Denise Bueno
Denise Bueno

Jornalista especializada na indústria de seguros brasileira e internacional

A SÉRIE “EXTRAPOLATIONS, UM FUTURO INQUIETANTE”, TRAZ UM ALERTA PARA A URGÊNCIA DA SUSTENTABILIDADE

As empresas precisam estar preparadas para esses novos riscos, afirma Fátima Lima, diretora de sustentabilidade da MAPFRE 23 de Março de 2023

A TV Apple lançou a série “Extrapolations, um futuro inquietante”. São oito histórias interconectadas ao longo de 33 anos, que exploram como as mudanças climáticas do nosso planeta, tema na pauta da indústria de seguros há anos, afetarão a família, o trabalho, a fé e a sobrevivência.

Não é à toa que o tema sustentabilidade é pauta das seguradoras. As perdas com catástrofes se tornam ano a ano mais custosas com o aumento de enchentes, incêndios, furacões, secas. Além de contribuir com a mitigação de risco, as seguradoras querem um mundo mais sustentável para todos. Inclusive para os negócios.

Com este tema em mente, o Sonho Seguro entrevistou Fátima Lima, diretora de Sustentabilidade da MAPFRE Brasil e Fundación MAPFRE, para falar mais sobre o tema sustentabilidade.

Acompanhe abaixo os principais trechos.



fatima lima

Esta série realmente traz efeitos devastadores para a sociedade e sinaliza que os empresários pouco fazem para realmente mudar o curso do aquecimento global. Em sua opinião, como unir o lucro ao respeito pelo meio ambiente e à justiça social, gerando valor para a sociedade?

A sustentabilidade é uma forma diferente – e mais ampla – de olhar para os negócios. As companhias que não integrarem as questões ambientais, sociais e de governança (ESG) em seus processos de tomada de decisões podem não sobreviver às transformações trazidas pelas novas gerações.

Vivemos em um mundo em plena transformação socioambiental e a integração das questões ESG nos negócios é um dos mais importantes desafios globais para empresas, governos e sociedade. As mudanças climáticas já afetam economias importantes, a transição para uma economia de baixo carbono está fazendo com que novos mercados surjam e outros desapareçam, e as empresas precisam estar preparadas para esses novos riscos – que por sua vez geram grandes oportunidades também.

Esse olhar estratégico a partir de um contexto mais amplo, que envolve não apenas o desempenho econômico-financeiro, mas também aspectos ambientais, climáticos, sociais, reputacionais e de governança, tem ganhado cada vez mais força e tração no ambiente corporativo de forma geral.

Mas essa não é uma jornada fácil porque pressupõe que pessoas e organizações saiam da sua zona de conforto e pensem além daquilo que estão habitualmente acostumadas a entregar. Ou seja, não basta adotar iniciativas de sustentabilidade sem integrar, de fato, esses critérios ao processo decisório.

Em linha com essa tendência global, a MAPFRE desenvolveu o Plano de Sustentabilidade 2022-2024, que define o posicionamento estratégico em relação às questões ESG. Esse Plano se concentra nos grandes desafios globais e sociais que enfrentamos atualmente como as mudanças climáticas, a necessidade de uma economia mais circular, a inclusão e o talento, a educação financeira e de seguros, o envelhecimento da sociedade e a Agenda 2030 das Nações Unidas.

Em nosso Plano de Sustentabilidade 2002-2024, assumimos compromissos globais com a sustentabilidade como: alcançar a neutralidade de carbono em países estratégicos, entre eles o Brasil, até 2024; promover a economia circular; promover a inclusão; investir na transparência; promover produtos e serviços com critérios ESG no portfólio do Grupo; expandir o modelo de análise de subscrição considerando aspectos ESG; e garantir que até 2024, 90% do portfólio global de investimentos seja avaliado a partir de critérios ESG; entre outros.

Além disso, já adotamos alguns filtros como não investir em empresas com mais de 20% da receita proveniente da exploração de carvão mineral ou em companhias de óleo, gás e carvão que não estejam alinhadas com a transição energética compatível com um cenário de aquecimento global limitado a 1,5o C em relação aos níveis pré-industriais, conforme o Acordo de Paris.

De que forma você acredita que o grupo MAPFRE pode acelerar o desenvolvimento sustentável na América Latina, especialmente no Brasil. Acredita que pode haver uma cooperação entre os países ibero-americanos?

