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João Amoroso Lima
João Amoroso Lima

Presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde)

Saúde suplementar: cuidado com a solidez do sistema durante a pandemia

Presidente da FenaSaúde fala sobre crescimento de demanda por procedimentos eletivos
03/08/2020

O setor de saúde suplementar se mantêm mobilizado para garantir, durante a pandemia do novo coronavírus, a solidez de todo o sistema de atendimento a um quadro de cerca de 47 milhões de beneficiários, afirma o presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde), João Alceu Amoroso Lima. Na entrevista a seguir, Amoroso Lima observa que, no atual momento, já se verifica um crescimento da demanda por procedimentos eletivos, o que coincide com o afrouxamento do isolamento.

Como o setor de saúde suplementar tem enfrentado os desafios impostos pela pandemia?

O setor vem lidando com toda a crise e as dificuldades envolvendo a pandemia da Covid-19 buscando manter o sistema suplementar sólido e atendendo bem a seus 47 milhões de beneficiários. Hoje, cerca de 90% do que os hospitais privados recebem e em torno de 80% da receita dos laboratórios de medicina diagnóstica vêm de repasses das operadoras. Além disso, as operadoras repassam para os prestadores como hospitais, laboratórios, médicos, enfermeiros etc. 85% do que recebem. Ou seja, é toda uma cadeia de prestação de serviços que precisa estar de pé e, até agora, neste estágio da pandemia, a saúde suplementar tem funcionado de maneira muito satisfatória, continuando a irrigar todo este sistema.

Fala-se muito que a pandemia tem despertado um interesse maior da população em relação à própria saúde. As operadoras têm observado essa tendência? 

Ainda não temos número consolidados do período atual, mas é natural que uma consequência da epidemia seja uma mudança cultural em relação à própria saúde. Desde 2009 existe um programa junto à ANS, o Promoprev, voltado à promoção da saúde e à prevenção de riscos e doenças. Ele bonifica beneficiários que aderem a iniciativas como combate ao tabagismo e ao consumo de álcool, ao sobrepeso, à obesidade, ao planejamento familiar, à prevenção de câncer de mama etc. São cerca de 520 programas, mas com número, infelizmente, ainda baixo de participantes, cerca de 2,5 milhões de beneficiários, num universo de 47 milhões (5,3%), mas com resultados muito positivos por parte das associadas. Essa tendência do autocuidado deve ser fortalecer no pós-pandemia. 

Quais são as principais demandas que o setor de saúde suplementar têm enfrentado durante a pandemia? 

Especificamente na saúde suplementar, nas últimas semanas as operadoras estão vendo sinais consistentes de aumento da demanda por procedimentos eletivos. Isso coincide com o afrouxamento do isolamento em vários centros urbanos e com a decisão da ANS de retomar prazos originais de atendimento, tomada no início de junho. Em decorrência, os pacientes estão voltando a buscar assistência. Com o passar do tempo, tão logo tenhamos superado o pico da disseminação do vírus, toda a demanda que esteve represada desde março irá buscar atendimento, gerando uma pressão extra sobre o sistema. As operadoras estão prontas para atender essa demanda, sem ônus adicional para os pacientes.

Qual é o legado que a pandemia do novo coronavírus deixará para o setor? 

Períodos como os atuais são de transformações e oportunidades. O futuro deverá acelerar mudanças que há muito são esperadas na saúde, tanto pública, quanto privada. Servirão para melhorar o acesso, racionalizar as estruturas de atendimento e investir melhor um recurso que se mostra cada vez mais escassos. Entre essas mudanças, acredito que estarão: maior ênfase na atenção primária, maior prevenção, menor uso de hospitais, consolidação e disseminação da telemedicina, que se tornou uma solução viável, amigável, como ferramenta para ampliar acesso num País tão desigual quanto o nosso. O cenário social e econômico desafiador que advirá da pandemia exige mudança de modelos, a fim de que se facilite o acesso de mais brasileiros aos planos. Temos que pensar em maior segmentação, regionalização, novos modelos de franquias e coparticipação e mais liberdade para a comercialização de planos individuais.