
Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
FUTUROLOGIA COM CÉU NUBLADO
O que vai acontecer em 2023? Está tão complexo que é capaz de nem Deus saber 06 de Janeiro de 2023Os antigos adivinhos liam o futuro no movimento dos astros, no brilho do
sol, na passagem das nuvens, no voo das aves, enfim, nas mais diversas
manifestações naturais, corriqueiras ou não. Tinham o dom de interpretar o
significado de uma águia atacando uma pomba em pleno voo ou do sangue
escorrendo do pescoço de uma corsa. Hoje é mais complicado, se bem que o
Oráculo de Delfos seguiria fazendo enorme sucesso, como o provam cartomantes,
quiromantes, videntes e adivinhos de todos os gêneros que, especialmente nesta
época do ano, ponteiam poderosos na mídia em geral.
O que vai acontecer em 2023? Está tão complexo que é capaz de nem Deus
saber. O céu está nublado, os ventos não permitem o voo das aves, as gazelas
não podem ser caçadas e os sinais são contraditórios em todas as partes do
planeta. A maior e mais sólida democracia está ameaçada por forças que a
devoram por dentro, a Grã-Bretanha se meteu num enrosco complicado, a União
Europeia tem que administrar os efeitos da guerra da Ucrânia, a China vê o
coronavírus disparar, o crescimento global não deve ser alto, petróleo e gás
são duas incógnitas e aqui começou um novo governo, com um rombo que ninguém
sabe bem o tamanho, mas que parece ser bem maior do que esperado.
Ano novo, governo novo, mas as preocupações seguem sendo as mesmas que
nas últimas décadas assustam o país, todas as vezes que um novo governo se
instala no poder.
O novo governo tem tudo para dar certo, começando pela vontade de baixar
o fogo de boa parte da nação. Mas seus primeiros movimentos foram na direção
contrária, como se quisesse manter a polarização acesa e a vingança como arma.
Como se não bastasse, os sinais para a economia são negativos e assustaram o
mercado, primeiro, pelas nomeações para postos chave e, depois, pelas cabeçadas
entre integrantes do ministério recém-formado.
O setor de seguros foi pego de surpresa pela demissão do superintendente
e dos integrantes da diretoria da SUSEP (Superintendência de Seguros Privados)
no primeiro dia do novo governo. O mais grave é que a medida - que
evidentemente não foi gestada nas 24 horas anteriores à posse - foi tão mal
redigida que o órgão ficou acéfalo e o governo precisou reconvocar um dos
diretores demitidos para assumir interinamente a autarquia.
Importante salientar que a diretoria de Alexandre Camillo vinha fazendo
uma boa gestão e deixa a SUSEP no rumo certo, com uma série de medidas já
implementadas e outras em andamento. Não tem cabimento, por política, se
interferir para atrapalhar o desenvolvimento de uma atividade que tem reservas
na casa de mais de um trilhão e seiscentos bilhões de reais.
Isto pode acontecer e seria um desastre. Mas esta ameaça nós podemos
controlar. É só o governo permitir que a SUSEP siga no que vinha fazendo. Muito
mais complexas são as ameaças que não dependem de nós. Tanto as externas, como
as internas, que passam pelo afrouxamento da responsabilidade fiscal, aumento
da inflação e mais uma série de ações que já deram errado no passado e que
seguirão dando errado no futuro.
Fazer futurologia com céu nublado é muito complicado.