Artigo: Seguros, um balanço interessante
Por Antonio Penteado Mendonça, no Estadão
A
futurologia é uma ciência incerta, imprevisível e aleatória, cujo resultado,
invariavelmente, desmente as conclusões iniciais. Em 2019, no Congresso
Nacional dos Corretores de Seguros, era quase unanimidade que o setor tinha
capacidade para dobrar de tamanho nos próximos cinco anos. Os comentários eram
no sentido de que não era sequer preciso acrescentar os novos seguros,
decorrentes dos riscos climáticos, cibernéticos e de responsabilidade para a
conta fechar sem maiores dificuldades. Em 2024, o setor de seguros seria o
dobro do que era em 2019 pela adição dos novos seguros contratados nas
carteiras tradicionais, como veículos, residencial, pequenas e médias empresas,
vida em suas várias formas e planos de saúde, que, com a retomada do
crescimento, voltaria aos cinquenta milhões de beneficiários.
A
conta era certa, só que não vai acontecer. Em 2024 o setor de seguros não será
o dobro do tamanho de 2019. Coisas da futurologia transformada em realidade,
que muda tudo como num passe de mágica, até quando o resultado é uma barbada
que não pode dar errado. Infelizmente, na vida, o inesperado acontece e dá
errado.
Aliás,
esta é uma das razões para, há mais de quatro mil anos, o seguro ser tão
importante para a proteção da sociedade. O inesperado faz parte da vida. E pode
custar caro. 2020 chegou para acabar com a festa. E o ano que começou
prometendo fazer sua parte para confirmar as previsões do setor, em três meses
mostrou que não era bem assim, que o bicho ia pegar e as coisas ficariam muito
complicadas.
A
pandemia do coronavírus entrou em cena feito faca quente em manteiga. Furou
fundo, se espalhou pelo planeta e já fez mais de um milhão e oitocentas mil
vítimas fatais, sendo mais de duzentas mil no Brasil.
O
impacto econômico foi tão forte quanto o susto diante da possibilidade da
morte. Todas as nações sentiram os efeitos da recessão gerada pela pandemia e
pelas medidas adotadas para enfrentá-la, notadamente o isolamento social, que
num primeiro momento funcionou quase que espontaneamente, fechando a sociedade
com todas as consequências negativas advindas, como a quebra maciça de empresas
e o desemprego recorde, que só no Brasil deixou mais de 14 milhões de pessoas
sem trabalho.
O
resultado é uma recessão de mais de 6%, a dívida pública próxima de 100% do
PIB, o desemprego elevado e setores tradicionalmente fortes, como a indústria
automotiva, encerrando 2020 com uma queda de mais de 20% em relação ao ano
passado.
A
grande exceção foi o agronegócio, seguido da indústria de mineração. Os dois
setores são responsáveis diretos pelo desempenho positivo da balança comercial,
que fechou o ano com superávit de mais de US$ 50 bilhões, auxiliada também pela
queda das importações.
Mas,
se o agronegócio e a mineração brilharam, outros setores também não se saíram
mal e aí merece destaque o setor de seguros, que, com certeza, não dobrará de
tamanho até 2024, mas fechou 2020 com números bastante interessantes,
especialmente se comparados ao desempenho do País.
Não
houve milagre. Os resultados são consequência dos vários momentos ao longo do
ano. Inicialmente, o isolamento social reduziu a sinistralidade de forma geral,
o que compensou a queda do faturamento decorrente da quebradeira generalizada,
especialmente ao longo do segundo trimestre. Além disso, nos primeiros três
meses, o faturamento foi positivo, o que melhorou o resultado do primeiro
semestre.
No
início do segundo semestre aconteceu uma retomada mais forte do que a esperada
e que se manteve consistente até o final do ano, melhorando os números
brasileiros, que, se caíram 6%, tiveram um desempenho muito melhor do que a
queda de 10% inicialmente prevista.
2021
será um ano desafiador. Os obstáculos são sérios. Se o Brasil não fizer as reformas
necessárias a situação pode se complicar. Mas para o setor de seguros as
perspectivas continuam positivas. Os prognósticos apontam um crescimento da
economia da ordem de 3%. E ele precisa ser segurado.