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Paulo Pereira
Paulo Pereira

Presidente da Federação Nacional das Empresas de Resseguros (Fenaber)

Resseguradores mantém otimismo em relação à retomada pós-pandemia

Setor passa por mudanças no País atendendo às novas necessidades da sociedade
19/06/2020

O presidente da Federação Nacional das Empresas de Resseguros (Fenaber), Paulo Pereira, mantém o otimismo em relação ao ritmo da retomada da economia brasileira em um cenário pós-pandemia. Pereira acredita que a retomada da atividade econômica no País deverá ocorrer na forma de “V”, com um ritmo mais acelerado que nas formas de “U” e “W” previstas por alguns analistas. “A boa notícia é que estamos entrando num ‘hard market’ e que teremos a oportunidade de adequar nossos preços, que já vêm se deteriorando há décadas”, afirmou ele.

- Qual é o impacto causado pela pandemia do novo coronavírus no segmento de resseguros no Brasil?

Estamos vivendo uma situação inédita no mundo. Estamos no meio de um processo que não sabemos quando vai terminar e nem o tamanho do prejuízo. Entendemos que, em princípio, os contratos existentes têm que ser respeitados, embora exista um apelo social e político devido ao grande prejuízo que todas as empresas do Brasil e do mundo estão sofrendo. Estamos dispostos a colaborar. Como exemplo, temos os sinistros de seguros de vida que foram pagos mesmo com a cláusula de exclusão de pandemia e os prêmios dos seguros de automóvel que foram devolvidos por diminuição do risco segurado. Esta colaboração tem um limite, que é a solvência do setor. Nesses dois casos, conseguimos determinar a nossa exposição. Temos o caso de lucros cessantes, que é uma cobertura acessória que precisa de um dano material ao imóvel para ser reclamada. Portanto, a pandemia claramente não está coberta. É importante frisar que praticamente todas as empresas do mundo pararam e que o pagamento de sinistros de lucros cessantes atingiria um valor incalculável, afetando gravemente a solvência de todo mercado mundial.

- Qual é a expectativa em relação aos negócios neste segmento para 2020?

Teremos este ano menos investimentos, agravamento da situação fiscal e uma forte retração do PIB. Consequentemente, menos seguros e resseguros. Nossa expectativa é que o retorno à normalidade se dê em forma de V, e não em forma de U, como muitos acreditam. Há ainda quem diga que o retorno se dará na forma de W. A boa notícia é que estamos entrando num “hard market” e que teremos a oportunidade de adequar nossos preços, que já vêm se deteriorando há décadas. Sendo bastante otimistas, podemos pensar para 2021 em investimentos estrangeiros, já que os juros mundiais estão negativos, para financiar nossos projetos de infraestrutura, tão necessários para o desenvolvimento do nosso País.

- Como as empresas do setor se adequaram às medidas impostas pela pandemia?

A pandemia, sem dúvida, mudou nossa maneira de trabalhar. O home office, já existente, cresceu muito e se tornou uma realidade, principalmente pelo desenvolvimento tecnológico e pela facilidade cada vez maior de comunicação. Acho que a relação do funcionário com a empresa vai mudar. Ele conseguirá determinar o dia em que irá ao escritório. As empresas terão de ficar mais flexíveis para oferecer opções aos funcionários. Várias tecnologias chegaram para ajudar. Nosso setor continuou prestando serviços com segurança e qualidade, apesar do fechamento dos escritórios. Hoje é possível fazer reunião com os clientes por meio do Zoom e outras ferramentas. As reuniões virtuais se tornaram uma realidade e são mais objetivas, consumindo menos o nosso tempo. Aproveito a oportunidade para afirmar nosso apoio à política de afastamento social, pois entendemos que a preservação da vida é prioridade zero.

- O segmento de resseguros vem lutando já há alguns anos por mudanças regulatórias com o objetivo de ampliar os seus horizontes. O que já foi conquistado nessa busca? Que bandeiras ainda estão sendo defendidas pelo segmento?

Hoje temos um governo liberal e, como não poderia deixar de ser, a Susep alinhada com o governo. Somos favoráveis a um mercado aberto, portanto sem preferência, sem retenções mínimas obrigatórias com as cedentes, podendo escolher livremente seus parceiros de resseguro. Na parte regulatória, falando especificamente de resseguros, temos um produto, que é o seguro garantia com a cláusula de retomada, que vai ser muito necessário principalmente nessa fase de crescimento dos investimentos em infraestrutura. Desenvolvemos esse produto, que está prestes a sair. Há um projeto de lei tramitando no Congresso. Se essa lei sair a contento, teremos um produto de garantia que vai atender às necessidades do governo e irá proporcionar um grande desenvolvimento do seguro garantia no País. Outra questão importante é que, recentemente, a Susep reconheceu que as operadoras de planos de saúde e os fundos de previdência pudessem comprar resseguros diretamente. Acho que isso foi importante.