
Sócio de Penteado Mendonça e Char Advocacia e Presidente da Academia Paulista de Letras
O SETOR DE SEGUROS MUDA DE CARA
O setor de seguros no mundo todo é um setor com características próprias, entre as quais a concentração da produção em um número relativamente baixo das seguradoras em operação num determinado mercado é marca registrada. 06 de Maio de 2022O setor de seguros no mundo todo é um setor com características próprias,
entre as quais a concentração da produção em um número relativamente baixo das
seguradoras em operação num determinado mercado é marca registrada. O Brasil
não é exceção. Entre as mais de cento e cinquenta seguradoras registradas no
país, as vinte maiores concentram mais de 80% do faturamento. Mais do que isso,
as cinco maiores concentram mais de 60% do lucro.
É um desenho curioso que tem como explicação as tipicidades de cada
companhia em operação no mercado. As cinco maiores são companhias com
abrangência nacional, companhias que atuam de norte a sul do país, em carteiras
de seguros massificados e de contratação mais ou menos simples, como veículos,
seguros residenciais, seguros empresariais pequenos e médios e seguros de vida
e acidentes pessoais, que as fazem serem as que mais faturam no setor.
Como, pelas características de suas operações, o custo de comercialização
é relativamente barato e os custos administrativos são diluídos entre as várias
despesas do conglomerado financeiro, elas conseguem ter um resultado
operacional mais expressivo, ou seja, um lucro maior.
Entre as mais de cento e cinquenta seguradoras autorizadas a operar no
país, as vinte maiores funcionam a todo o vapor, uma parte das outras ainda não
opera integralmente, outras, durante anos, trabalharam quase que exclusivamente
ligadas ao DPVAT (o seguro obrigatório de veículos), uma parte tem atuação
regional, outras se especializaram em nichos e assim sucessivamente, formando
um mosaico que atende razoavelmente as possibilidades de contratação de seguros
da nação.
O Brasil é um país que tem a classe média como público-alvo da atividade
seguradora. Mas ela é apenas parcialmente atendida. A melhor prova é que menos
de 25% da frota de veículos é segurada e nos seguros residenciais este patamar
não chega a 20%.
A capacidade de crescimento do mercado é imensa e, num mundo onde escala
faz cada dia mais sentido, investidores de diferentes matizes passaram a focar
a atividade como uma nova alternativa de negócios. De outro lado, empresas com
desenho inédito, com forte apoio na tecnologia, começam a surgir, criadas por
empreendedores, muitos deles vindos de outros setores, focando novos negócios
ou novos públicos, a serem atingidos com novos produtos de seguros. E elas
estão conseguindo captar milhões de reais ainda antes de entrarem em operação.
Isso quer dizer que o setor deve sofrer mudanças profundas, tanto nas
seguradoras como nos produtos e canais de distribuição. As novas companhias
chegam com desenhos agressivos, dispostas a criarem um cenário mais eficiente,
simples e direto entre a companhia e o segurado. E elas querem mudar a cara do
mercado. Nem todas terão sucesso, mas várias encontrarão seu lugar e seu
público. Assim, independentemente do tamanho, as companhias tradicionais também
devem fazer a lição de casa e serem criativas para não serem deixadas para
trás.