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CNP compra participações de Icatu e Caixa Seguridade por R$ 907 milhões

Grupo francês já investiu quase R$ 9 bilhões desde 2020 para crescer no Brasil, país que representa 20% das receitas globais do grupo

Valor Econômico - 15 de Setembro de 2022

A CNP Assurances enxerga o Brasil de maneira estratégica e avalia o mercado segurador local como um dos que têm maior potencial de crescimento no mundo. Um sinal do tamanho da aposta do grupo francês no país está no investimento feito desde 2020: quase R$ 9 bilhões, dos quais a maior parte já foi desembolsada. A mais recente jogada francesa veio na forma da aquisição da totalidade das participações da Caixa Seguridade nas sociedades para a exploração dos canais do banco federal na distribuição de seguros e consórcios.

Para ficar com 100% das joint ventures que firmou com a Caixa há dois anos, a CNP vai pagar R$ 667,18 milhões, conforme anúncio feito na terça-feira pela instituição brasileira. Mas a compra das fatias do banco nas joint ventures CNP Consórcio, CNP Capitalização, Previsul e Odonto Empresas, representa só uma parte do movimento.

O grupo também fechou acordo para adquirir a parte da Icatu na parceria que explora o canal bancário na modalidade capitalização. Para isso vai desembolsar mais R$ 240 milhões. No total, as novas aquisições somam R$ 907 milhões, segundo a CNP.

Elas não significam, porém, o fim da parceria com a Caixa. Grande parte do vínculo entre as casas foi renovado em 2021, quando o conglomerado francês pagou R$ 7 bilhões para manter a exclusividade na distribuição de produtos securitários de vida, prestamista e de previdência privada no balcão do banco por mais 25 anos.

Em paralelo, venceu o leilão para exploração do canal das agências para consórcios por 20 anos. O contrato firmado há quase dois anos prevê ainda um adicional que pode alcançar R$ 800 milhões, a ser pago dependendo do cumprimento de métricas de desempenho definidas no acordo sejam alcançadas.

Junto com os mais de R$ 900 milhões das aquisições deste ano, o investimento total no mercado brasileiro já soma R$ 8,7 bilhões. “A CNP avalia constantemente as oportunidades de crescimento no mundo e chegou à conclusão de que o maior potencial de crescimento é a América Latina e a prioridade é o Brasil”, afirma a CEO da CNP no Brasil, Asma Baccar, em entrevista ao Valor.

De acordo com a executiva, o país representa 20% das receitas do grupo global. “A tendência, olhando para o futuro, é de essa participação crescer”, avalia. “Além dos investimentos que fizemos, o próprio avanço do mercado brasileiro será bem maior do que o do francês e do europeu.” A aposta no país vem também como consequência da própria bagagem acumulada no mercado local. “Conhecemos o Brasil faz 20 anos e temos uma história de sucesso aqui”, afirma.

A executiva faz alusão ao desembarque do grupo no país em 2001, quando adquiriu 51% da então Caixa Seguros, e, com isso, garantiu a exclusividade na exploração do canal do banco para todos os ramos. Com o fim da vigência do acordo de 20 anos, a Caixa decidiu abrir licitação para leiloar a distribuição pelo balcão do banco. A estratégia foi central para os planos da instituição estatal de abrir o capital do seu braço de seguridade, o que ocorreu em abril de 2021.

Com a reestruturação, a Caixa Seguridade formou novas joint ventures, mas com taxas de participações maiores, entre 60% e 75%. Na época, a CNP ficou com vida, prestamista, previdência e consórcios. A Tokio Marine assumiu os ramos de habitação e residencial, enquanto a Icatu venceu o leilão da capitalização e a Tempo ficou com assistências. A holding da Caixa fechou parcerias com corretoras, a Willis, para grandes riscos, a Alper, no caso de saúde e odonto, e a MDS, que ganhou direito de explorar o canal bancário para auto.

Baccar exalta a parceria entre CNP e Caixa como “uma história de sucesso para os dois lados”. Segundo a CEO da filial brasileira, o faturamento do grupo ao desembarcar no país, em 2001, alcançava R$ 300 milhões. Duas décadas mais tarde, a CNP exibe receitas de R$ 35 bilhões, o que a torna o quarto maior grupo segurador brasileiro, segundo dados da Susep, o órgão regulador do setor.

A executiva-chefe explica ver “muito espaço para crescer no balcão da Caixa”. Conforme Baccar, “o banco é um parceiro histórico e o maior estrangeiro da CNP no mundo”. A aquisição das participações do banco federal nas joint ventures, no entanto, abre novas oportunidades para o grupo, que terá mais flexibilidade para firmar parcerias. “Nossa primeira alavanca é continuar o trabalho no relacionamento com a Caixa, mas agora podemos implementar também um modelo de multiparcerias, semelhante ao que acabamos de implantar na Itália.”

A estratégia inclui montar uma rede de distribuição de produtos de seguros com outras instituições financeiras, bem como plataformas e fintechs. “Entramos em uma nova fase no Brasil. As aquisições recentes foram feitas para termos o que a gente chama de ‘chassi’ para a CNP atuar com autonomia dentro de um veículo próprio.”

O grupo já tem uma parceria com os Correios na comercialização de seguro odontológico e capitalização. Além disso, conta com apoio de mais de 200 administradoras para venda de consórcios. Outra frente é ampliar a atuação junto às corretoras de seguros. “Na Previsul já trabalhamos com modelo de corretores. É um canal com grande potencial e vamos reforçar ainda mais esse relacionamento.”

O foco no digital também será uma estratégia. CNP e Caixa são sócias na Youse, uma das maiores seguradoras digitais no país. “Estamos no meio da transformação do modelo B2C [de venda direta ao cliente] para o B2B2C [venda por meio de parcerias], que vai abrir oportunidades a corretores, plataformas e outros”, afirma.