
Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
SEGURO É PARA TER E NÃO USAR
O seguro é a mais eficiente ferramenta de proteção social desenvolvida pelo ser humano. 23 de Dezembro de 2022O seguro é a mais eficiente ferramenta de proteção social desenvolvida
pelo ser humano. Há mais ou menos quatro mil anos as sociedades se servem de ferramentas
semelhantes aos seguros modernos para minimizar os prejuízos que afetam seus
membros. A base da operação é o mutualismo, ou a constituição de um fundo,
composto pela participação proporcional de cada um dentro do risco global, para
fazer frente às perdas que afetam alguns de seus integrantes.
Para chegar nos valores e condições de suas operações, as seguradoras se
valem da estatística e de cálculos matemáticos que definem os patamares
necessários para a precificação de seu negócio, levando em conta as tipicidades
de cada carteira.
O cálculo da sinistralidade e do prêmio de um seguro de veículos é diferente
do mesmo cálculo para um seguro de vida. O risco não é o mesmo, as variáveis
não são as mesmas, os impactos internos e externos também não são os mesmos,
então não é possível, com base na tarifação de veículos, se chegar
matematicamente ao prêmio de um seguro de vida. E vice-versa.
Em seguro, o detalhe faz diferença. A seguradora pode ter uma surpresa se
se basear apenas nos grandes números, sem levar em conta, por exemplo, o local
onde pretende atuar e as tipicidade dos riscos que vai assumir. É o caso de um
seguro rural comercializado no Rio Grande do Sul e o mesmo produto oferecido no
Tocantins. São seguros da mesma carteira, mas suas tipicidades os fazem não
serem iguais.
Para o segurado, o seguro é uma ferramenta importante para preservar seu
patrimônio e sua capacidade de atuação. O seguro não impede a ocorrência do
dano. A seguradora também não assume os riscos do segurado. Não tem como a
seguradora morrer no lugar do segurado, da mesma forma que a seguradora não
pode bater seu carro no lugar do carro do segurado. O que a seguradora faz é
assumir a obrigação de indenizar os prejuízos decorrentes de eventos previstos
no contrato, que causem prejuízo econômico ao segurado.
Assim, a melhor coisa que pode acontecer para o segurado é não ser vítima
de um dos eventos previstos no seu contrato de seguro e não sofrer prejuízo
decorrente dele, nem precisar solicitar à sua seguradora o pagamento da
indenização dos danos.
Seguro foi feito para não ser usado. É exatamente esta máxima que permite
ao mútuo fazer frente aos sinistros de uma seguradora. Só uma minoria de
segurados é atingida pelos eventos cobertos, o que faz com que a seguradora
possa cobrar muito menos do que o valor do bem a ser reposto. Se todos os segurados perdessem todos os objetos segurados
a seguradora teria que cobrar mais de 120% do valor em risco para fazer
frente aos sinistros e custear sua operação. Mas isso, estatisticamente, não
acontece.
Então, que em 2023 você continue contratando seus seguros para proteger
seu patrimônio e sua capacidade de atuação, mas que você não precise usá-los.