Presidente do Sindseg SP
O Setor de Seguros fez a lição de casa
A indústria seguradora enfrentou, em 2019, questões conjunturais econômicas e políticas adversas e o desafio imposto pelas novas tecnologias.O ano de 2019 teve início sob uma combinação preocupante de fatores. À renitente crise econômica, com questões como o alto desemprego e a perda de renda sobressaindo-se nas análises dos economistas, somou-se o fato de este ser o primeiro ano de uma nova gestão no Planalto, após um longo período de instabilidade política. Juntou-se a isso um cenário de grandes inovações tecnológicas e correspondentes transformações nas necessidades da sociedade, que afetaram profundamente o setor segurador. Apesar de tudo isso, o saldo para a indústria seguradora pode ser considerado positivo, na visão do presidente do Sindseg SP, Mauro Batista. Em sua opinião, o setor segurador fez “a lição de casa” em 2019. Veja a seguir a entrevista na íntegra:
2019 foi um bom ano para o setor segurador?
Foi um ano de desafios. Iniciamos o
ano com um cenário nebuloso, considerando que este é o primeiro ano do governo
do presidente Jair Bolsonaro e o país estava saindo de uma crise política, que
marcou o governo tampão do ex-presidente Michel Temer. A economia também vinha
enfrentando dificuldades. Enfrentamos neste ano desafios de toda sorte. Mas não
fomos atropelados. Conseguimos remar bem e chegar ao fim do ano com um
crescimento que superou nossas expectativas. Alguns segmentos superaram as
previsões iniciais. Os desafios foram bem enfrentados. Ainda que a economia não
tenha apresentado mudanças impactantes, em termos de crescimento, há motivos
para uma maioria entender que algo de bom está acontecendo em relação a isso.
Tivemos queda de taxas de juros, que, se por um lado impacta nossos resultados
em relação a receitas financeiras, de outro proporciona um cenário em que pode
haver melhora do poder de compra das pessoas. Chegamos ao final de 2019 com um
crescimento do setor segurador que ainda não atingiu o nível registrado em anos
anteriores, mas é alentador. A expectativa é de que o setor segurador como um
todo termine o ano com um crescimento médio de 10% a 11%.
O setor segurador soube, nesse ano, se adaptar bem às inovações tecnológicas e às mudanças nas demandas da sociedade?
Este foi o
ano em que sentimos mais o impacto das transformações tecnológicas, que afetam não
somente o seguro, mas a sociedade como um todo. Essas mudanças trazem, por um
lado, entusiasmo, pois a modernização tende a facilitar as coisas, os
caminhos. Mas, por outro lado, as inovações também proporcionam uma certa angústia
em relação aos efeitos proporcionados pelas novas ferramentas, levando as
companhias a refletirem sobre formas de assimilarem as mudanças, sobre os
investimentos que necessitam fazer para se adaptarem. Os corretores, que são o
grande canal de distribuição, estão muito preocupados em relação a como vender
seguros no futuro, como deverão exercer o seu papel, de forma que continuem a
serem essenciais para a venda. Além dos desafios tecnológicos, enfrentamos
também o desafio da mudança do comportamento das pessoas, das novas
necessidades que se apresentam, o que exige criatividade do setor segurador.
Alguns fatos têm um peso considerável. O seguro de pessoas, por exemplo, tem
crescido a ponto de superar o seguro de carros. Começamos a perceber essa
tendência lá atrás, analisando o comportamento em países tecnologicamente mais
evoluídos. Nesses mercados, o carro deixou de ser um objeto de desejo para o
jovem, que agora está mais preocupado em expandir conhecimento, se relacionar,
viajar. A relação dos adultos com o automóvel também está mudando. As pessoas
têm se questionado sobre a necessidade de ter automóveis para se locomover e
enfrentar o estresse no trânsito, a falta de locais para estacionar nas
grandes cidades. Diante dessas questões, o Uber e o táxi têm sido alternativas
para muita gente. Em outros nichos de mercado também têm sido provocadas
reflexões sobre os riscos novos. O risco cibernético é um deles. Até há pouco
tempo não se falava nisso. O risco de responsabilidade civil é outro
segmento, na medida em que as leis podem desencadear preocupação para quem
cause prejuízo para alguém. Acredito que, neste ano, temos digerido isso bem.
