‘Open insurance’ só terá efeito em 2025
Pesquisa aponta mudança de perspectiva entre executivos do setor sobre ecossistema de dados compartilhados
Valor Econômico - 23 de Janeiro de 2023O setor de seguros se prepara para viver o “open insurance” na prática apenas em 2025. A conclusão faz parte da segunda pesquisa sobre o ambiente de compartilhamento de informações e transações de seguros realizada pela consultoria Capgemini em dezembro do ano passado. Trata-se de um deslocamento de expectativas em um ano para a frente na comparação com o levantamento anterior, realizado em maio do ano passado.
“De maio para cá houve muitas mudanças no projeto, com
alguns marcos sendo alterados”, observa a vice-presidente para Seguros da
Capgemini Brasil, Renata Ramos. A executiva aponta que, no início de 2022, o
setor ainda alimentava muitas dúvidas sobre o processo, sobre o cronograma de
implementação e até mesmo sobre os potenciais efeitos sobre o mercado.
Na visão do líder de soluções para seguros da Capgemini
Brasil, Gustavo Leança, “entre aquele primeiro lançamento de maio e até a
retomada desse segundo estudo, a gente acaba tendo mudanças da própria
diretoria da Susep e, posteriormente, em alguns prazos e definições do
projeto”.
O ex-chefe da Superintendência de Seguros Privados,
Alexandre Camillo, tomou posse em dezembro de 2021 e deixou o posto na primeiro
dia útil de janeiro deste ano. Para seu lugar, foi nomeado interinamente Carlos
Roberto Alves de Queiroz, funcionário de carreira do órgão.
Outra grande mudança no projeto do open insurance ocorreu em
novembro de 2022, com a publicação da resolução 450 do Conselho Nacional de
Seguros Privados (CNSP). A nova norma acrescentou a possibilidade de corretores
de seguros fazerem parte do futuro ecossistema, com atuação dentro da nova
figura criada, a Sociedade Processadora de Ordem do Cliente (Spoc), que
substituiu a Sociedade Iniciadora de Serviços de Seguro (Siss), prevista no
escopo original do programa implementado pela Susep no início de 2021.
A regra atualizada também alterou algumas datas. O início do
compartilhamento de dados dentro do ecossistema foi adiado de dezembro de 2022
para março de 2023. O CNSP ainda alterou o prazo final para implementação do
compartilhamento de dados pessoais de 15 de junho para 15 de setembro deste
ano.
“Um ponto que a gente enxerga é que as expectativas iniciais
acabam se ajustando conforme o tempo passa, porque os agentes percebem que as
mudanças talvez não sejam tão imediatas”, pondera Leança. “A gente não viu só
uma mudança de expectativa que se desloca de 2024 para 2025, como também vimos
que o grupo que considerava que o open insurance não traria impacto aumentou de
3% para 10% na segunda rodada da pesquisa”, destaca o executivo.
O estudo da Capgemini ouviu 78 executivos do mercado de
seguradoras, insurtechs, resseguradoras e provedoras de tecnologia para o
setor. Para a vice-presidente da consultoria, o mercado como um todo está
aprendendo sobre o tema. “Teremos uma visibilidade melhor sobre as mudanças ao
longo do ano”, diz.
A pesquisa identificou ainda as principais visões sobre o
impacto do open insurance, quando estiver em funcionamento pleno no Brasil. De
acordo com o levantamento, 77% dos executivos entendem que novos produtos vão
ser desenvolvidos a partir da implementação do ambiente de compartilhamento de
informações e transações. O documento também indica que quase três quartos dos
entrevistados, ou 73%, apontaram ainda que um dos impactos será estimular a
entrada de novas seguradoras concorrentes. Além disso, 74% preveem que o setor
vai incorporar novos canais de distribuição e haverá maior diversificação na
intermediação.
A percepção dominante da indústria, conforme transparece na
pesquisa, é que o ambiente de compartilhamento terá um forte impacto inclusivo.
Diante do lançamento de novos produtos, com maior customização e preços mais
acessíveis, além de uma jornada digital mais simples, as plataformas tendem a
trazer novos consumidores, ou seja, a base de clientes de seguros provavelmente
vai crescer diante da transformação digital.
“A gente tem ouvido da indústria como principal ganho - e
mais imediato - a questão da customização”, diz o líder de seguros da
Capgemini. “Com o open insurance a seguradora passa a ter volume de dados cada
vez maior, como histórico de pagamento de sinistros e outros”, acrescenta.
A dilatação dos prazos trouxe percepção de maior fôlego para
as seguradoras em termos de implementação dos sistemas necessários, pondera a
vice-presidente da consultoria. “Havia uma sensação de prazos apertados, e as
mudanças [de datas] foram importantes”, afirma Ramos. “Agora as seguradoras
estão bem melhor preparadas para a entrega em março, sem aquela sensação de
corrida contra o tempo e sem entender e testar devidamente.”
Na avaliação de Leança, a partir do segundo trimestre o foco
das preocupações das companhias passará a ser o do uso efetivo e análise dos
novos dados. “O que a gente vai começar a perceber provavelmente a partir de
março é a questão de ‘o que eu faço com os dados?’”, aponta. “Hoje, por
exemplo, a maioria dos sistemas de seguradoras não tem uma precificação
dinâmica, e agora isso será possível com a entrada de novas variáveis.”