Antonio Penteado Mendonça
Antonio Penteado Mendonça

Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras

FUTUROLOGIA COM CÉU NUBLADO

O que vai acontecer em 2023? Está tão complexo que é capaz de nem Deus saber 06 de Janeiro de 2023

Os antigos adivinhos liam o futuro no movimento dos astros, no brilho do sol, na passagem das nuvens, no voo das aves, enfim, nas mais diversas manifestações naturais, corriqueiras ou não. Tinham o dom de interpretar o significado de uma águia atacando uma pomba em pleno voo ou do sangue escorrendo do pescoço de uma corsa. Hoje é mais complicado, se bem que o Oráculo de Delfos seguiria fazendo enorme sucesso, como o provam cartomantes, quiromantes, videntes e adivinhos de todos os gêneros que, especialmente nesta época do ano, ponteiam poderosos na mídia em geral.

O que vai acontecer em 2023? Está tão complexo que é capaz de nem Deus saber. O céu está nublado, os ventos não permitem o voo das aves, as gazelas não podem ser caçadas e os sinais são contraditórios em todas as partes do planeta. A maior e mais sólida democracia está ameaçada por forças que a devoram por dentro, a Grã-Bretanha se meteu num enrosco complicado, a União Europeia tem que administrar os efeitos da guerra da Ucrânia, a China vê o coronavírus disparar, o crescimento global não deve ser alto, petróleo e gás são duas incógnitas e aqui começou um novo governo, com um rombo que ninguém sabe bem o tamanho, mas que parece ser bem maior do que esperado.

Ano novo, governo novo, mas as preocupações seguem sendo as mesmas que nas últimas décadas assustam o país, todas as vezes que um novo governo se instala no poder.

O novo governo tem tudo para dar certo, começando pela vontade de baixar o fogo de boa parte da nação. Mas seus primeiros movimentos foram na direção contrária, como se quisesse manter a polarização acesa e a vingança como arma. Como se não bastasse, os sinais para a economia são negativos e assustaram o mercado, primeiro, pelas nomeações para postos chave e, depois, pelas cabeçadas entre integrantes do ministério recém-formado.

O setor de seguros foi pego de surpresa pela demissão do superintendente e dos integrantes da diretoria da SUSEP (Superintendência de Seguros Privados) no primeiro dia do novo governo. O mais grave é que a medida - que evidentemente não foi gestada nas 24 horas anteriores à posse - foi tão mal redigida que o órgão ficou acéfalo e o governo precisou reconvocar um dos diretores demitidos para assumir interinamente a autarquia.

Importante salientar que a diretoria de Alexandre Camillo vinha fazendo uma boa gestão e deixa a SUSEP no rumo certo, com uma série de medidas já implementadas e outras em andamento. Não tem cabimento, por política, se interferir para atrapalhar o desenvolvimento de uma atividade que tem reservas na casa de mais de um trilhão e seiscentos bilhões de reais.

Isto pode acontecer e seria um desastre. Mas esta ameaça nós podemos controlar. É só o governo permitir que a SUSEP siga no que vinha fazendo. Muito mais complexas são as ameaças que não dependem de nós. Tanto as externas, como as internas, que passam pelo afrouxamento da responsabilidade fiscal, aumento da inflação e mais uma série de ações que já deram errado no passado e que seguirão dando errado no futuro.

Fazer futurologia com céu nublado é muito complicado.