Seguro paramétrico atrai startups
Lançado há cerca de cinco anos, o seguro rural paramétrico - modalidade em que o valor da apólice baseia-se em parâmetros específicos da área de cobertura, como volume de chuvas, por exemplo - ainda não deslanchou no país. Fontes do setor estimam que apenas seis apólices foram emitidas até hoje. Produtores e seguradoras relatam dificuldade para chegar a um consenso sobre quais parâmetros devem ser respeitados para configurar o pagamento do sinistro.
“É papel do governo dizer quais são esses parâmetros. É só
ver a importância jurídica que tem o Zarc”, afirma Lucas Koren, cofundador da
agfintech IMBR Agro. Koren faz referência ao Zoneamento Agrícola de Risco
Climático, que estabelece critérios que os produtores rurais precisam seguir
para ter direito a seguro rural em caso de quebra de safra.
Mesmo com as indefinições, Koren diz que, uma vez que o
governo estabeleça as regras do jogo, as agfintechs poderão usar dados para
ajudar as seguradoras a equalizar o risco em suas carteiras de crédito rural.
“O suprassumo é isso: uma parceria público-privada, com a academia fomentando e
avalizando os parâmetros”, defendeu.
A IMBR Agro desenvolveu uma série de critérios para uma
corretora calcular o risco de produtores de café, mas o projeto acabou não indo
adiante. “Para acionar a indenização automática, é preciso dizer, por exemplo,
qual a temperatura mínima em que a planta pode ficar e por quantas horas”,
afirma Koren.
Vitor Ozaki, CEO da startup do setor de seguros Piscel,
realçou que o governo deve “pavimentar a estrada” para que o setor privado
possa avançar. “O Ministério da Agricultura precisa definir o conjunto de
regras mínimas. O Inmet [Instituto Nacional de Meteorologia] pode fornecer o
índice climatológico, mas tem que ver se há estações meteorológicas suficientes
para representar a granularidade do setor”, disse.
A Agência Alemã para Cooperação Internacional (GIZ) está
financiando um projeto de seguro paramétrico combinado pela Picsel. A empresa
está desenvolvendo um produto específico para a Associação de Mulheres do Café
do Norte Pioneiro do Paraná, que reúne pequenas agricultoras. “As apólices que
existem hoje são para grandes produtores”, afirmou Ozaki. “Quando você fala em
agricultor familiar ou pequeno, depois de três anos de quebra de safra, fica
claro que ele precisa de um suporte de gestão de risco muito eficaz. O produtor
precisa estar aderente ao que ele precisa”.
O seguro rural paramétrico tende a ganhar mais espaço em um
cenário adverso para o modelo tradicional, avalia a agfintech Amana. A empresa
lançou recentemente um produto nesse nicho e já fechou a primeira apólice.
Outras quatro estão em estágio avançado. As perdas de safra no Brasil nos últimos
três anos, causadas principalmente pelo fenômeno La Niña, reduziram o lucro das
seguradoras e resseguradoras que atuam no agronegócio. Com isso, proteger a
lavoura das intempéries deve ficar mais caro nos próximos anos.
“O mercado de seguro rural tradicional está exausto”, afirma
Renato Marques, sócio da Amana. “Os preços das commodities subiram demais, e
isso exige mais recursos. A gente sabe que não haverá subvenção do governo para
todo mundo”.
A Adama funciona como uma corretora, conectando produtores
aos serviços oferecidos por seguradoras - e faz a ponte entre essas empresas e
as resseguradoras, que ajudam a diminuir o impacto em anos de grande volume de
pagamento de sinistros. A fintech distribui o produto da Kovr, mas mantém
conversas com outras companhias para ampliar o portfólio. A Adama desenvolveu
um modelo em parceria com a seguradora para agilizar o processo. Assim, da
cotação à assinatura da apólice de seguro paramétrico leva um mês.