Brasileiro precisa poupar mais para aposentadoria, diz Aegon
As pessoas precisam assumir a responsabilidade sobre seu futuro, alerta o presidente mundial da seguradora Aegon, o holandês Alex Wynaendts, em entrevista ao Valor Econômico. Isso quer dizer que é necessário se planejar financeiramente e poupar mais, em um ambiente de juro mais baixo em todo o mundo. No Brasil, com a reforma da Previdência, esse caminho já começou, diz, mas a maioria das pessoas ainda não planeja a aposentadoria. “O Brasil é único. A vantagem é que a população é jovem e terá tempo de poupar para o futuro”, disse. O executivo deixará a companhia em maio, depois de 12 anos e será substituído por Lard Friese.
Com o aumento da longevidade,
os planos de previdência tendem a ficar mais caros, mas os seguros de vida,
não. “Então é bom ter os dois produtos no portfólio. O mais importante de
poupar para previdência é começar o mais cedo possível. Se começar aos 25 anos,
depois de 50 anos é muito dinheiro. Todos têm que começar cedo”, afirma.
No Brasil, a empresa opera
desde 2009 por meio da joint venture Mongeral Aegon, que atua nos ramos de
seguros de vida e previdência. Na sexta-feira, a empresa anunciou a mudança de
sua marca para MAG. O resultado no país ainda é pequeno para o grupo, mas vai
crescer, segundo o executivo. A baixa penetração do mercado de seguros no país
- de apenas 4% - oferece uma grande oportunidade de crescimento na visão da
companhia. Isso não ocorre mais nos países da Europa e nos Estados Unidos, onde
os seguros já atingem cerca de 70% da população.
No Brasil, a perspectiva é que
o mercado segurador avance o dobro do Produto Interno Bruto (PIB), diz o
executivo. A empresa completou 185 anos no Brasil e os prêmios cresceram 24% em
2019. Para 2020, o avanço deve ser de 19%, estima a empresa. A mais recente
empreitada da Aegon no Brasil é o lançamento de uma conta digital. Na Holanda,
a seguradora possui o maior banco digital do país, chamado de KNAB.
Já no Brasil, a MAG estuda
lançar sua “fintech” desde a edição da lei 12.865, que regulou as instituições
de pagamento. “Vimos que era uma forma de termos meios de cobrança próprios e
uma forma de levar produtos e serviços para os nossos clientes”, diz o diretor
executivo da MAG, Marcos Diniz. A empresa tem sete mil corretores ativos em sua
base, que recebem cerca de R$ 250 milhões em comissões ao ano. Estes
profissionais são autônomos e têm dificuldades, por exemplo, em obter
financiamentos.
Além do lançamento da conta
digital, a seguradora pedirá ainda este mês autorização ao Banco Central para
operar como uma sociedade de crédito direto (SCD). A carteira de comissões de
cada corretor vai servir como base de limite de crédito, conta o executivo. A
ideia é também oferecer os serviços financeiros aos clientes. Uma regra da
Superintendência de Seguros Privados (Susep) permite que seguradoras possam
usar a reserva financeira dos planos de previdência como lastro para oferecer
empréstimos. “Em um ano, queremos atingir R$ 1 bilhão em volume financeiro de
transações em pagamentos”, afirma Diniz. O objetivo, segundo ele, é oferecer
crédito a taxas competitivas, iguais ou melhores do que o crédito consignado.
“Temos que pensar em soluções
completas para os clientes, (...) para os riscos sociais que qualquer um de nós
está exposto - morte prematura, invalidez e sobrevivência. E temos que mesclar
produtos de seguro para ajudar as pessoas a cuidarem da saúde”, diz o
presidente da Mongeral Aegon, Helder Molina.
Até o momento, o Brasil não se
viu afetado pelas mudanças no mercado depois da crise de 2009, conta Wynaendts.
Boa parte do negócio dependia do chamado “spread business” - um modelo de
negócios que transformava o passivo dos clientes em ativos. Depois da crise, as
companhias passaram a tomar menos risco do mercado e mais dos indivíduos, diz
Wynaendts. “É uma grande mudança, mas ainda não a vimos no Brasil. Olhando para
Estados Unidos ou Reino Unido ou Europa, o que se vê é uma grande mudança em
mover o negócio do tradicional ‘spread business’ para negócios onde o risco
está no cliente.”
Essa tendência levou as seguradoras
a serem mais uma provedora de serviços. Na Europa, por exemplo, os corretores
de seguros não recebem mais uma comissão das empresas pelas vendas realizadas.
O que se imaginava que pudesse reduzir a importância do posto, no entanto, não
se concretizou, segundo os executivos da Aegon. Agora os corretores recebem o
pagamento de uma taxa dos clientes pelos serviços de assessoria prestados.
“Todos ficaram preocupados com a possibilidade de fim dos corretores, mas isso
não ocorreu. A qualidade dos serviços dele adiciona valor. Os clientes ainda
querem o contato pessoal.”
A tecnologia ajuda a Aegon a
cortar custos, e também a se aproximar do consumidor. “No passado não sabíamos
muito sobre os clientes. Apenas tínhamos um número de apólice. E agora conhecemos
o cliente, onde mora, seu trabalho. Podemos fazer muito mais com essas
informações”, afirma o executivo.