Antonio Penteado Mendonça
Antonio Penteado Mendonça

Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras

TRÊS PEDRAS NO CAMINHO DO SEGURO DE AUTOMÓVEIS

“No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho.” 12 de Maio de 2023

“No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho.” Se uma única pedra no meio de um caminho se transformou num dos clássicos da poesia moderna brasileira, o que dizer de três pedras de bom tamanho no caminho de uma atividade econômica?

Carlos Drummond de Andrade transformou sua pedra em verso e deu dimensão maior a ela e às suas consequências poéticas. Agora, as seguradoras têm diante si três grandes pedras capazes de fazê-las tropeçar, mas precisam tocar em frente e dar a elas soluções econômicas que mantenham seu negócio viável e, ao mesmo tempo, não onerem ou prejudiquem o segurado.  

A primeira pedra é grande: a frota de veículos brasileira está envelhecendo. As últimas estatísticas apontam uma idade média de onze anos, o que é muito, pelo menos para o desenho do seguro de veículos tradicionalmente comercializado no país.

É preciso lembrar que o seguro brasileiro é essencialmente um seguro para a classe média e que, até recentemente, a classe média trocava de carro a cada dois ou três anos. Essa fase acabou faz um certo tempo. O que não estava no radar é a velocidade com que a frota está envelhecendo, numa clara demonstração de que a classe média não faz mais questão de ter o carro último tipo.

As consequências para o seguro são sérias. Em primeiro lugar, há a queda proporcional da contratação de seguros para veículos zero quilômetros, naturalmente os mais caros, em favor do crescimento dos seguros para carros usados, com prêmios mais baratos, mas não necessariamente com custos de conserto também mais em conta. Em segundo lugar, a maioria dos proprietários de veículos mais velhos não contrata seguro e isso tem impacto no faturamento da carteira.

A segunda pedra é o número de veículos roubados ou furtados. Há uma explosão de casos dessa natureza e isso tem impacto nas contas das seguradoras porque as perdas totais estão onerando significativamente a conta das indenizações, tanto dos veículos novos como dos usados. Para dar ideia da ordem de grandeza do problema, apenas no Estado de São Paulo, em 2022, foram roubados 133.423 veículos, entre automóveis, comerciais leves e motos.  E neste ano a situação segue na mesma toada.

A terceira pedra é o aumento do número de acidentes de trânsito. Na Capital de São Paulo, apenas no primeiro trimestre deste ano, aconteceram 3.745 acidentes sem vítimas. Quer dizer, incluindo os acidentes mais graves, esse número é maior.

A solução clássica para reequilibrar o resultado de uma carteira deficitária é o aumento do preço do seguro, repartindo entre os segurados o montante necessário para o mútuo voltar a ser suficiente para fazer frente às indenizações e demais custos da seguradora.

O problema é que o Brasil vive uma crise mais ou menos contínua desde 2014 e a população tem pago um preço elevado por conta dela. O reflexo é a quantidade de pessoas em condição de rua, desempregados e redução da renda da classe média. Desta vez, só aumentar o preço não será possível. As seguradoras terão que ser mais criativas.