Proteção cambial para infraestrutura deve incluir banco e seguradora, diz jornal
De acordo com a reportagem, instrumento pode ficar pronto para funcionar no início de 2021
Valor Econômico - 24 de Novembro de 2020O Valor Econômico informa que o governo está próximo de concluir o desenho de um mecanismo de garantia de crédito ligado a operações de hedge cambial de longo prazo a ser fornecido por seguradoras e por bancos, inclusive públicos. O instrumento, segundo uma fonte, pode ficar pronto para funcionar já no início de 2021.
A
medida é tratada no âmbito da Iniciativa Mercado de Capitais (IMK), que envolve
também atores do setor privado. Ela visa remover um dos entraves para o
desenvolvimento de proteção às variações de preços de moeda ligadas a operações
de financiamento à infraestrutura, que têm um horizonte de prazo elevado. Já
havia no meio do ano uma discussão envolvendo seguradoras, mas agora a ideia
também inclui a possibilidade de participação de bancos.
Há
muitos anos se busca no Brasil destravar o hedge cambial na infraestrutura.
Esse problema é visto como um dos elementos que têm prejudicado a entrada de
investidores estrangeiros no Brasil para esses projetos. Muitas propostas de
soluções para deslanchar esse instrumento já foram e continuam sendo discutidas
pelo governo, mas, diante da complexidade do tema, pouco se avançou.
A
ideia de viabilizar um mecanismo de garantia de crédito por meio de bancos e
seguradoras seria um passo para destravar o hedge porque mitigaria um dos
riscos envolvidos nessas operações: a solvência do fornecedor do hedge. Mesmo
quando há oferta de proteção por instituições financeiras, o investidor
estrangeiro tem receio porque as operações envolvem muito dinheiro e há risco
de o fornecedor do hedge não ter condições de arcar com o compromisso. Com essa
nova garantia, vai se tentar afastar o risco de crédito envolvido na operação
de derivativos e as partes podem se dedicar às outras questões operacionais e
financeiras que envolvem o hedge.
Uma
fonte definiu esse mecanismo como um “seguro do seguro”, a ser exercido se
houver uma situação extrema, uma virtual quebra da instituição que concedeu o
hedge. Dessa forma, seria melhorado o ambiente para participação de bancos de
pequeno e médio porte na oferta de proteção cambial, já que o risco de crédito
estaria compartilhado.
Esse
desenho, segundo uma fonte, estaria mais avançado do que outras propostas em
discussão para ampliar o hedge cambial na infraestrutura. Para a equipe
econômica, além dos problemas técnicos que continuam sendo discutidos, uma
ampla oferta de hedge cambial para operações de longo prazo em infraestrutura
depende de o Brasil endereçar seus problemas estruturais.
Uma
fonte argumenta que o dólar de longo prazo, aquele normalmente direcionado para
projetos de investimento, não está vindo para o Brasil sobretudo por conta da
incerteza fiscal. E, por isso, a visão é que é muito importante conseguir
mostrar sustentabilidade intertemporal das contas públicas para restabelecer o
fluxo de entrada de dólares.
Os
técnicos do governo reconhecem que também há um problema de alta volatilidade
da moeda brasileira, que em parte estaria ligada a esta carência de fluxo de
recursos de longo prazo. Na crise atual, lembra uma fonte, o real foi uma das
moedas com as maiores oscilações entre os países emergentes, mesmo com as
intervenções do Banco Central. E a leitura é que, para se diminuir essa
volatilidade, também seria necessário convencer da solvência e responsabilidade
do país.