Seguro garantia deve ser ferramenta para Novo PAC avançar
Cobertura ofertada por seguradoras tem potencial de assegurar o andamento e a finalização de serviços de infraestrutura no país
Poder 360 - 08 de Abril de 2024O governo estuda o uso do seguro garantia dentro do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). O instrumento é responsável por assegurar o cumprimento das obrigações contratuais. Na prática, cobre a não entrega de obras de infraestrutura ou atrasos em etapas do serviço. Atualmente, há pelo menos 126 seguradoras habilitadas para oferecer coberturas voltadas a obras públicas no país.
A cobertura diversificada inclui a garantia do término da
obra, o reparo de danos à obra em si (o conserto de um viaduto que racha, por
exemplo), a responsabilização civil por poluição ambiental e a cobertura de
indenização a terceiros por incidentes durante a execução do serviço –um
exemplo prático é se um pedaço de uma rodovia desmorona e atinge diversas
casas.
Há tratativas entre o setor segurador e os Ministérios da
Gestão e Inovação e da Fazenda sobre o tema, conforme apurou o Poder360.
Algumas conversas também foram instituídas com autarquias, como Antaq (Agência
Nacional de Transportes Aquaviários) e ANTT (Agência Nacional de Transportes
Terrestres).
Existe uma discussão por causa da Lei 14.133/2021, que versa
sobre licitações e contratos administrativos. Pelo instituído na norma, o
seguro garantia poderá ser aplicado em grandes contratações e equivaler a até
5% do valor inicial acordado. O percentual pode atingir até 10% quando há uma
justificativa com base em análise sobre a complexidade técnica e dos riscos
envolvidos na contratação.
Para o Novo PAC, o governo projeta investir R$ 1,4 trilhão
até 2026. O diretor de relações institucionais da CNseg (Confederação Nacional
das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e
Capitalização), Esteves Colnago, classifica como “fantástica” a retomada do
programa de investimentos. “É uma janela muito importante de oportunidade” ,
declara.
Segundo ele, as seguradoras podem atuar em polos como
financiadoras e para assegurar a realização de obras. “Você consegue mitigar
essas obras inacabadas com seguro para obras públicas. Assim, o setor segurador
efetivamente pode ser um parceiro” , afirma.
Colnago menciona discussões para instituir um clausulado
padrão. Citou como exemplo possível um acordo feito ainda em janeiro entre a
Secretaria de Habitação da cidade de São Paulo e a Companhia Metropolitana de
Habitação de São Paulo, que incluiu a contratação de seguro garantia em um
edital de licitação para a construção de 40.000 unidades habitacionais.
O setor de seguros mantém conversas com governos estaduais
sobre a importância de coberturas em obras públicas, como Mato Grosso e
Sergipe. Também há a intenção em dialogar com a Codevasf (Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) a respeito.
O advogado Pedro Melchior avalia que o seguro garantia dá
maior confiabilidade aos contratos para as empresas e a administração pública.
“É uma ferramenta que impulsiona e que dá segurança jurídica a grandes
operações de crédito, financiamentos e contratos públicos, principalmente agora
com o advento do Novo PAC” , afirma. Entre os pontos listados para cobertura,
estão licitações, contratações para reformas, retomada de obras, construção de
escolas, creches e unidades de saúde.
Nesse contexto, Melchior cita o programa habitacional Minha
Casa, Minha Vida, com ordem de investimentos de R$ 316,7 bilhões entre 2023 e
2026. O especialista avalia que o Novo PAC “fomenta a contratação de seguros
para cumprimento dessas obrigações contratuais”. Melchior reforça que o mercado
segurador pode contemplar de várias formas obrigações contratuais que envolvam
valores vultosos. “O seguro ainda substitui o depósito judicial e pode ser
usado inclusive em ações trabalhistas, cíveis e tributárias.
Também possui taxas bem mais atrativas do que as fianças
bancárias e a empresa deixa de se descapitalizar, mantendo fluxo de caixa” ,
completa. GRUPO DE TRABALHO Em setembro, a Susep (Superintendência de Seguros
Privados) lançou o grupo de trabalho “Seguros, Novo PAC e Neoindustrialização”
com a finalidade de discutir e propor recomendações de aperfeiçoamento
regulatório de produtos e coberturas securitárias para ajudar a impulsionar o
Novo PAC e o programa de neoindustrialização.
O superintendente da Susep, Alessandro Octaviani, avalia que
o GT foi instituído para dar “estrutura adequada” e uma “disciplina jurídica”
para o seguro garantia dentro da retomada de um grande programa de obras
públicas. “Nós temos que ter uma política nacional contra obras paradas. O
seguro garantia certamente é um instrumento que pode nos auxiliar a resolver
esse problema” , declarou durante evento da CNseg na 6ª feira (5.abr), no Rio.
Octaviani disse que as obras públicas paradas são um
“problema nacional” e classificou a situação como “inaceitável”. Na sua visão,
o seguro garantia é importante e pode equacionar a paralisia.“É um produto
muito relevante para todo o programa de infraestrutura no Brasil” , disse. Ao
ser questionada pelo Poder360 sobre a discussão relacionada ao seguro garantia,
a Susep disse que está “debatendo o tema com os demais órgãos de governo,
principalmente o Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, na
qualidade de demandante (segurado) das futuras coberturas securitárias
relacionadas às obras de infraestrutura, que inclui os projetos no âmbito do
Novo PAC”.
A superintendência afirmou ainda que está participando
“ativamente” da agenda de reformas financeiras do Ministério da Fazenda e
levando em conta a lei de licitações. “O tratamento dado ao seguro garantia
pela nova lei de licitações foi objeto de profundos debates que contaram com a
contribuição da sociedade civil, de representantes do mercado segurador e do
Estado enquanto consumidor de seguros. Todos esses agentes convergiram sobre a
importância do seguro garantia e têm interesse no fortalecimento desse instrumento
para o desenvolvimento da infraestrutura do país” , afirma.
O órgão subordinado ao Ministério da Fazenda também avalia
que há “necessidade de elaboração de esclarecimentos técnicos normativos e a
edição de regulamentação adicional específica” sobre o assunto. Ao ser
procurado pelo Poder360, o Ministério da Gestão e Inovação disse que a
participação do ministério no Novo PAC “se concentra na operacionalização dos
recursos pelo Transferegov” , site do governo sobre transferências e parcerias
da União.
IMPACTO FINANCEIRO
De acordo com dados da Susep, o seguro garantia arrecadou R$
4,3 bilhões em 2023, o que representa um recorde. Equivale a 2,3% do total
obtido por seguradoras no ano passado. Entre os seguros de linha financeira, a
participação do seguro garantia é de 67%.