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Seguro de transporte foca na gestão de riscos

Depois de um ano difícil, seguradoras esperam aumento de dois dígitos nos negócios e intensificam monitoramento e análise de dados

Valor Econômico - 28 de Março de 2024

Após dois anos de crescimento na casa de dois dígitos, o seguro de cargas andou de lado em 2023. Impactado pelo baixo investimento na economia, pela maior concorrência e pelo não reajuste do preço de apólices, as seguradoras trabalharam com margens mais enxutas, em torno de 2%, em média, e buscaram atingir ganhos operacionais e maior eficiência para manter o desempenho.

O setor atingiu R$ 5,35 bilhões em prêmios emitidos no ano passado, performance praticamente igual à de 2022, mas conseguiu diminuir o índice de sinistralidade de 56% para 50,3%, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep). “No primeiro ano do governo Lula, com política fiscal ainda não definida, os empresários optaram por não investir. O setor de transporte também é movido pelo preço da inflação, que em 2023 foi de 4,8%, o que diminui o volume de prêmios arrecadados”, diz Marcos Siqueira, vice-presidente da comissão de transportes da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).

A taxa do seguro reduziu, em média, 4%, mas, para ele, o cenário deve mudar. Com a definição da política fiscal e tributária e maior investimento decidido pelo governo federal, o seguro de cargas prevê voltar a crescer dois dígitos neste ano. “O setor está esperançoso porque o governo mudou a política de infraestrutura e aumentou o orçamento de R$ 24 bilhões para R$ 57 bilhões. O setor fabril também deve investir mais, o que aumenta a movimentação de carga.”

A melhora da expectativa vem movimentando as seguradoras que operam no segmento. Para a líder, Sompo, que bateu seu primeiro R$ 1 bilhão em prêmios em 2023 e prevê crescer entre 5% e 10% neste ano, investir em gerenciamento de risco tem sido uma de suas principais estratégias. Tanto que aportou R$ 5 milhões para dobrar a capacidade de serviço da central de monitoramento, que ocupa um andar inteiro na sede da companhia, em São Paulo. “Tínhamos capacidade para 40 posições de monitoramento e passamos de 80, o que nos ajudou a trazer novos clientes em 2023. Foram mais de 20 mil viagens monitoradas, que transportaram R$ 115 bilhões em mercadorias. Tivemos R$ 9 milhões em sinistros e recuperamos 52%”, conta Adriano Yonamine, diretor de transporte da Sompo Seguros.

O segmento transportador, que representa 50% de sua carteira – os outros 50% são de embarcadores –, foi o que puxou o avanço da seguradora, com incremento de 10% nas contratações. “Mesmo nos embarcadores, onde o crescimento foi menor, nós crescemos, ajudados pelo gerenciamento de risco e pela ampliação do time de consultores”, diz Yonamine.

Apostando também em gerenciamento de risco e em corretores especializados, a Tokio Marine, segunda maior neste ramo, conseguiu atingir um crescimento real de 2% em 2023, com controle da sinistralidade, que ficou em 51,6%, redução de 1,3% em relação a 2022. O total de prêmios atingiu R$ 715 milhões e a seguradora prevê um avanço acima de 10% para 2024, com ampliação do alcance do monitoramento de carga.

“Além da gestão de risco para o segurado de médio porte e transportadores, vamos lançar nova versão de ferramenta para os seguros avulsos, que atendem o dono da mercadoria. O corretor especialista vai poder cotar e fechar o seguro na hora”, diz Valdo Alves, diretor de transporte da Tokio Marine. Com o novo sistema, a apólice passa a ser emitida na hora da contratação. “Ainda vamos buscar contas novas com volume de prêmios maiores de outros segmentos. O setor automotivo, que sofreu na pandemia, está se recuperando com outras tecnologias chegando, como os carros elétricos”, observa Alves.

A Tokio vem avançando também no seguro de peças e componentes dessa indústria tanto nos embarques nacionais quanto nos internacionais. Com melhor acompanhamento de gestão de carteira e renegociação de apólices de clientes com frequência de sinistros, a empresa mantém 17 pessoas dedicadas à gestão de risco, que fazem o mapeamento da operação in loco para identificar onde é possível obter melhoria de ações, além de revisão de processos logísticos e alteração do sistema de mapeamento de frotas.

No caso da Allianz, o impacto mais positivo em 2023 resultou do investimento em análise de dados, que aprimorou o processo de precificação das apólices e de identificação de nichos e setores com melhores performances. “O transporte de carga tem volume de transações muito alto e estamos tendo bom resultado com o uso de inteligência analítica. Reduzimos a sinistralidade em 4,5 pontos, para 50%, e nossa margem subiu para 6%”, diz Luciano Calheiros, diretorexecutivo de negócios corporativos da Allianz Seguros, que pretende elevar sua atual participação de mercado (market share), de 6,5%, em 2024.

Uma de suas apostas é na carteira internacional marítima, que hoje representa 5% do total. A meta é que atinja 20%, e para isso a seguradora desenvolveu soluções para que o cliente possa pagar o boleto em reais. “A apólice é emitida em dólar, mas o pagamento do boleto é em reais. Era uma demanda dos clientes de menor porte, que não fazem operação cambial a todo momento. Assim é feita a conversão cambial na hora da emissão do boleto. E quando recebemos em reais convertemos de novo para o dólar”, afirma Calheiros.

Com sinistralidade abaixo da média de mercado, em 40%, a Chubb diz que “não briga por share”, mas sim por manter a sustentabilidade financeira de seu negócio. “Isso também passa segurança aos clientes, ter estratégia perene. Significa ter margem sustentável. Para nós, 2023 foi um ano de resultados excelentes, por conta de ações de subscrição que tomamos”, afirma Leandro Mihara, head do segmento de seguro de transporte da Chubb. “Nós prezamos ainda pela agilidade no pagamento do sinistro, que é quando o seguro se concretiza. A Chubb é a única que muitas vezes antecipa o prazo em até sete dias.”

Com a estratégia de sair de clientes não rentáveis, a Mapfre registrou queda de 28% na carteira de transportes de carga em 2023, quando resolveu dar ênfase ao modal internacional, por meio de sua parceria com o Banco do Brasil (BB). “Saímos de transporte de grãos e automotivo para crescer em setores com mais rentabilidade, e reduzimos a sinistralidade, que ficou em 46%. No transporte internacional a sinistralidade é menor”, diz Carlos Eduardo Polizio, superintendente de seguros aéreo, casco marítimo e transporte da Mapfre. “Com a reestruturação em carteira e a contratação de novas pessoas, queremos aumentar nosso share em 2024 e saltar da 11ª para a 9ª posição, e estamos investindo em processo operacional mais dinâmico e fácil para o corretor.”