda não se caracteriza uma recuperação em “V”.

“Não voltou a patamar pré-pandemia, ainda está com se estivesse no final de 2018 e começo de 2019, mas em relação ao segundo trimestre já está 10,4% acima. Não voltou ao período pré-pandemia, mas teve uma recuperação boa em relação ao vale do segundo trimestre”, afirmou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Ela disse que não dá para separar o que é feito da base de comparação baixa e efeito de recuperação efetiva da atividade, mas que é natural que houvesse um crescimento forte no 3º trimestre e uma desaceleração no 4º trimestre.

Os economistas consultados pelo BC no boletim Focus chegaram a apontar contração de quase 7% durante o ano, mas as expectativas se tornaram menos negativas após o Congresso Nacional aprovar o auxílio emergencial e outras medidas de estímulo, que alcançaram patamares equivalentes aos gastos de países desenvolvidos.

A redução dos juros para o menor patamar da história recente, o cenário internacional com vários países adotando estímulos e a recuperação nos preços de produtos básicos exportados pelo Brasil também contribuíram para amenizar a queda do PIB.

Dados econômicos já divulgados apontam para um PIB ligeiramente negativo ou estável no primeiro trimestre de 2021 e um crescimento no ano ainda insuficiente para recuperar as perdas geradas pela pandemia. Os resultados dependem, principalmente, da evolução da doença e do ritmo de vacinação.

Os números do IBGE mostram que o setor mais afetado pela crise são os serviços, que respondem por cerca de dois terços do PIB, principalmente aqueles que dependem do movimento de pessoas, como os segmentos de alimentação e alojamento. O comércio e a indústria já tinham voltado ao patamar pré-crise.

O consumo das famílias, apesar da queda, se beneficiou no segundo semestre do ano do aumento do crédito às pessoas físicas, dos programas de apoio do governo e das taxas de juros baixas.

Segundo o IBGE, no acumulado do ano, o PIB em valores correntes totalizou R$ 7,4 trilhões. A taxa de investimento foi de 16,4% do PIB, acima do observado em 2019 (15,4%). Já a taxa de poupança foi de 15,0%, ante 12,5% em 2019.