
Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
AQUI TAMBÉM TEM PROBLEMAS
O mundo está de ponta cabeça. 20 de Outubro de 2023O mundo está de ponta cabeça. A guerra no Oriente Médio tirou a guerra da
Ucrânia da mídia. As mudanças climáticas devastam enormes regiões ao redor do
planeta. Novas pandemias, mais terríveis do que a do coronavírus, são esperadas
a qualquer momento. Milhões de pessoas estão ameaçadas pela forme e os
movimentos de migração dos refugiados, principalmente da África, ameaçam a
estabilidade dos países europeus. A falta de grandes líderes neste momento
dramático complica tudo que já está ruim e por aí vamos, numa sucessão de
notícias que, por serem internacionais, ou globais, escondem o sol e dão a sensação
de que por aqui está tudo bem. Só que não é bem assim.
É verdade, a inflação está no rumo da meta, os juros estão caindo, o
desemprego está em seu nível mais baixo em muitos anos e o Brasil está
recuperando seu protagonismo internacional. Não há dúvida, são todas boas
notícias. Mas toda moeda tem pelo menos dois lados e o outro lado da moeda
brasileira não é tão bonito.
A violência, o crime organizado, o tráfico de drogas e outras mazelas no
campo da segurança pública nos colocam numa situação no mínimo apavorante. Para
dar uma noção do quadro, não seria necessário colocar no texto o desaparecimento
de mais de vinte metralhadoras do Arsenal de Guerra do Exército Brasileiro, em
São Paulo. Mas a notícia é tão inusitada que não tem como não a incluir. Mais
de vinte metralhadoras, das quais treze calibre ponto cinquenta, quer dizer,
armas pesadas, foram furtadas de um quartel do Exército!
Diante disso, o número absurdo de furtos e roubos de celulares vira
fumaça para a mídia, mas não é irrelevante para as milhares de vítimas desses
delitos, até porque os aparelhos custam caro e, além disso, parte dos crimes é
cometida para acessar os seus dados bancários e sacar o dinheiro depositado nas
contas correntes.
Mas há mais. Um número alto de automóveis é diariamente furtado ou
roubado em todas as regiões do país. E, proporcionalmente, o roubo ou furto de
motos é ainda maior. Como se não bastasse, os assaltos a residências atingem
patamares impressionantes, com casas e apartamentos democraticamente integrando
a lista dos imóveis visitados pelos criminosos. A evolução do crime pode ser
facilmente constatada em bairros como Alto de Pinheiros e Butantã, onde o
número de residências assaltadas está em patamares muito altos.
A lista está incompleta e não precisa ser engrossada com o número de
pessoas mortas ou feridas nas mais diferentes situações. O incrível no quadro é
que, apesar da situação ser diariamente retratada na imprensa, acompanhada de
comunicados do governo a respeito de suas ações para modificá-la, a população
não confia nas autoridades de segurança pública e o que se vê é o aumento de
guardas particulares se espalhando pelos bairros.
Evidentemente, esta realidade impacta diretamente o negócio do seguro.
Nem teria como ser diferente: o aumento da criminalidade, quer dizer, o aumento
das indenizações, o que significa a piora dos resultados das seguradoras. Enquanto o cenário não mudar, com a queda dos
índices da criminalidade, não há o que fazer. Os seguros custarão caro porque é
a única forma de se manter o equilíbrio das carteiras.