Denise Bueno
Denise Bueno

Jornalista especializada na indústria de seguros brasileira e internacional

Estudo da Zurich propõe roteiro para governos, seguradoras e comunidades enfrentarem catástrofes climáticas

Relatório alerta que apenas 38% das perdas globais por eventos extremos foram seguradas em 2023 e recomenda ações conjuntas para fortalecer a resiliência 05 de Maio de 2025

Por DENISE BUENO

Um novo estudo do Zurich Insurance Group (Zurich) apresenta um roteiro de colaboração entre governos, seguradoras e comunidades para enfrentar os desafios crescentes impostos pelo clima extremo e pelas catástrofes naturais.

Segundo o levantamento, as perdas econômicas globais geradas por eventos como tornados, furacões, enchentes e incêndios florestais somaram cerca de US$ 2 trilhões na última década (2014–2023). A frequência e a intensidade desses desastres vêm aumentando, pressionando não apenas ecossistemas e infraestrutura, mas também a capacidade de resposta financeira das sociedades.

Somente em 2023, as seguradoras desembolsaram US$ 108 bilhões em sinistros relacionados a catástrofes naturais. Ainda assim, apenas 38% das perdas globais estavam cobertas por seguros, deixando cerca de US$ 174 bilhões não segurados. Esse cenário evidencia tanto a importância quanto os limites do setor segurador diante de riscos crescentes.

O estudo destaca que, se as perdas seguradas continuarem crescendo mais rapidamente do que o PIB global — como ocorre desde 1994 —, os prêmios precisarão ser ajustados para refletir os riscos adicionais, o que pode comprometer a acessibilidade das apólices e, por consequência, a capacidade de proteção das sociedades.

Para evitar o aumento dessa lacuna e reduzir os danos socioeconômicos de longo prazo, a Zurich recomenda três frentes prioritárias de ação:

Investimento em prevenção e redução de riscos

O relatório ressalta que investir em resiliência climática é essencial, mas requer governança robusta e colaboração entre especialistas. Recomenda-se que governos incorporem o tema nos planos nacionais, criem centros de competência para reunir dados e conhecimentos técnicos e aproveitem ferramentas tecnológicas para melhorar o mapeamento de riscos.

O setor de seguros, com sua capacidade de modelagem avançada e gestão de riscos, pode ser um aliado fundamental para orientar comunidades e empresas a adotarem práticas mais resilientes.

Aumento da acessibilidade, da transparência e da sustentabilidade no mercado de seguros

Embora o seguro desempenhe papel central na proteção financeira, ele precisa evoluir para lidar com os novos desafios. À medida que a severidade e a frequência dos eventos aumentam, os custos de cobertura sobem, elevando o risco de subseguro ou ausência total de proteção.

O estudo recomenda que governos incentivem empresas e famílias a contratar seguros adequados; criem ambientes regulatórios que estimulem a concorrência e a inovação; evitem intervenções excessivas nos preços, permitindo a precificação baseada em risco, prática que direciona recursos para áreas menos vulneráveis e mais sustentáveis.

Criação de soluções colaborativas de compartilhamento de riscos

Os custos para enfrentar riscos climáticos frequentemente ultrapassam a capacidade orçamentária dos governos. O relatório propõe modelos inovadores de financiamento e parcerias público-privadas (PPPs), como uso de blended finance (combinação de recursos públicos e privados) para aumentar investimentos em prevenção e resiliência; criação de consórcios e pools de (res)seguros para distribuir riscos e reduzir custos, especialmente em regiões mais expostas. Nesse modelo, os mercados privados precificam os riscos, enquanto os governos ajudam a redistribuir perdas, tornando as apólices mais acessíveis.

Uma corrida contra o tempo

O estudo da Zurich conclui que os custos crescentes das catástrofes naturais exigem resposta urgente e coordenada entre governos, seguradoras, empresas e comunidades. Apenas uma abordagem integrada — combinando investimentos, fortalecimento do mercado de seguros e soluções colaborativas — poderá construir a resiliência social e econômica necessária para enfrentar os impactos das mudanças climáticas.

Tomar essas medidas agora, reforça o relatório, é essencial para garantir que as sociedades estejam preparadas para lidar com as ameaças climáticas cada vez mais intensas que se aproximam.