Grupos de saúde avançam fora do eixo Rio-SP e aceleram consolidação
O Valor Econômico relata que grandes redes hospitalares e laboratórios estão avançando fronteiras fora do eixo Rio-São Paulo para expandir seus domínios em regiões onde o agronegócio cresce e em capitais do Nordeste, em mais um movimento de consolidação do setor.
Com o caixa gordo depois de fazer uma captação de R$ 11,4
bilhões no fim do ano passado em sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em
inglês), a Rede D’Or tem planos ambiciosos para fazer uma “interiorização” de
sua marca, apurou o Valor. Com cerca de 50 hospitais, a companhia vai continuar
crescendo por meio de aquisições - a empresa anunciou na segunda-feira a compra
de 51% de uma unidade em Belo Horizonte -, mas também quer expandir seu negócio
com a construção de pelo menos 10 novos hospitais em regiões onde não está
presente.
Uma das maiores redes hospitalares privadas do país, a
companhia fundada pela família Moll deu passos importantes nos últimos anos
para chegar em capitais importantes do Nordeste, com aquisições na Bahia,
Sergipe, Ceará, Pernambuco e Maranhão, além de expandir seus negócios no
Paraná, Estado onde o agronegócio é pujante. A rede também avalia a região
Centro-Oeste, onde ainda não está presente.
Também com planos agressivos, o grupo Fleury tem acompanhado
de perto o ciclo de expansão das commodities e avalia oportunidades em áreas
onde a riqueza do agronegócio está concentrada, diz Carlos Marinelli,
presidente da companhia. A estratégia de expansão do Fleury, conta o executivo,
é adquirir marcas já consolidadas em suas regiões.
Segundo Marinelli, o grupo fez importantes movimentos de
compra “na faixa litorânea do Nordeste” nos últimos três anos, como em Natal e
São Luís, e vê uma mudança importante de expansão do setor de saúde, após a
pandemia. “Temos visto uma nova maneira de se consumir saúde com a
telemedicina”, afirma.
Desde abril de 2020, o Fleury realizou 281 mil consultas à
distância - 40% delas em regiões onde o grupo não está presente. A área
genômica é uma das principais apostas de expansão da companhia. Marinelli
confirma que avalia oportunidades de aquisições no setor, mas não dá detalhes.
Com a consolidação do setor de saúde, grandes grupos estão
disputando ativos nas mesmas regiões. A fusão entre as operadoras
verticalizadas Hapvida e Intermédica tornou ainda mais competitiva a
concorrência neste mercado. Rede D’Or, Dasa, Pátria Investimentos (dono da
Athena Saúde) estão “brigando” pelos mesmos negócios e esse movimento vai se
intensificar nos próximos meses, com o levantamento de recursos dessas empresas
no mercado de capitais, segundo fontes ouvidas pelo Valor.
Em dezembro, o Grupo Dasa desembolsou R$ 1,7 bilhão para a
compra da rede hospitalar Leforte, que possui três unidades e cinco clínicas
médicas em São Paulo. A compra é um movimento claro do grupo de verticalizar os
seus negócios - a família Bueno (fundadora da Amil) criou uma holding que
reuniu a empresa de medicina diagnóstica, a Dasa, e o grupo hospitalar Ímpar.
Ontem, o grupo concluiu processo de relançamento da companhia
na bolsa, operação conhecida no mercado como re-IPO. A companhia levantou cerca
de R$ 3,8 bilhões nesta transação, segundo apurou o Pipeline, site de negócios
do Valor. Boa parte desses recursos terá como destino aquisições para continuar
o processo de consolidação da companhia. Dono de uma rede de hospitais no
interior de São Paulo e também no Nordeste, o Pátria Investimentos também
planeja abrir o capital da Athena para fazer a expansão do seu negócio de
saúde. Fontes afirmam que o fundo de private equity está olhando ativos no
interior de São Paulo.
Com a pandemia, muitos grupos hospitalares de gestão
familiar estão com dificuldades de gerir os seus negócios. E é nesta
fragilidade que as grandes redes e laboratórios estão buscando fazer a
expansão. “Há um pipeline grande de oportunidades de negócios com a crise da
covid-19. Tem vários grupos que não estão conseguindo atravessar a pandemia e
enfrentam problema de caixa”, disse um executivo de uma das maiores redes
hospitalares do país.
Procurados pela reportagem, o Grupo Dasa, a Rede D’Or e o
Pátria Investimentos não quiseram conceder entrevista.