
Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
TRÊS PEDRAS NO CAMINHO DO SEGURO DE AUTOMÓVEIS
“No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho.” 12 de Maio de 2023“No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho.”
Se uma única pedra no meio de um caminho se transformou num dos clássicos da
poesia moderna brasileira, o que dizer de três pedras de bom tamanho no caminho
de uma atividade econômica?
Carlos Drummond de Andrade transformou sua pedra em verso e deu dimensão
maior a ela e às suas consequências poéticas. Agora, as seguradoras têm diante
si três grandes pedras capazes de fazê-las tropeçar, mas precisam tocar em
frente e dar a elas soluções econômicas que mantenham seu negócio viável e, ao
mesmo tempo, não onerem ou prejudiquem o segurado.
A primeira pedra é grande: a frota de veículos brasileira está
envelhecendo. As últimas estatísticas apontam uma idade média de onze anos, o
que é muito, pelo menos para o desenho do seguro de veículos tradicionalmente
comercializado no país.
É preciso lembrar que o seguro brasileiro é essencialmente um seguro para
a classe média e que, até recentemente, a classe média trocava de carro a cada
dois ou três anos. Essa fase acabou faz um certo tempo. O que não estava no
radar é a velocidade com que a frota está envelhecendo, numa clara demonstração
de que a classe média não faz mais questão de ter o carro último tipo.
As consequências para o seguro são sérias. Em primeiro lugar, há a queda
proporcional da contratação de seguros para veículos zero quilômetros,
naturalmente os mais caros, em favor do crescimento dos seguros para carros
usados, com prêmios mais baratos, mas não necessariamente com custos de
conserto também mais em conta. Em segundo lugar, a maioria dos proprietários de
veículos mais velhos não contrata seguro e isso tem impacto no faturamento da
carteira.
A segunda pedra é o número de veículos roubados ou furtados. Há uma
explosão de casos dessa natureza e isso tem impacto nas contas das seguradoras
porque as perdas totais estão onerando significativamente a conta das
indenizações, tanto dos veículos novos como dos usados. Para dar ideia da ordem
de grandeza do problema, apenas no Estado de São Paulo, em 2022, foram roubados
133.423 veículos, entre automóveis, comerciais leves e motos.
E neste ano a situação segue na
mesma toada.
A terceira pedra é o aumento do número de acidentes de trânsito. Na
Capital de São Paulo, apenas no primeiro trimestre deste ano, aconteceram 3.745
acidentes sem vítimas. Quer dizer, incluindo os acidentes mais graves, esse
número é maior.
A solução clássica para reequilibrar o resultado de uma carteira
deficitária é o aumento do preço do seguro, repartindo entre os segurados o
montante necessário para o mútuo voltar a ser suficiente para fazer frente às
indenizações e demais custos da seguradora.
O problema é que o Brasil vive uma crise mais ou menos contínua desde
2014 e a população tem pago um preço elevado por conta dela. O reflexo é a
quantidade de pessoas em condição de rua, desempregados e redução da renda da
classe média. Desta vez, só aumentar o preço não será possível. As seguradoras
terão que ser mais criativas.