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Seguro paramétrico atrai startups

Valor Econômico - 24 de Janeiro de 2023

Lançado há cerca de cinco anos, o seguro rural paramétrico - modalidade em que o valor da apólice baseia-se em parâmetros específicos da área de cobertura, como volume de chuvas, por exemplo - ainda não deslanchou no país. Fontes do setor estimam que apenas seis apólices foram emitidas até hoje. Produtores e seguradoras relatam dificuldade para chegar a um consenso sobre quais parâmetros devem ser respeitados para configurar o pagamento do sinistro.

“É papel do governo dizer quais são esses parâmetros. É só ver a importância jurídica que tem o Zarc”, afirma Lucas Koren, cofundador da agfintech IMBR Agro. Koren faz referência ao Zoneamento Agrícola de Risco Climático, que estabelece critérios que os produtores rurais precisam seguir para ter direito a seguro rural em caso de quebra de safra.

Mesmo com as indefinições, Koren diz que, uma vez que o governo estabeleça as regras do jogo, as agfintechs poderão usar dados para ajudar as seguradoras a equalizar o risco em suas carteiras de crédito rural. “O suprassumo é isso: uma parceria público-privada, com a academia fomentando e avalizando os parâmetros”, defendeu.

A IMBR Agro desenvolveu uma série de critérios para uma corretora calcular o risco de produtores de café, mas o projeto acabou não indo adiante. “Para acionar a indenização automática, é preciso dizer, por exemplo, qual a temperatura mínima em que a planta pode ficar e por quantas horas”, afirma Koren.

Vitor Ozaki, CEO da startup do setor de seguros Piscel, realçou que o governo deve “pavimentar a estrada” para que o setor privado possa avançar. “O Ministério da Agricultura precisa definir o conjunto de regras mínimas. O Inmet [Instituto Nacional de Meteorologia] pode fornecer o índice climatológico, mas tem que ver se há estações meteorológicas suficientes para representar a granularidade do setor”, disse.

A Agência Alemã para Cooperação Internacional (GIZ) está financiando um projeto de seguro paramétrico combinado pela Picsel. A empresa está desenvolvendo um produto específico para a Associação de Mulheres do Café do Norte Pioneiro do Paraná, que reúne pequenas agricultoras. “As apólices que existem hoje são para grandes produtores”, afirmou Ozaki. “Quando você fala em agricultor familiar ou pequeno, depois de três anos de quebra de safra, fica claro que ele precisa de um suporte de gestão de risco muito eficaz. O produtor precisa estar aderente ao que ele precisa”.

O seguro rural paramétrico tende a ganhar mais espaço em um cenário adverso para o modelo tradicional, avalia a agfintech Amana. A empresa lançou recentemente um produto nesse nicho e já fechou a primeira apólice. Outras quatro estão em estágio avançado. As perdas de safra no Brasil nos últimos três anos, causadas principalmente pelo fenômeno La Niña, reduziram o lucro das seguradoras e resseguradoras que atuam no agronegócio. Com isso, proteger a lavoura das intempéries deve ficar mais caro nos próximos anos.

“O mercado de seguro rural tradicional está exausto”, afirma Renato Marques, sócio da Amana. “Os preços das commodities subiram demais, e isso exige mais recursos. A gente sabe que não haverá subvenção do governo para todo mundo”.

A Adama funciona como uma corretora, conectando produtores aos serviços oferecidos por seguradoras - e faz a ponte entre essas empresas e as resseguradoras, que ajudam a diminuir o impacto em anos de grande volume de pagamento de sinistros. A fintech distribui o produto da Kovr, mas mantém conversas com outras companhias para ampliar o portfólio. A Adama desenvolveu um modelo em parceria com a seguradora para agilizar o processo. Assim, da cotação à assinatura da apólice de seguro paramétrico leva um mês.