Seguradoras recebem pedido de indenização da covid-19
“A certeza de estar protegido traz a tranquilidade necessária para encarar ocasião tão desafiadora”, diz o presidente da Brasilseg, Ivandré Montiel.
Valor Econômico - 02 de Abril de 2020As seguradoras já começam a receber solicitações de indenização de apólices das vítimas da covid-19. A Prudential, que tem o seguro de vida como carro-chefe, e a Generali, uma das principais seguradoras do ramo no país, confirmaram ao Valor Econômico já terem sido acionadas em casos ligados à pandemia.
“Nós já recebemos os primeiros
avisos de sinistro decorrentes do novo coronavírus, desde a semana passada,
alguns, infelizmente, por morte e outros solicitando a nossa cobertura renda
hospitalar”, afirma a vice-presidente de marketing & digital da filial
brasileira da seguradora americana, Aura Rebelo.
Na italiana Generali, “tivemos,
infelizmente, duas mortes de segurados relativas à covid-19”, conta a
vice-presidente da filial brasileira e chefe de canais massificados para
Américas e Sul da Europa, Claudia Papa. Outras casas consultadas, como Icatu,
MetLife e MAG Seguros ainda não registraram solicitações.
Junto com os primeiros casos de
sinistros pela covid-19, a Prudential anunciou o pagamento sem restrições aos
beneficiários dos segurados falecidos ou com invalidez durante a pandemia,
mesmo com a previsão nos contratos de exclusão das indenizações em casos de
pandemias. A Generali, assim como a Icatu, não tem restrições para atender
casos como os da covid-19 nas apólices de vida. Essas empresas se juntam a um
grupo que já conta com, pelo menos, uma dúzia de seguradoras que adotaram a
mesma flexibilização, como Caixa Seguradora, Itaú Seguros, Zurich Santander,
MAG Seguros, Mapfre, MetLife, Centauro-ON, Previsul, Sura e Youse.
Pagar ou não as indenizações
das vítimas do coronavírus pelas apólices de vida abriu um debate no setor,
porque a maior parte dos contratos do produto prevê exclusão de cobertura em
caso de epidemias ou pandemias. As cláusulas de restrição existem para
preservar o equilíbrio financeiro do fundo de mútuo que suporta os pagamentos,
explica a sócia da área de seguros e resseguros do TozziniFreire, Bárbara
Bassani. “O prêmio que o cliente pagou foi determinado com riscos específicos
subscritos e a apólice não foi feita para esse tipo de situação [pandemia]. Vejo
[a flexibilização] como uma liberalidade das seguradoras.”
O executivo-chefe financeiro da
MAG Seguros (nova denominação da Mongeral Aegon), Raphael Barreto, afirma que a
companhia “entendeu que estes valores poderiam ser absorvidos sem comprometer a
saúde financeira da seguradora”. De acordo com o CFO, a empresa realizou
estudos com base nas idades reais da carteira de clientes e obteve projeções
mais aderentes à realidade da companhia. Nos vários cenários de pagamentos de
benefícios para as coberturas de morte e invalidez permanente, a MAG se mostrou
resiliente.
A Generali também monitora a
evolução dos sinistros ligados à pandemia, mas assegura estar preparada da
absorver qualquer crescimento de ocorrências. “Consideramos que vai haver
aumento de sinistros por conta da pandemia de coronavírus, mas é difícil
estimar o percentual exato”, diz a vice-presidente da seguradora. Apesar do
aumento, “não vai afetar o equilíbrio das apólices”, acrescenta Claudia.
A advogada Bárbara, do
TozziniFreire, ressalta que cada companhia tem de fazer esse exercício de
impacto sobre o próprio equilíbrio financeiro e nem todas poderiam arcar com os
custos de uma flexibilização. De acordo com a advogada, existem seguradoras que
podem “comprometer o mutualismo e levar a carteira a ficar deficitária”.
Conforme mais companhias aderem
à iniciativa, a pressão sobre o mercado como um todo aumenta. “Como seguradora,
reavaliamos uma cláusula importante para contribuirmos com o cuidado da
sociedade neste momento”, afirma o CEO de seguros da Mapfre Brasil, Luis
Gutiérrez, sobre o pagamento às vítimas do coronavírus. “A certeza de estar
protegido traz a tranquilidade necessária para encarar ocasião tão
desafiadora”, endossa o presidente da Brasilseg, do grupo BB Seguros, Ivandré
Montiel.
As propostas das seguradoras
incluem o pagamento de benefícios, como indenização por morte ou invalidez
permanente devido à covid-19, para as apólices vigentes. No caso de novos
contratos, as companhias têm definido períodos de carência entre 45 dias e 90
dias. A MetLife, por exemplo, avisou em comunicado que decidiu pagar as
indenizações referentes a “morte, funeral, diárias de internação hospitalar,
invalidez permanente e viagem que venham a ocorrer em decorrência da covid-19”.
No caso de apólices adquiridas
após 26 de março, “a decisão se aplicará aos sinistros que ocorrem após 45 dias
da data de contratação do seguro”. A medida da MetLife vale por 120 dias.
A Prudential informou ter
decidido que, “para todas as apólices de seguro de vida individual e em grupo
contratadas até 25 de março de 2020, pagará integralmente as indenizações de
morte além das coberturas de renda hospitalar, assistência funeral, diária de
internação hospitalar, invalidez funcional ou permanente e seguro viagem
decorrentes do diagnóstico de covid-19”.
De acordo Aura, da Prudential,
“a inclusão da cobertura vai ser feita em caráter permanente, para todos os
clientes da nossa base, assim como as novas vendas da companhia nos próximos
180 dias”. A Prudential explica ainda que, “para as novas contratações, a
partir de 26 de março, nos comprometemos a indenizar os sinistros com
diagnóstico de coronavírus, que ocorrerem depois de 90 dias da contratação, até
o limite de R$ 3 milhões”.