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Marcio Serôa de Araujo Coriolano
Marcio Serôa de Araujo Coriolano

Presidente da CNseg

Presidente da CNseg prevê crescimento do mercado de seguros de até 8,6% em 2018

A expectativa é que 2018 deverá ser um ano melhor que os anteriores, considerando-se os benefícios esperados a partir de uma taxa maior de crescimento econômico, de inflação perto do centro da meta, de juros na casa de um dígito.
05/01/2018

Como foi o ano de 2017 para as seguradoras? Como o segmento foi impactado pela crise econômica neste ano?

Não fosse o efeito calendário, poderíamos dizer que 2017 foi uma extensão melhorada de 2015 ou 2016 no plano macroeconômico, com impactos variados entre as carteiras de seguros. Contudo, alguns sinais vitais, como inflação baixa, queda dos juros, aumento da renda média, inflexão discreta da alta taxa de desemprego, ainda na casa de dois dígitos, aprovação de parte das reformas estruturantes, como a modernização trabalhista, contribuíram para explicar os melhores indicadores da atividade econômica. Assim, ainda que a taxa do PIB caminhe para fechar o ano entre 0,5% e 1% positivo - um crescimento pífio, mas um alento se olharmos para os dois anos imediatamente anteriores -, esta reação é importante para mexer nos indicadores de confiança, gerando uma percepção mais positiva dos agentes econômicos e dos consumidores sobre a conjuntura e perspectiva de futuro. Isso traz consequências importantes, como retomada gradual de investimentos, do consumo, das contratações de pessoas, de serviços, fazendo girar a roda da economia. Não foi o melhor dos mundos, mostram os números do mercado. Mas foi o resultado possível para um exercício em que algumas das principais atividades econômicas ainda tentam se recuperar da profunda recessão em que mergulharam a partir do segundo semestre de 2014, a exemplo da construção civil, financiamento imobiliário, indústria automobilística, indústria de petróleo, infraestrutura, reverberando desaceleração, estagnação ou queda para diversos outros segmentos da economia, inclusive o seguro, que não é uma ilha isolada e sente as mudanças das marés econômicas. Por exemplo, como a safra agrícola bateu recorde de produção de grãos neste ano, a carteira de riscos rurais subiu 13% até setembro, ao passo que, seguindo a conjuntura mais adversa, outras tiveram desaceleração ou queda. Há outros casos, como alguma recuperação do crédito, com efeitos benéfico sobre os ramos de crédito e garantias, e o efeito da volatilidade do mercado de ativos sobre os planos de previdência VGBL e PGBL. Pelo menos, o mercado de seguros conseguiu permanecer resiliente e caminha para mais um ano de crescimento nominal positivo, algo entre 6% e 7,7%, talvez até mais, dependendo do desempenho do VGBL e PGBL no último trimestre.

Quais foram as principais conquistas neste ano?

Para o mercado segurador, o fato de constar entre os segmentos que mais resistiram à crise já é uma notícia gratificante, inicialmente. E estar entre os setores mais sólidos, sem nenhuma evidência de perda de solvência, ratifica o papel estratégico que o seguro pode cumprir na economia. Não só mitiga os riscos daqueles que contratam seguros, protegendo pessoas, seu patrimônio e negócios, sobretudo em períodos recessivos, quando a retomada se torna mais difícil. Além de suportar desembolsos bilionários via resgates, benefícios ou sinistros pagos – mais de R$ 95 bilhões acumulados até setembro, segundo números da SUSEP, excluindo-se Saúde Suplementar – algo que contribuiu para frear o ritmo de queda da atividade econômica, pudemos disponibilizar nossa poupança em prol da retomada. São mais de um trilhão de ativos garantidores ou recursos próprios movimentados pelo mercado e disponíveis para fazer a economia girar. Mesmo sem ainda estar entre os setores que constam da política econômica do governo, algo fundamental para tornar a economia mais resistente ao ciclo de baixa e mais célere na retomada, o seguro já cumpre um papel de destaque e pode ir além, se estimulado adequadamente. Não é por acaso que as economias onde o seguro é consolidado recuperaram-se mais rapidamente. Ao longo de 2017, este mantra de que o mercado de seguros deve ocupar um papel de destaque na política econômica do governo foi repetido à exaustão, e nossa percepção é de que começamos, finalmente, a ser levados a sério.

Quais foram as principais realizações da CNseg em 2017?

As diretrizes da Carta de Ipanema da CNseg continuaram a ser a bússola e a inspiração de nossa diretoria executiva no campo institucional. A Carta de Ipanema é um documento que reúne as ações institucionais que devem ser materializadas no triênio 2016/2019 pela atual gestão. Engloba iniciativas das mais variadas, como coordenar ações político institucionais, representar o segmento perante o governo, a sociedade e entidades nacionais e internacionais do mercado segurador; debater o aperfeiçoamento da agenda regulatória, tornando-a mais suave diante do atual ambiente de dificuldades econômicas e em favor expansão da atividade; disseminar conhecimento e educação em seguros; estimular as boas práticas; melhorar a interlocução com poderes constituídos, com os órgãos reguladores e de defesa dos consumidores, prestar serviços cada vez mais qualificados para os associados... Enfim, todas as nossas ações institucionais, agora sob o guarda-chuva do Programa de Educação em Seguros – eventos, publicação de livretos, criação de uma rádio na internet, participação em debates, canal no YouTube, Facebook e Linkedin – focaram algumas dessas diretrizes. E, em cada um desses capítulos, tivemos avanços importantes, o que torna nossa avaliação do ano positiva. Uma vertente explícita é ampliar e aprofundar a comunicação da importância econômica do mercado de seguros. A criação de boletim de conjuntura, denominado Carta de Seguros, integra essa diretriz, para nos colocarmos junto a autoridades econômicas e analistas setoriais como um interlocutor à altura. Do ponto de vista mais prático, o da regulação setorial, a CNseg, por meio de suas Federações,  teve papel decisivo na discussão de produtos destravados pela SUSEP em 2017, como o seguro de auto popular, seguro de vida universal, revisão normativa do PGBL e VGBL, apenas para citar alguns.

Quais são as perspectivas para 2018, considerando-se um cenário de retomada da economia que se desenhou no final de 2017?

Inicialmente, será um ano melhor que os anteriores, tendo em vista os benefícios que trazem a maior taxa de crescimento econômico, estimada em 2,5% pela pesquisa Focus do Banco Central, de inflação perto do centro da meta, de juros na casa de um dígito. A trajetória de continuidade de recuperação do emprego gera um cenário mais positivo para os seguros massificados. Mas muitas variáveis vão definir o rumo do mercado, razão pela qual nossa estimativa é de que o crescimento de seguros oscile de piso de 7,2% ao teto de 8,6% no próximo ano. Certamente, fará a diferença a aprovação das reformas que o Brasil precisa – previdenciária, tributária – e, tão importante quanto, as reformas microeconômicas, como desburocratização, desjudicialização e alívio da regulação governamental, porque o formato atual tem infligido custos de transação ao nosso setor de maneira importante.