Mercado sofre com os efeitos dos desastres naturais
Setor sofreu perda de 132 bilhões de dólares com esses sinistros, de acordo com a Aon
Apólice - 15 de Março de 2023Além do aumento dos eventos climáticos extremos, os efeitos das mudanças do clima causam cada vez mais prejuízos. Segundo a versão de 2023 do relatório Weather, Climate and Catastrophe Insight, produzido pela Aon, em 2022 os desastres naturais foram responsáveis por uma perda econômica de 313 bilhões de dólares em todo o mundo. Este montante é 4% maior que a média do século 21.
No Brasil, secas e enchentes ocasionaram prejuízos
superiores a US$ 5 bilhões em 2022. A tragédia no litoral paulista durante o
feriado de Carnaval desse ano foi o episódio mais recente, e um dos setores que
vêm sendo afetados por esses desastres é o mercado de seguros. Só no primeiro
semestre de 2022, as resseguradoras sofreram um prejuízo de R$ 4,6 bilhões com
o seguro rural, segundo dados divulgados pela Susep (Superintendência de
Seguros Privados).
“Acredito que a preocupação com os riscos climáticos ou
provenientes de eventos desta mesma natureza cresce a cada ano e não deve
diminuir nos próximos. Embora o volume de perdas seja muito grande, o mercado
já avalia o potencial de paralisação de negócios intrínseco nos riscos
climáticos. Na minha avaliação, os tomadores de opinião já consideram este um
tema de ordem imediata e que precisa seguir crescendo, em conformidade com seu
potencial”, afirma Thiago Lang, diretor de Verticais de Indústrias, M&A e
soluções em ESG na Aon do Brasil.
O estudo apontou que 2022 foi o quinto ano mais caro para as
seguradoras já registrado. De acordo com o relatório, pouco mais de 42% do
volume de perdas (132 bilhões de dólares) já apresenta algum tipo de ação para
mitigação ou cobertura dos riscos.
“As seguradoras terão de estudar estratégias de atuação por
meio das quais possam minimizar os efeitos de eventos climáticos extremos nos bens
segurados. E isso passa pelo desenvolvimento de tecnologias e processos de
gerenciamento de riscos”, diz Alfredo Lalia Neto, presidente da Sompo Seguros.
Para José Bailone, Chief Underwriting Officer P&C na
Zurich, é fundamental a incorporação ou a melhoria da gestão de riscos dentro
das grandes, médias e pequenas empresas, adotando a contratação de seguros como
uma medida fundamental no planejamento financeiro dessas corporações. “Aqui na
Zurich, oferecemos para os nossos clientes de Riscos Corporativos uma avaliação
com a nossa equipe de Engenharia de Risco do potencial impacto que pode sofrer
determinada planta ou região, considerando cenários de aquecimento global.
Assim, podemos trabalhar quais medidas podemos adotar para evitar prejuízos”.
A falta de ações do Governo para a mitigação dos impactos
das mudanças climáticas também é um desafio. Uma pesquisa do CEUB (Centro
Universitário de Brasília) constatou que apenas 10 capitais brasileiras tratam
dos desastres naturais em seus planos de governança. No mercado de seguros,
seguindo a estratégia de outros reguladores, em 2022 a Susep aprovou a Circular
666, que obriga a adoção de instrumentos para a gestão de riscos ambientais,
sociais e climáticos pelas seguradoras.
“O mercado está em constante evolução e sempre podem surgir
novas soluções que reúnam eficiência e facilidade para as empresas. Hoje,
porém, falando em riscos decorrentes de fatores climáticos, a principal forma
de transferência de risco por meio de apólices segue sendo o seguro
paramétrico. Chamado também de seguro de índice, o dispositivo funciona baseado
na definição de parâmetros para a ocorrência de eventos naturais. É um produto
customizado e suas coberturas podem ser acionadas quando o índice paramétrico
estipulado seja alcançado ou excedido, dentro de uma área pré-estabelecida”,
afirma Lang.
Mais do que a criação de novos produtos e desenvolvimento de
tecnologias, o estabelecimento de mecanismos de segurança financeira, além de
investimentos em projetos de infraestrutura urbana são essenciais. “A velha
máxima do ‘prevenir é melhor do que remediar’ é perfeitamente verdadeira no
contexto de investimentos em estratégias e ferramentas de prevenção e segurança
contra desastres climáticos. Justamente esses investimentos vão evitar perdas
que podem levar muito tempo para serem reparadas ou que não há como serem
reparadas, como no caso da uma vida”, reforça Neto.