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José Aurélio Ramalho
José Aurélio Ramalho

Diretor-presidente do Observatório Nacional de Segurança Viária

Apesar dos avanços na conscientização, número de mortes no trânsito ainda é alarmante

O poder público e o setor privado têm ampliado a sua preocupação com a questão da segurança no trânsito
02/08/2019

O Movimento Maio Amarelo já ultrapassou os limites do mês de maio, tornando-se um evento perene, e as fronteiras do Brasil, atingindo outros países, lembra ele. Ramalho destaca, contudo, que os números de mortes no trânsito ainda são alarmantes, o que demanda que o trabalho de conscientização seja constante

Como está evoluindo o trabalho de conscientização da sociedade em relação à segurança no trânsito? Tem sido registrado avanços?

O trabalho para conscientizar a sociedade para que sejam adotadas atitudes mais seguras no trânsito é árduo e precisa ser constante. Ainda matamos anualmente muita gente e essa realidade impacta profundamente a economia do país. No ano de 2017, último dado oficial divulgado pelo DATASUS, foram mais de 35 mil mortes por acidentes de trânsito. Trata-se de um número alarmante. Os avanços acontecem sim, mas poderiam acontecer de forma mais abrangente e rápida se avançássemos em questões como a melhor formação do condutor, o investimento em educação para o trânsito dentro das escolas e medidas fiscalizatórias mais eficientes.

O governo de São Paulo tem adotado também iniciativas de conscientização e de mobilização da sociedade com o objetivo de reduzir o número de mortes e de feridos nas ruas e estradas. Como o senhor avalia a participação do poder público e da iniciativa privada em iniciativas em prol de um trânsito mais seguro?

Podemos destacar que tanto o poder público quanto a iniciativa privada têm voltado seus olhares para a necessidade de se conscientizar para um trânsito menos violento. Prova disso é o maior número de ações que temos registrado, a cada ano, durante o Movimento Maio Amarelo, que passou a acontecer também nos outros meses do ano, com atividades contínuas e de grande abrangência. Nós do Observatório conseguimos dar suporte para todos aqueles que desejam abordar o tema trânsito no seu dia a dia. Prova disso é o Programa Laço Amarelo, que entrega mensalmente aos parceiros conteúdos de segurança no trânsito a serem trabalhados em diversos níveis e em várias linguagens.

O Maio Amarelo já se consolidou como um evento importante desta mobilização por um trânsito seguro. O Sindseg SP tem adotado iniciativas com o objetivo de tornar a preocupação com a segurança no trânsito uma iniciativa que vai além do mês de maio. Como o Observatório tem atuado em relação a essa questão?

Exatamente! O Maio Amarelo já ultrapassou os limites do nosso país e do que antes só acontecia durante o mês de maio. Temos ações acontecendo perenemente em todo o mundo. Para contribuir com o fomento dessas ações e de outras medidas que favoreçam o trânsito mais seguro, temos trabalhado fortemente para que o PNATRANS – Plano Nacional de Redução de Acidentes de Trânsito, promulgado no ano passado, seja realmente implantado pelos municípios brasileiros. Parabenizamos o Sindseg SP e a CNSeg, entidades Laço Amarelo, por fazerem parte dessa iniciativa para a redução de acidentes. São exemplos para outras

instituições, pois entendemos que existe uma grande oportunidade para o mercado segurador ao se tornar parceiro do Laço Amarelo como forma de redução de acidentes. Cabe lembrar que um acidente de trânsito pode custar até R$ 5 milhões para o mercado segurador, já que envolve o seguro de vida, seguro saúde, seguro de terceiros, do automóvel, da infraestrutura que sofre tal avaria.

O Observatório realizou, em parceria com o Sindseg SP, seminário sobre mobilidade urbana. Quais foram os resultados dessa iniciativa?

A parceria entre o Sindseg SP e o Observatório sempre rende bons frutos. Prova disso foi justamente a realização do Seminário de Mobilidade Humana, Segura e Sustentável, que aconteceu em maio. Conseguimos reunir num mesmo espaço todos os entes da sociedade para juntos discutirem as transformações que a mobilidade urbana. O resultado dessa união de esforços foi compilado num book que, além de analisar os pontos abordados nas discussões, propõe medidas práticas para que pedestres, ciclistas e motociclistas transitem de forma mais segura pelas ruas. Levamos esse arrazoado a Brasília (DF) e aos Legislativos paulista e federal para que conheçam a contribuição coletiva resultante desse evento e possam adotar medidas em todos os sentidos da mobilidade: educação, fiscalização e engenharia.

Como o senhor avalia as parcerias firmadas com o Sindseg SP e com o setor segurador?

São parcerias já consolidadas, que lançam foco em questões nem sempre discutidas amplamente. Recentemente divulgamos dentro do espaço do Sindseg SP estudo que apontou a efetividade da Lei Seca em nosso país, quando a lei completou dez anos. Isso só reforça o compromisso que temos pelo trânsito seguro.

Quais são os projetos em que o Observatório tem atuado?

Um dos principais projetos do Observatório é colocar o Programa EDUCA na grade curricular do ensino fundamental. Disponível na plataforma do Ministério da Educação (MEC), o conteúdo do Programa Educa, desenvolvido pelo Observatório, contempla o Ensino Fundamental I e II e está disponível para download. Ao todo, são nove livros para o aluno e nove para o professor, além do livro de apresentação e de referencial teórico. O conteúdo prevê a inclusão da Educação para o Trânsito de acordo com as disciplinas e áreas de conhecimento do Ensino Fundamental. E já estamos preparando o próximo seminário de Mobilidade Humana, Segura e Sustentável e convidamos todos a participarem. Vamos propor debate sobre o cenário atual das vias e rodovias brasileiras com o viés da segurança viária e promover ampla discussão entre os representantes dos setores públicos e privados responsáveis por concessão, projeto, financiamento, auditoria, usuários e fiscalização. O Seminário de Mobilidade Humana, Segura e Sustentável – Rodovias que perdoam será realizado no dia 12 de setembro pelo Observatório Nacional de Segurança Viária. Desta vez, o evento acontece em Brasília (DF).