Guerras e ameaças crescentes desafiam o mercado de seguros
Avaliação de riscos se torna um processos mais complicado em meio a conflitos, avalia federação
Valor Econômico - 01 de Maio de 2024Em janeiro, graneleiro Gibraltar Eagle (na foto) foi alvo, perto da costa do Iêmen, no Golfo de Aden, de um míssil disparado por rebeldes Houthi, que já realizaram mais de 50 ataques contra navios comerciais que passam pelo Mar Vermelho — Foto: AP Ucrânia, Rússia, Israel, Faixa de Gaza, Irã, China, Taiwan, Sudão. A lista de guerras e conflitos em curso, ou ainda latentes, é longa. À medida que tensões geopolíticas escalam mundo afora, o mercado de seguros se adapta a um ambiente mais imprevisível, com reflexos para cadeias produtivas e relações comerciais na economia global.
Em um cenário de tamanha volatilidade e incertezas,
seguradoras estão aprimorando processos para enfrentar desafios que exigem mais
aperfeiçoamento. Para Antônio Trindade, presidente da Federação Nacional de
Seguros Gerais (FenSeg), essa é a tônica do mercado ante o tamanho do desafio.
“As seguradoras estão revisando estratégias de gestão de riscos e desenvolvendo
soluções inovadoras para ajudar as empresas a mitigar os impactos de eventos
geopolíticos”, afirma. “É crucial para as seguradoras colaborarem estreitamente
com seus clientes para compreender e responder adequadamente a esses novos
desafios
Mesmo que alguns desses conflitos sejam amplamente
noticiados e mobilizem a opinião pública, seus efeitos que extrapolam
fronteiras nem sempre são facilmente reconhecidos. “A situação na Ucrânia e as
tensões entre China e Taiwan têm implicações significativas para o mercado de
seguros”, diz Trindade. Segundo ele, os conflitos aumentam a incerteza e o
risco geopolítico e dificultam a avaliação e precificação de riscos.
Um dos impactos da guerra entre Ucrânia e Rússia, que se
estende desde fevereiro de 2022, com mais de uma centena de milhares de mortos
dos dois lados, foi a escassez de fertilizantes no mercado mundial, essenciais
para a agricultura. O Brasil consome 8% da produção mundial do insumo e importa
85% do que utiliza. Apesar da regularização no fornecimento, Trindade alerta
que uma eventual interrupção pode levar a uma escassez de alimentos e afetar o
preço de produtos agrícolas. “Isso representa um aumento nos riscos para as
seguradoras que cobrem o setor agrícola, além de potenciais maiores custos de
sinistros.”
Já tensões entre China e Taiwan têm impactos na cadeia de
suprimentos de semicondutores, presentes tanto em celulares e eletrodomésticos
como geladeiras quanto em carros e aviões. A falta do item teria impacto em
diversos setores da economia. “Isso pode resultar em perdas financeiras para
empresas em todo o mundo e aumentar a demanda por seguros contra interrupções
na cadeia de suprimentos”, destaca o executivo.
Esses conflitos se somaram a um mercado que já havia sido
afetado pela pandemia de covid-19 e se refletem em produtos como o seguro de
automóvel. A maior crise sanitária global em mais de cem anos inflacionou o
setor automotivo em todo o mundo devido à falta de insumos para os fabricantes
produzirem peças de reposição - incluindo os semicondutores -, o que causou o
atraso de meses na entrega de carros novos.
“Esse cenário se refletiu na valorização dos seminovos,
fazendo subir as indenizações pagas pelas seguradoras. Esse custo entrou
inevitavelmente na precificação do seguro auto no momento da renovação das
apólices”, explica o presidente da comissão de automóvel da Fenseg, Marcelo
Sebastião.
Na sequência, quando se esperava que o fim da escassez de
peças se encerrasse em meados de 2023, a eclosão da guerra na Ucrânia derrubou
essa previsão. Agora, uma eventual escalada do conflito na Faixa de Gaza pode
levar a economia mundial a se retrair mais uma vez. “Um cenário como este deve
ter efeitos negativos na indústria automobilística. Caso isso ocorra, é
provável que o seguro de automóvel também seja afetado em todo o mundo,
inclusive no Brasil”, diz Sebastião.
Outro setor diretamente afetado é o de transporte. As
tensões no Oriente Médio levaram a apreensões de navios, como a embarcação de
bandeira portuguesa MSC Aries, em abril, no estreito de Ormuz. “O que acontece
no momento de guerra é que as coberturas de guerra não são ofertadas, uma vez
que não há estatística que suporte o cálculo do seguro. Já as demais coberturas
continuam sem qualquer aumento de preço”, afirma Marcos Siqueira, presidente da
comissão de transporte da Fenseg.
“Outro ponto muito importante é que nas situações de
guerras, os volumes de movimentação de cargas com origem/destino para cidade ou
país em guerra diminuem, ou seja, refletindo em uma queda brutal nos negócios”,
diz.
SindsegSP TV
