Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
“PÓLICRISE”
A palavra do momento na atividade seguradora internacional é “pólicrise”. 27 de Janeiro de 2023 A palavra do momento na atividade
seguradora internacional é “pólicrise”. Uma palavra nova, que se aplica ao
momento que o mundo passa, pelo menos na visão de um dos grandes grupos seguradores,
que criou o termo para definir a nova realidade global onde uma série de crises
diferentes e em teoria distantes umas das outras, de verdade, estão muito mais
próximas e, em conjunto, têm impacto profundo no que acontece no todo, criando
o palco para um tusunami gigantesco, não pelo primeiro impacto, não através de
uma onda devastadora, mas através de uma longa sequência de ondas sucessivas,
que continuarão entrando continente a dentro por um longo tempo.
Se isoladas estas crises já teriam capacidade para gerar perdas vultosas,
em conjunto e acontecendo simultaneamente, elas potencializam os prejuízos, com
a agravante de terem abrangência global, gerando, concomitantemente, danos a
pessoas e patrimônios ao redor do planeta.
Como as crises estão interligadas, a ocorrência de um único evento,
limitado a uma região geográfica, tem o condão de desencadear uma série de
outros eventos, com origem em outras crises, que se alastram pelas nações como
ondas concêntricas, irradiando suas consequências para novas áreas já afetadas
por outras crises, que, de novo, se somam, ganham força e se espalham, num
movimento contínuo que se autoalimenta e segue em frente, aumentando a
frequência e a violência dos eventos, que deixa de ser gerada por uma
determinada crise específica para engrossar o caldo da “pólicrise”, que gera
mais potência destruidora pela soma constante das diferentes crises que se
abatem sobre a terra.
Em outras palavras, na “pólicrise” a soma das diferentes crises cria um
caudal que engrossa permanentemente ao longo de seu percurso, alimentado pelas diferentes
crises localizadas ao redor do planeta e que vão desaguar na corrente maior,
que envolve toda a humanidade e, por óbvio, tem impacto direto e catastrófico
sobre a economia e a atividade empresarial, acertando de frente o setor de
seguros.
Como principais componentes da “pólicrise” temos uma série de eventos que
ao longo dos últimos anos, um com origem independente do outro, foram tomando
de assalto o cotidiano dos oito bilhões de seres humanos que habitam na terra.
Apenas por uma questão cronológica, inauguro o rol destes eventos com as
mudanças climáticas. É bom lembrar que no ritmo em que elas acontecem, são
também os eventos com maior capacidade de causar danos de todas as naturezas,
como a possibilidade concreta de submergir grandes áreas urbanas situadas a
beira mar.
Mas além delas, a pandemia do coronavírus, que se recusa a acabar,
mostrou a nossa fragilidade diante de crises sanitárias e a vulnerabilidade das
sociedades expostas a elas. E ela foi só a primeira.
Para quem quer mais, a guerra da Ucrânia, com fim cada vez mais distante;
a crise migratória que expõe milhões de pessoas as crises anteriores; a
inflação e a crise de desenvolvimento que atinge o mundo em geral e a Europa em
particular não podem mais ser tratadas independentemente uma das outras. A “pólicrise”
é isso e nós já estamos convivendo com ela.