
Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
NOVOS PARÂMETROS PARA O SEGURO DE VEÍCULOS
A revolução não é tão recente, já faz alguns anos que o setor de veículos está mudando radicalmente. 15 de Julho de 2022A revolução não é tão recente, já faz alguns anos que o setor de veículos
está mudando radicalmente. O primeiro ponto que precisa ser elencado, porque é
dele que vem o maior impacto, é que “ter um carro” deixou de ser o sonho de
consumo da juventude.
Durante décadas, os jovens chegavam aos 18 anos sonhando com seu carro.
Novo ou usado, o importante era ter um carro e, se possível, incrementá-lo,
instalando toda sorte de acessórios para torná-lo exclusivo, mais potente, ou seja
lá o que for, desde que se destacasse na multidão.
E o seguro acompanhava a onda. Como ouvi certa vez da acionista
controladora de uma das maiores seguradoras da época, “o brasileiro prefere
fazer o seguro da máquina que lhe tira a vida (automóvel) do que da própria
vida”. Pasme, mas a carteira de seguros de veículos já foi maior e mais
importante do que os seguros de vida. E até hoje, dependendo da análise, ainda
que não tendo a folga do passado, ele segue em primeiro lugar.
Do começo do século para cá, o automóvel perdeu o status, não é mais o
diferencial que dava relevo ao cidadão. Hoje, ter ou não ter um automóvel é a
mesma coisa ou, dependendo de quem, não ter é mais legal.
Isso levou ao surgimento de outras formas de uso do carro. A primeira foi
a da carona institucional. Se alguém vai para o trabalho por uma determinada
rota, por que ele não pode dar carona para outras pessoas que seguem o mesmo
trajeto?
Depois vieram os veículos compartilhados. Se eu não uso o carro o dia
inteiro, por que não posso compartilhá-lo e só usar quando eu preciso? Vieram
os veículos de aplicativos e a crise acirrou o seu uso, aumentado as frotas com
veículos locados.
Esse é o enorme desafio que as seguradoras têm à frente. Como reinventar
o seguro de veículos para atender as novas necessidades da sociedade? O seguro
tradicional não serve mais, é caro, não cobre o que o segurado quer, não tem
flexibilidade.
Além disso, no mundo novo, quem é o segurado? Se o veículo é
compartilhado, como fazer o cálculo do prêmio se a seguradora não sabe o perfil
de quem vai dirigir? Aliás, para dificultar o trabalho, além de não saber quem
é o motorista, a seguradora também não sabe quanto tempo cada motorista
dirigirá o automóvel, por onde ele vai rodar e onde vai estacioná-lo.
Como se não bastasse, para os próximos anos está prevista a mudança radical
do perfil dos veículos, saltando de combustíveis fósseis para outros mais
limpos que terão impacto sobre o preço de compra, reparos e manutenção. Para
completar, os veículos sem motorista estão cada vez mais próximos.
É um universo completamente diferente do mundo em que as seguradoras
giraram nos últimos noventa anos. Problemas e soluções éticas, econômicas, de
produção e responsabilidades foram completamente subvertidos. O que valia não
vale mais. É um momento de desafios, ou seja, é um momento de oportunidades.