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Queda nos prêmios limita o ritmo de crescimento no auto

Aumento da arrecadação no total de prêmios vendidos pela modalidade em 2023 foi menos da metade do registrado no ano anterior

Valor Econômico - 31 de Outubro de 2023

A queda nos preços dos seguros de automóveis no país reduziu também o ritmo de crescimento da arrecadação das seguradoras que atua no segmento. De acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep), autarquia que fiscaliza o setor, o valor total dos prêmios dos seguros automotivos vendidos em 2022 foi 32,8% maior do que o de 2021. Já na comparação entre janeiro e agosto de 2023 com o mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 14,7% - ou seja, menos da metade.

Os prêmios são os valores pagos por clientes para terem seus bens segurados. Eles estão diretamente relacionados ao valor do bem. Com os carros estão relativamente mais baratos neste ano, o custo das apólices caiu. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de janeiro a setembro deste ano, a inflação no país medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 3,5 Já o preço de um carro novo subiu apenas 2,97%. O dos veículos usados, pelo contrário, caiu 3,09%.

Além disso, a proporção entre o valor do veículo e o preço do seguro também baixou. Segundo o Índice de Preços do Seguro de Automóve (IPSA), calculado mensalmente pela empresa TEx, são 10,8% de redução em um intervalo de 12 meses, entre setembro de 2022 e setembro de 2023. Há um ano, um cliente pagava o equivalente a 6,5% do valor de um carro com até dez anos de uso para fazer um seguro padrão para ele n principais regiões metropolitanas do país. Hoje, esse cliente gasta 5,8%. “Desde maio, foram cinco meses de queda”, diz Emir Zanatto, presidente da TEx, insurtech especializada em soluções online para o mercado segurador. “Nunca tínhamos registrado uma sequência tão grande”, completa o executivo.

As quedas revertem um movimento de aumento do preço dos seguros registrado após a pandemia de covid-19. A crise sanitária elevou o preço de carros e de peças. O gasto das seguradoras para atender seus clientes aumentou neste período. Em 2022, a chamada sinistralidade - percentual do gasto das empresas com consertos e reposição de veículos frente à sua arrecadação - chegou a 69%, acima dos 62% considerados ótimos pelos setor. O valor das apólices acabou sendo elevado para reequilibrar essas contas. “Com a retomada da circulação de veículos, o ano de 2022 foi muito desafiador e trouxe muitos aprendizados, além de um aumento relevante nas frequências de sinistros”, justificou Marcelo Sebastião, presidente da comissão de seguro auto da Federação Nacional de Seguros Gera (FenSeg).

Já em 2023, com a normalização do mercado, a sinistralidade baixou a 58%. Isso significa que as seguradoras estão gastando menos neste ano com serviços prestados a seus clientes do que no ano passado e até menos do que elas consideram razoável. Essa queda, então, abriu espaço para uma disputa de clientes por meio dos preços dos seguros, que registraram queda. “É um ano de ajuste nos preços, mas também de recuperação da rentabilidade”, afirma Marcelo Goldman, diretor executivo de produtos massificados da Tokio Marine. “Apesar de um crescimento menor na arrecadação, está sendo um ano bom”, acrescenta Goldman.

“O mercado continua demonstrando um crescimento robusto, com um aumento de dois dígitos em prêmios emitidos. O setor está passando por um período altamente produtivo e lucrativo”, avalia Luiz Padial, diretor de seguro auto da Mapfre.

David Beatham, diretor executivo de automóvel, massificados e vida da Allianz Seguros, diz que o desempenho da economia brasileira contribui com as seguradoras. Ele lembrou que, de janeiro a agosto, a venda de veículos novos cresceu 9,2% no país ante ao mesmo período do ano passado; a venda de veículos usados subiu 12,4%; já a venda de motocicletas, 14%. Todos esses veículos são bens que potencialmente podem ser segurados.

Ney Dias, diretor-presidente da Bradesco Seguros, acredita, inclusive, que a redução de preços das apólices pode fazer com que mais proprietários de carros e motos se tornem clientes das seguradoras. “No Brasil, cerca de 17 milhões de veículos são segurados, com uma fr de 70 milhões. A facilidade de acesso ao produto é um fator positivo, pois contribui para que mais pessoas venham a adquirir o seguro”, afirmou Dias.

Boris Ber, presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros do Estado de São Paulo (Sincor-SP), vê um crescimento, ainda que pequeno base de clientes de seguros motivado pela queda dos preços. Para ele, a renovação de contratos, essa sim, é que foi facilitada com seguro mais baratos. Em sua corretora, a Asteca, Ber afirma que a taxa de renovação dos seguros automotivos está em cerca de 94%, o que ele considera boa.

A Susep informou que as seguradoras de automóveis não passam por dificuldades financeiras e já superaram os efeitos da pandemia. “Eventual queda nos preços dos seguros nem sempre são capazes de comprometer a saúde financeira das empresas”, declarou a autarquia. “A Susep monitora informações sobre reclamações e, de forma geral, não observa desvios de conduta no mercado”, conclui.