
Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
JURO ALTO E SEGURO
As seguradoras agradecem penhoradamente ao Banco Central por manter o juro básico acima de 13%. Juro alto é ruim para a economia, mas é a maneira clássica de se conter a inflação e é isso que o Banco Central está fazendo. 04 de Novembro de 2022As seguradoras agradecem penhoradamente ao Banco Central por manter o
juro básico acima de 13%. Juro alto é ruim para a economia, mas é a maneira
clássica de se conter a inflação e é isso que o Banco Central está fazendo.
Como o futuro não está claro, tanto no mundo, como no Brasil, a
autoridade monetária optou pela manutenção do juro básico em patamar com
gordura para dar a tranquilidade necessária ao país, num momento em que as
coisas vão mal nas nações desenvolvidas, ameaçadas pela inflação mais alta dos
últimos quarenta anos, pelas consequências da guerra da Ucrânia e pela recessão
que pesa sobre elas. Só que o quadro pode ser mais severo e pode começar a
fazer água por aqui, conforme os indicadores mais recentes apontam que já está
acontecendo.
O maior problema dos juros altos é que eles tolhem a capacidade de desenvolvimento,
em primeiro lugar, pelo custo do financiamento das empresas e, em segundo,
porque as famílias preferem manter seus recursos aplicados com boas taxas de
remuneração a gastar com produtos de consumo. Essas premissas fazem com que o
juro alto seja ruim para a nação como um todo e, consequentemente, ele também é
ruim para o setor de seguros, na medida em que o esfriamento da economia
restringe a capacidade de contratação de novas apólices.
Mas a atividade seguradora tem uma particularidade que faz com que os
juros altos alavanquem o resultado das seguradoras. O princípio básico da
atividade é o mutualismo. Através dele as companhias de seguros são enormes
cofres, cheias de dinheiro, representado pelos prêmios pagos, com os quais
constituem o fundo de onde sacam os recursos para custear sua operação e fazer
frente aos sinistros.
Esses recursos são aplicados no mercado financeiro, boa parte deles em
títulos públicos, que são justamente os papéis que remuneram o investimento de
acordo com a taxa básica do Banco Central. Neste momento, há um plus
importante no rendimento dos títulos públicos em relação à inflação do período,
que está em queda em função da adoção de uma série de medidas mais ou menos
demagógicas que, em algum momento no ano que vem, cobrarão sua conta, mas que,
neste momento, propiciam uma remuneração real elevada.
As seguradoras que estão ganhando dinheiro agradecem e as que não estão
tão bem na foto também. As primeiras têm margem para adotarem políticas
comerciais agressivas e baixarem o preço de seus produtos, mantendo a
rentabilidade, e as segundas, com a remuneração elevada da aplicação dos
prêmios, conseguem melhorar resultados não tão bons, inclusive revertendo prejuízos.
O que vai acontecer para frente ainda não está claro, mas com certeza
2023 será um ano complicado para a economia global e para o Brasil. Nós temos,
na visão dos economistas, um quadro preocupante e uma série de incógnitas ainda
não foram respondidas, o que obriga as empresas a serem cautelosas. De qualquer
forma, neste momento, os juros altos são uma benção para as seguradoras.