
Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
34 TANTO LÁ, COMO CÁ
O Estado de S. Paulo do dia 22 de maio trouxe uma matéria muito interessante sobre a realidade do mercado de automóveis novos nos Estados Unidos. 26 de Maio de 2023O Estado de S. Paulo do dia 22 de maio trouxe uma matéria muito
interessante sobre a realidade do mercado de automóveis novos nos Estados
Unidos. O primeiro aspecto que deve ser ressaltado é a semelhança entre o que acontece
lá e o que acontece aqui e que tem, inclusive, levado o governo a pretender
ressuscitar o velho e bom carro popular, quase que numa repetição do “Fusca do
Itamar”, que na época não girou e que hoje tem menos chances ainda de dar
certo.
Não há milagre debaixo do sol ou, se há, é mais complicado do que
pretender baixar o preço, facilitando a comercialização, seja através de
vantagens para as montadoras, seja reduzindo os impostos sobre o bem, o que
onera a sociedade.
O que enfraquece essa política é que tanto faz se aqui, nos Estados
Unidos ou na maioria dos países do mundo os veículos zero quilômetros estão
custando mais caro, basicamente pela mesma razão: fabricá-los está custando
mais caro.
O preço médio de um automóvel nos Estados Unidos em 2022 foi de 48 mil
dólares. Quase 200 mil reais. Muito mais caro do que o preço do veículo médio
brasileiro. Essa realidade está afastando do carro zero inclusive compradores
com boa situação financeira, empregos bem remunerados e uma baixíssima taxa de
desemprego, o que lhes daria a certeza do emprego por um período suficiente
para pagar as prestações.
Acontece que os juros também subiram e a prestação média de um carro zero
quilômetro saltou de 630 para mais de 700 dólares por mês. É uma despesa pesada
para a classe média baixa e completa o círculo de dificuldades para a compra de
carros zero quilômetros no paraíso do automóvel.
O que aconteceu é que a indústria decidiu investir em carros mais caros,
tanto que, dos 4 modelos na casa dos 20 mil dólares, comercializados até pouco
tempo atrás, agora sobraram apenas 2. E não há nada que indique que novos carros
nessa faixa de preço estejam nos planos das montadoras.
O resultado é que as montadoras americanas, em 2022, na comparação com
2019, fabricaram um número significativamente menor de veículos (13 milhões
contra 17 milhões), mas tiveram um faturamento 15 bilhões de dólares maior, ou
seja, melhoraram os seus resultados.
Se houvesse mais veículos na casa dos 20 mil dólares e juros mais baratos,
provavelmente haveria mercado para eles, mas os americanos estão preferindo
carros mais sofisticados, especialmente os SUVs, e é nesse segmento que a
indústria está investindo.
Guardadas as proporções, o que se vê no Brasil é bastante parecido. Nós
também temos apenas 2 modelos na faixa de entrada e os compradores também estão
preferindo os SUVs, ainda que a maioria custe mais de 100 mil reais, o que
limita o número de interessados potenciais.
Seja como for, o cenário atual tem impacto no seguro de veículos. Tanto
lá como aqui deve haver o aumento do preço médio do seguro de veículos, da
mesma forma que deve acontecer o aumento do valor médio das indenizações pagas.
Afinal, os seguros de bens mais caros custam mais caro e a regra também vale
para as indenizações.