Grupos de saúde movimentam R$ 15 bi em aquisições em 2021
Empresas listadas em bolsa fazem mais de 50 transações com recursos de IPOs e ofertas de ações
Valor Econômico - 03 de Janeiro de 2022Capitalizadas com os recursos levantados no mercado nos últimos 12 meses, as companhias listadas de saúde movimentaram cerca de R$ 13 bilhões em aquisições, no ano passado. Quando se consideram as ações usadas nas transações, esse valor chega a R$ 15 bilhões. Em 2020, as companhias de capital aberto anunciaram operações de compra de ativos que totalizaram entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões. Mas na época, havia oito empresas do setor com ações negociadas em bolsa e agora são 14.
Em 2021, Mater Dei, Viveo, Oncloclínicas e Kora abriram o
capital levantando cerca de R$ 6 bilhões. A Dasa fez um re-IPO de mais R$ 3,3
bilhões. Houve ainda follow-on (ofertas sequenciais) e emissão de debêntures de
empresas novatas e veteranas na B3 que estão destinando boa parte desses
recursos para crescimento inorgânico. Segundo levantamento da Santis,
consultoria de fusões de aquisições, o setor de saúde captou, no ano passado,
R$ 10,6 bilhões para usar exclusivamente à aquisições, o que representa mais do
que o dobro do volume registrado em 2020.
Em 2021, quatro empresas de saúde abriram capital e a Dasa
fez um re-IPO- juntas somaram quase R$ 10 bi Com um IPO recorde de R$ 11,4
bilhões em dezembro de 2020 e um follow-on de R$ 1,7 bilhão cinco meses depois,
a Rede D’Or liderou o ranking de aquisições em 2021. O grupo levou dez ativos
que somaram que somaram R$ 3,5 bilhões. As operações marcaram a entrada da Rede
D’Or em novas praças como Paraíba e Mato Grosso do Sul e também a aquisição de
hospitais tradicionais como o Hospital Santa Isabel, da Santa Casa de
Misericórdia de São Paulo.
A Dasa fez três importantes operações que juntas somaram
mais de R$ 2 bilhões. O grupo, controlado pelo família Bueno, intensificou sua
estratégia de criar uma rede integrada de saúde com aquisições diversificadas
de hospitais, rede de clínicas oncológicas, laboratórios de medicina
diagnóstica e corretora e gestora de saúde.
As estreantes na B3 fizeram aquisições tão logo captaram
recursos em seus respectivos IPOs. O Mater Dei, por exemplo, anunciou a
primeira compra três meses após a abertura de capital. O grupo mineiro adquiriu
o Hospital Porto Dias, de Belém, numa transação avaliada em R$ 1,3 bilhão
(considerando dinheiro e ações). No acumulado do ano passado, foram 54
aquisição lideradas por 12 empresas de capital aberto. Muitas delas correram
para fechar suas operações em 2021 e evitar a instabilidade de um ano de
eleição.
“O setor continua aquecido, mas não acho que vai repetir os
volumes de 2020 e 2021. Temos um cenário de eleição e taxa de juros elevados.
Acredito que, no começo do ano, no primeiro semestre ainda veremos aquisições,
mas no segundo tende a esfriar”, disse Felipe Argemi, presidente da Santis,
empresa que assessorou a SulAmérica na compra da Sompo Saúde.
Essa transação foi fechada na madrugada de 30 de dezembro. A
SulAmérica adquiriu 100% da Sompo Saúde (ex-Yasuda Marítima), seguradora
japonesa com 116 mil usuários de convênio médico no Brasil, por R$ 230 milhões.
A transação foi uma surpresa porque a Sompo não manifestava interesse em se
desfazer do seguro saúde, mas o produto também não era o preferido da casa como
os seguros gerais - segmento ao qual a companhia japonesa vem dedicando mais
atenção.
A SulAmérica fez, recentemente, um movimento contrário:
vendeu a área de automóveis e ramos elementares para focar em saúde. Assim, a
centenária Sula foi bater na porta da também centenária Sompo há cerca de dois
meses para convence-los a vender o negócio com o argumento de que escala é o
nome do jogo no mercado de planos de saúde.
A SulAmérica, fundada pela família Larragoiti, tem 2,4
milhões de usuários de convênio médico e mais 2 milhões de plano odontológico.
“A Sompo não tem plano dental. Enxergamos oportunidade de sinergias, cross
selling [venda cruzada]. Atendemos o mesmo perfil de clientes, nossos
corretores são os mesmos, a rede credenciada também é igual”, disse Ricardo
Bottas, CEO da SulAmérica. “Vamos poder concentrar nossos planos no fomento de
negócios voltados aos múltiplos ramos do mercado brasileiro de seguros gerais
em que a companhia atua no Brasil”, complementou Alfredo Lalia Neto, presidente
da Sompo Seguros Brasil. A receita da Sompo Saúde em 2021 ficou em R$ 650
milhões.
O ano de 2021 também trouxe cheques gordos para startups da
área de saúde. Entre janeiro e novembro, as healthtechs receberam aportes de R$
1,7 bilhão, quase o triplo dos R$ 616,7 milhões captados em 2020, segundo dados
da plataforma de inovação aberta Distrito. Um dos destaques foram as startups de
operadoras de planos de saúde, que demoraram para despontar devido à
complexidade de regras e exigências de reservas financeiras.
No ano passado, a Alice recebeu aportes de US$ 160 milhões
de investidores como Softbank e Kaszek. A Sami, com 7 mil 6 usuários de planos
de saúde, também teve rodadas de investimentos de R$ 200 milhões de fundos como
DN Capital, Monashees, Redpoint e Valor Capital. A DNA Capital, maior gestora
de fundos na área de saúde que tem como principal acionista a família Bueno,
também intensificou seus investimentos.
No ano passado, o fundo fez vários aportes, entre eles, de
R$ 1 bilhão no braço de cursos de medicina da Ânima, e R$ 300 milhões na Memed,
empresa de prescrição médica digital. Além das aquisições e captações, o ano
também foi marcado pelo avanço da megafusão entre Hapvida e NotreDame
Intermédica.
No mês passado, a Superintendência Geral do Conselho
Administrativo de Defesa Econômico (Cade) recomendou que a transação seja
aprovada sem restrições, o que deve ocorrer até fevereiro. A união das duas
empresas vai criar uma operadora com 14 milhões de usuários de planos de saúde
e dental, o equivalente a participação de 18% nesses dois mercados.
Foi também no último mês do ano que a americana UnitedHealth
fechou a negociação para se desfazer de uma carteira com cerca de 370 mil
usuários de plano individual da Amil. A UnitedHealth pagará R$ 3 bilhões para
uma empresa de reestruturação chamada Fiord Capital assumir essa carteira, que
é deficitária, e quatro hospitais. A operação foi aprovada pela Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS), há cerca de 15 dias.
Entre as companhias abertas, outra operação de destaque é o
aumento de participação acionária da Rede D’Or na Qualicorp, que já tem cerca
de 30% na empresa de planos de saúde por adesão e tem autorização para aumentar
ainda mais essa fatia. A empresa vem diversificando sua atuação e passou a
vender outros tipos de seguro. Ainda em dezembro, a Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) absolveu o fundador da Qualicorp, José Seripieri Junior, da
acusação de irregularidades no acordo de “non compete” firmado em 2018, quando
anunciou sua saída da companhia.