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Seguro de carga projeta crescimento em 2023

Mercado de transporte deve avançar de 10% a 15%, puxando as vendas de apólices, e a situação econômica pode melhorar com definições do governo

Valor Econômico - 30 de Março de 2023

Mesmo com o baixo crescimento da economia, o seguro de cargas avançou em dois dígitos pelo segundo ano consecutivo e deve continuar em alta em 2023. Parte desse desempenho é atribuída à inflação, porque o aumento do preço das mercadorias transportadas jogou para cima também o valor das apólices.

Apesar da elevação da sinistralidade em seis pontos percentuais, batendo em 56% – a maior dos últimos cinco anos –, o setor registrou R$ 5,4 bilhões em prêmios emitidos em 2022, uma alta de 25% sobre o ano anterior, segundo a Superintendência de Seguros Privados (Susep).

Outra alavanca desse desempenho foi a maior movimentação de cargas tanto nas rodovias, que representam 65% do total transportado, quanto por meio das exportações pelos portos e aeroportos. Apesar de os números de janeiro, último dado disponível, mostrarem retração de 7,4% no faturamento ante igual mês de 2022, o setor acredita que não espelha o que vem pela frente.

“As fábricas voltaram a produzir e isso ajudou 2022. O transporte de gás combustível e o do agronegócio foram grandes propulsores de crescimento. A China voltou a consumir mais fortemente”, afirma Marcos Siqueira, vice-presidente da Comissão de Seguro de Transporte da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg). Ele avalia que a desaceleração registrada no fim de 2022 foi por conta do processo eleitoral e do novo lockdown da China, que se refletiu ainda no início deste ano.

Segundo o executivo, as definições das políticas econômica e fiscal do novo governo devem melhorar o cenário. “Acho que será um ano mais difícil, mas o mercado de transporte deve crescer entre 10% e 15% e isso carrega junto o seguro de carga. Só nas vendas on-line, a expectativa é que avancem entre 25% e 30% neste ano.”

Na Sompo, líder neste ramo de seguros, há otimismo com os estímulos sinalizados pelo governo Lula para a economia, que deverão impactar positivamente setores como construção civil, cimento, ferro, energia renovável e petróleo. “Além disso, a própria inflação, ainda que menor, irá colaborar para o nosso crescimento”, diz Adailton Dias, diretor-executivo de produtos e resseguro.

A seguradora, que possui 120 pessoas na sua equipe de transportes, quer faturar seu primeiro bilhão nesta modalidade em 2023. No ano passado, foram R$ 917,4 milhões em prêmios emitidos. Para a empresa, o que deve puxar este incremento é a forte demanda por proteção de valor agregado e gerenciamento de risco. Na prática, passa pelo rastreamento, escolha das melhores rodovias e pontos de paradas seguras.

“Temos uma central de monitoramento de cargas, a Sompo Services, que em 2022 monitorou mais de R$ 130 bilhões em carga de todo tipo e ajudou na recuperação de mais de R$ 55 milhões de carga roubada”, conta Dias. Para obter este resultado, mantém parcerias com empresas e 130 colaboradores, que desenvolvem planos de viagem com monitoramento de carga e rastreamento.

Com o aumento dos acidentes nas estradas, a Tokio Marine investiu em treinamento, que contemplou 280 motoristas em 2022. Foram abordados temas como direção defensiva versus preventiva, importância de realizar o checklist do caminhão (parte mecânica) e do rastreador, importância da qualidade da alimentação do motorista versus direção contínua, conferir a amarração da carga durante a viagem e até distúrbio do sono. A intenção é reduzir a sinistralidade, próxima a 53%. “Damos treinamento para transportadores e mostramos os cuidados que o motorista tem que ter com a direção. Mostramos as regiões mais visadas para roubo e conversamos com clientes e corretores para melhorar o gerenciamento de risco”, afirma Felipe Smith, diretor-executivo de produtos pessoa jurídica da Tokio Marine, que fechou 2022 com quase R$ 700 milhões em prêmios emitidos.

Para este ano, a expectativa é avançar entre 10% e 15%. As vendas on-line também auxiliaram o crescimento da Chubb. Mas, como o transporte de carga é um segmento sensível à atividade econômica, a seguradora chama a atenção para a desaceleração do setor de serviços no último trimestre de 2022, tendência que se mantém em 2023.

A empresa, que atingiu R$ 445,57 milhões em prêmios nesta modalidade em 2022, alta de 28% ante 2021, segundo a Susep, não faz previsões de desempenho para 2023, mas ressalta que tão importante quanto o crescimento da carteira de seguros é a manutenção de sua saúde financeira. “Por isso, investimos na gestão de riscos. O trabalho realizado em parceria com o segurado é eficiente na redução do volume de sinistros. Isso gera um ciclo virtuoso que permite investir mais em benefícios para o segurado e o cliente ter menos prejuízos com caminhões parados em suas operações”, diz Diego Gomes, diretor de seguro transporte.

Já a Allianz defende a tese de fortalecimento do capital humano e de sua equipe técnica e está contratando e investindo em capacitação, treinamento e desenvolvimento contínuo. “A gente deve ter crescimento da força de trabalho de mais de 10% neste ano. Mas apostamos também em inovação e somos uma empresa global, com forte desenvolvimento de inovação e conhecimento gerado na matriz e que, muitas vezes, usamos aqui”, diz Luciano Calheiros, diretor-executivo de negócios corporativos e saúde.

A seguradora aposta ainda em dados e analytics para fazer gestão de portfólio e em chatbot no atendimento ao cliente. “Trabalhamos dados para conhecer melhor os clientes e selecionar negócios de forma mais assertiva.” A Allianz fechou 2022 com R$ 405,38 milhões em prêmios emitidos, alta de12% em relação a 2021.

Com 8% de sua carteira de seguro de transporte voltada ao mercado internacional, é no segmento que a Mapfre vê mais espaço para avançar neste ano. A ideia é pegar carona em parceria com o Banco do Brasil (BB). “Queremos que o internacional represente de 10% a 12% do nosso ramo de transporte até o fim de 2023. Vamos estar mais próximos dos clientes do BB com pessoas especializadas. Quando este cliente contratar cobertura de transporte internacional, vai poder ter um pacote com vários serviços agregados”, afirma Carlos Polizio, superintendente de seguro de transporte, aeronáutico e casco da Mapfre, cuja carteira fechou 2022 com R$ 285,4 milhões em prêmios emitidos, alta de 4% ante 2021.