Acho que podemos dizer que o dever de casa foi feito em 2019.
Com quais cenários o senhor trabalha para 2020?
Para 2020, achamos que vamos continuar com os
cenários que observamos em 2019. O seguro saúde tende a ter uma expansividade
melhor. Temos lutado com alguns entraves na caminhada, em relação a tudo que é
marginal. Invocaram o sentido de cooperativismos, que é importante para o
desenvolvimento para qualquer povo, para uma atividade marginal de seguros, que
são as associações de proteção. Essas associações são, na verdade,
concorrentes das seguradoras sem ter as mesmas obrigações em relação à carga
tributária e às reservas técnicas. Aí, é uma luta desigual. É uma preocupação
que levamos para 2020. Estamos atentos para combater isso de uma maneira justa.
Temos também um novo governo, uma nova gestão no órgão de controle do setor. O
regulador novo tem algumas ideias. Não diria que essas ideias estão na
contramão de nossos objetivos, mas têm de ser bem trabalhadas. Na essência, as
ideias são modernas, no sentido de termos um mercado expansivo, dando
oportunidades para outros players. Mas isso tem de ser costurado. Tendo um bom
regulador, a gente ressente de ter um atendimento bom para fazer o melhor. Na
essência, o segurador é um empresário moderno, disciplinado. A regulação é de
seu próprio interesse, até para proibir desatinos e práticas indevidas que
podem contaminar o meio. Para 2020, a expectativa é continuar realmente com
essa linha de crescimento. Há um investimento grande em educação financeira.
Estivemos recentemente com o secretário de Agricultura do Estado de São Paulo,
Gustavo Junqueira. O agronegócio é o carro-chefe para o desenvolvimento do
país. O secretário nos disse taxativamente: “me ajudem a fazer educação
financeira para os agricultores. Eles têm de entender que o financiamento
agrícola é uma grande alavancagem para expandir as suas culturas”. Temos esse
raciocínio não só para o seguro agrícola. A população tem de entender o seguro.
O seguro é um remédio que você toma na medida certa. É necessário, te dá
perspectiva de futuro. Mas tomar demais é um equívoco. Isso tudo com muito
esclarecimento. O próprio sindicato tem em seu bojo projetos voltados para a
educação financeira, que deverão ser mantidos em 2020, como o Seguro em Todo o
Estado. O resultado não é tangível em um primeiro momento. Mas tenho a
convicção de que são sementes bem plantadas que vão dar bons frutos.
Temos pontos muito positivos. Um
deles é o relacionamento transparente e produtivo com os corretores de seguros.
Os corretores são um canal muito importante. O Sindseg SP sempre teve essa
visão e construiu algumas parcerias com o objetivo de fazer o seguro ser
melhor entendido pela sociedade, pelo segurado, pelo Estado. Em relação ao poder
público, mantivemos um relacionamento principalmente com a área de Segurança
Pública com o objetivo de reduzir as perdas motivadas pelo crime organizado.
Também fizemos parcerias com o Estado na área de Educação com o objetivo de
levar a educação financeira às crianças nas escolas. Tivemos também uma
presença firme em campanhas educativas junto à sociedade em relação a esse
absurdo que é a morte no trânsito. O Sindseg SP foi muito ativo no
desenvolvimento de projetos educativos e que contribuem essencialmente para a
vida, preservando-a e mitigando riscos, contribuindo para difundir a
consciência de não utilizar o celular enquanto se está no volante, não dirigir
alcoolizado. Reduzir a probabilidade de acidentes. A ideia é continuar tudo
isso, aprimorando. Os sindicatos mudarão suas gestões, com modernizações, práticas e acima de tudo alinhamento perfeito com a Federação e com a Confederação do
setor. Os olhares são de otimismo em relação a tudo que foi construído.