Denise Bueno
Denise Bueno

Jornalista especializada na indústria de seguros brasileira e internacional

Quais são os riscos que tiram o sono dos executivos em 2023?

O Brasil segue a tendência global, com os lucros cessantes no topo das preocupações para os negócios, seguidos por riscos cibernéticos e os desenvolvimentos macroeconômicos fechando o top 3 nacional. 31 de Março de 2023

Incidentes cibernéticos e lucros cessantes classificam-se como as maiores preocupações para as companhias ao redor do mundo pelo segundo ano consecutivo (ambos com 34% de todas as respostas). Entretanto, são os desenvolvimentos macroeconômicos como por exemplo a inflação, a volatilidade dos mercados financeiros e uma recessão iminente, bem como o impacto da crise energética que são os riscos com maior subida na lista deste ano, à medida que as consequências econômicas e políticas de um mundo pós-Covid e a guerra da Ucrânia se instalam.

De acordo com o estudo Allianz Risk Barometer 2023, tais preocupações urgentes exigem uma ação imediata das empresas, explicando porque tanto as catástrofes naturais quanto as mudanças climáticas caíram no ranking, assim como o surto pandêmico, uma vez que as vacinas trouxeram um fim aos bloqueios e restrições. Os riscos e a violência política são outra nova entrada no top 10 global, enquanto a escassez de mão-de-obra qualificada sobe para o número 8. As mudanças na legislação e regulamentação continuam sendo um risco-chave, ao passo que Incêndio/explosão cai para o nono posto.

Brasil: preocupação com cenários disruptivos cresce 

No Brasil os três maiores riscos levantados na pesquisa são os Lucros Cessantes- BI (34% das respostas), que subiu do 3º lugar para o 1º lugar comparado à última pesquisa, os Incidentes Cibernéticos (32%), que caíram uma posição e este ano dividem o segundo lugar com os Desenvolvimentos Macroeconômicos (32%), que avançou dois postos desde 2022 e agora fecham o top 3.

Os 53 especialistas em seguros e riscos de todo o país que participaram da pesquisa indicam crescente preocupação com a interrupção de negócios, especialmente com a interrupção nas cadeias de abastecimento e as consequências de um ataque cibernético na operação de uma companhia. 

“Ainda que, durante a pandemia, muitas empresas diversificaram seus modelos de cadeia de abastecimento para minimizar os impactos de uma disrupção, os efeitos da Covid ainda perduram e foram exacerbados por fatores como a inflação global, a guerra na Ucrânia, a crise energética na Europa Latina”, comenta Felipe Orsi, Diretor Property AGCS América Latina.

Uma possível recessão global pode ser outra fonte provável de interrupção em 2023, com potencial de falha e insolvência de fornecedores, o que é uma preocupação especial para empresas com fornecedores críticos únicos ou limitados. De acordo com a Allianz Trade , as insolvências comerciais globais podem aumentar significativamente em 2023: +19%.

Como observado, riscos de BI (lucros cessantes) estão muito ligados a ameaças cibernéticas – a principal causa de BI no Brasil – e que ocupam o segundo lugar do ranking nacional. O principal motivo dos riscos cibernéticos preocuparem as companhias, de acordo com o relatório, são os vazamentos de dados (53% das respostas globais), seguidos de perto pelos ataques de ransomware (50%).

Em setembro de 2022, a empresa de privacidade e segurança virtual Surfshark, divulgou que o Brasil era o 6º em número de vazamento de dados por atos criminosos ou por falhas de sistemas, o que expõe a fragilidade de muitas empresas. De acordo com o relatório da IBM “Custo de uma Violação de Dados 2022”, o Brasil foi o país com o maior aumento relativo no custo por ataque, com incidentes de vazamento de dados cerca de 27% mais custosos em 2022 comparando com 2021 (passando para aproximadamente USD 1.38 mn). 

Com relação aos Desenvolvimentos macroeconômicos, de acordo com a Allianz Research, a situação atual é caracterizada por uma peculiaridade: todas as três maiores regiões econômicas globais – Estados Unidos, China e Europa – estão em crise ao mesmo tempo, ainda que por razões diferentes. 

Glaucia Smithson, Diretora Distribuição AGCS Ibero/LatAm e CEO América do Sul destaca como principais pontos de atenção a guerra da Ucrânia e a crise energética na Europa como ameaças aos negócios, mesmo no Brasil. “Mesmo com esses acontecimentos ocorrendo longe de nosso país, o impacto é global. A crise gerada nas economias europeias tem efeito nas políticas monetárias desses países e influencia todo o cenário de inflação e economia mundial. O Brasil como grande parceiro comercial de EUA, União Europeia e China, é diretamente impactado por tudo o que acontece ali”.

O Allianz Risk Barometer é um ranking anual de risco empresarial compilado pela seguradora Allianz Global Corporate & Specialty (AGCS), juntamente com outras entidades do Grupo Allianz, que incorpora a visão de 2.712 especialistas em gestão de risco em 94 países e territórios, incluindo CEOs, gerentes de risco, corretores e especialistas em seguros.

O CEO da AGCS, Joachim Mueller, comenta sobre as conclusões: “Pelo segundo ano consecutivo, o Allianz Risk Barometer mostra que as empresas estão mais preocupadas com o aumento dos riscos cibernéticos e a interrupção nos negócios. Ao mesmo tempo, elas veem a inflação, uma recessão iminente e a crise energética como ameaças imediatas aos seus negócios. As empresas – na Europa e nos EUA em particular – preocupam-se com a atual “permacrise” resultante das consequências da pandemia e do impacto econômico e político da guerra na Ucrânia. É um teste para a resiliência de cada empresa.

A notícia positiva é que, como seguradora, vemos uma melhoria contínua nesta área entre muitos de nossos clientes, particularmente no sentido de tornar as cadeias de abastecimento mais à prova de falhas, na melhoria de um plano de continuidade dos negócios e no fortalecimento dos controles cibernéticos. A tomada de medidas para construir resiliência está agora no foco das companhias, dados os eventos dos últimos anos”.

O sobe e desce dos riscos

A crise energética é o maior ascensor do Allianz Risk Barometer aparecendo pela primeira vez em 4º lugar (22%). Algumas indústrias, tais como química, fertilizantes, vidro e fabricação de alumínio, podem depender de uma única fonte de energia – o gás russo, no caso de muitos países europeus – e, portanto, são vulneráveis à interrupção do fornecimento de energia ou ao aumento de preços.

Impulsionado por 2022 sendo mais um ano de tumultos com conflitos e agitação civil dominando as notícias, os riscos e violência política é uma nova entrada no top 10 (13%). Além da guerra, as empresas também estão preocupadas com a crescente perturbação causada por greves, motins e atividades de tumulto civil à medida que a crise do custo de vida se agrava em muitos países.

Apesar da queda no ranking, as catástrofes naturais (19%) e as mudanças climáticas (17%) continuam sendo grandes preocupações para as empresas. Em um ano que incluiu o Furacão Ian, uma das tempestades mais poderosas registradas nos EUA, ondas de calor que quebraram recordes, secas e tempestades de inverno em todo o mundo, e mais de 100 bilhões de dólares de perdas seguradas, eles ainda estão entre os sete maiores riscos globais.