A MAPFRE possui um forte compromisso com a sustentabilidade. Isso se reflete em diversas adesões voluntárias às principais iniciativas locais e internacionais como o Pacto Global da ONU, o Climate Disclosure Project (CDP), os Princípios para Sustentabilidade em Seguros (PSI), a Força-Tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas a Clima (TCFD), a Aliança de Seguradoras por Zero Emissões Líquidas (NZIA), o Paris Pledge Action, entre outros.

Com um posicionamento proativo e de vanguarda, certamente poderíamos ajudar a promover o desenvolvimento sustentável na América Latina. Mas acredito que isso deve acontecer em breve, em um movimento liderado principalmente pelo mercado de seguros brasileiro, que vive agora um momento muito importante nesse sentido, em que o órgão regulador, a Susep, demonstra o seu compromisso com a integração da sustentabilidade no setor, a partir da regulação de uma Norma de Sustentabilidade e Riscos ESG.

Esse é mais um movimento que vai auxiliar as seguradoras na mitigação de riscos climáticos e ambientais. E, pela importância do Brasil, certamente poderá haver um processo de cooperação e troca de práticas e informações com os demais países ibero-americanos.

O processo de regulamentação do setor de seguros para as questões ESG está acontecendo em um momento muito oportuno, pois a forma tradicional de subscrever riscos não se sustenta mais, ela precisa ser ampliada para uma visão 360, que permeia todo um ecossistema de riscos ainda não são explorados pelas seguradoras.

Essa iniciativa certamente vai trazer novos estímulos e ganhos para o mercado em relação à integração ESG, ao incentivar um olhar diferenciado para esses riscos e promover grandes oportunidades de demandas de seguros que ainda não estão cobertas

A norma parte do entendimento de que as questões de sustentabilidade são importantes para a manutenção da estabilidade do mercado financeiro. E a indústria de seguros, que desempenha papel importante na promoção do desenvolvimento econômico e social, deve considerar esses aspectos em seus modelos de negócio, especialmente por conta de sua atuação fundamental na subscrição e precificação de riscos, contribuindo dessa forma para a preservação de um mercado resiliente e sustentável.

Esses aspectos de sustentabilidade incluem o respeito e a proteção dos direitos e interesses comuns, a preservação do meio ambiente, sua reparação e restauração, a redução dos impactos ocasionados por intempéries frequentes e alterações ambientais de longo prazo, a transição para uma economia de baixo carbono e a promoção de uma sociedade mais resiliente e inclusiva.

Quais os desafios e as oportunidades você tem em mente para o desenvolvimento sustentável no Brasil e no mundo, tendo como ponto de partida o verdadeiro engajamento dos empresários e investidores nas causas sociais, ambientais e de governança? 

Muitas empresas já entenderam que a sustentabilidade é um componente essencial para a gestão dos resultados corporativos. Se antes os investidores consideravam os aspectos ambientais, sociais e de governança apenas como um fator de risco, hoje os negociadores já estão abordando todo o ciclo de vida da transação a partir de uma perspectiva ESG.

As empresas precisam do desenvolvimento de estruturas e ferramentas que auxiliem os processos de integração ESG no negócio. Também existe a necessidade permanente de treinamento e capacitação dos executivos e conselheiros para uma gestão ESG determinante no processo de tomada de decisão. Outro aspecto importante é que a liderança tenha consciência da importância desse tema para o futuro do negócio e inclua a sustentabilidade na pauta estratégica da empresa.

A sustentabilidade é realmente um caminho sem volta e, cada vez mais, as organizações têm a responsabilidade de adotar uma posição de vanguarda, atuando como disseminadoras de informação, inspirando e incentivando a mudança de atitude entre seus stakeholders.

Sabemos que os desafios são muitos, mas queremos fazer parte e liderar esse percurso em busca de um setor de seguros mais responsável, transparente, consciente e preparado para o gerenciamento de riscos e o desenvolvimento de soluções sustentáveis.

Pensar em sustentabilidade é ter lucro com impacto social sempre pensando nas gerações futuras. Todos temos que entender que isso é possível. É totalmente viável fazer negócio de uma maneira sustentável, engajando todos os participantes da cadeia, de modo que o entendimento e a atitude se disseminem aos poucos entre os ciclos de relacionamento de cada empresa. O caminho para a sustentabilidade é de longo prazo, mas iniciá-lo é fundamental para garantir a perenidade dos negócios, em todos os setores.