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Líderes do mercado destacam mudanças climáticas, foco no cliente, tecnologia e inovação

O Brasil tem um mercado potencial de seguros, raramente comparável a qualquer outro mercado do mundo

Valor Econômico - 20 de Setembro de 2024
O Valor Econômico traz a edição anual do Valor 1000, com o desempenho das mil maiores empresas do Brasil. Os líderes empresariais que participaram do evento de premiação e lançamento da edição 2024 do Valor 1000 entendem que as mudanças climáticas já produzem efeitos que interferem na economia e enxergam as companhias como agentes fundamentais para a reversão desse quadro. Nas 28 campeãs setoriais premiadas, a agenda ESG não é assunto de uma área específica, mas faz parte da estratégia de negócio.

A abertura de créditos extraordinários fora da meta fiscal para enfrentar emergências climáticas, como as queimadas que afetam diversas regiões do país, não representa uma violação ao novo arcabouço fiscal, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, convidado especial da festa do Valor 1000. Contudo, ele ponderou que esses eventos extraordinários talvez “não sejam tão extraordinários daqui para frente”, fazendo com que o governo precise levar cada vez mais as catástrofes climáticas para dentro do Orçamento federal.

Colocar o cliente no centro das atenções tem trazido resultado e levou o Itaú Unibanco. O processo de escolha do líder levou em conta as 25 maiores instituições, definidas pelo ativo total. “O resultado no final do dia é fruto de trabalho e obsessão pelo cliente. A capacidade de atender ao varejo e ao atacado e criar relação de longo prazo conta. É essa completude que faz com que tenhamos resultados consistentes”, diz Milton Maluhy Filho, CEO do Itaú Unibanco. “Onde eu acho que o banco poderia avançar mais é na parte de seguros e capitalização, que representa pouco do seu resultado geral”, afirma Eriverton Rodrigues, da Austin. 

Em seguros, poucos acreditavam que 2024 seria tão frutífero quanto 2023 para as seguradoras. As empresas encerraram o ano passado com arrecadação de R$ 388 bilhões, avanço de 9% em relação ao ano anterior. De acordo com o Valor 1000, a SulAmérica lidera o ranking de vendas, com R$ 26,9 bilhões em prêmios em 2023. Já o ranking de lucro líquido é encabeçado pelo grupo Bradesco Seguros, responsável por R$ 6,4 bilhões dos R$ 29,9 bilhões do ganho total do setor, 65,7% acima dos R$ 18,1 bilhões registrados em 2022. Todas as 50 maiores companhias do setor no Brasil comemoraram resultados positivos em 2023, com uma rentabilidade média sobre o patrimônio de 29,5%.

“O Brasil tem um mercado potencial de seguros, raramente comparável a qualquer outro mercado do mundo. Somos uma das dez maiores economias globais, mas o mercado de seguros ocupa apenas a 19ª posição”, afirma Alessandro Octaviani, superintendente da Susep. “Hoje, apenas 20% da população no Brasil tem algum tipo de cobertura de seguros. Isso demonstra que o país tem um inigualável potencial de crescimento para o mercado.”

De acordo com Dyogo Oliveira, presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), a estimativa é de que as perdas seguradas no Sul cheguem a R$ 8 bilhões até o fim de 2024. “De maio a 31 de julho, as indenizações avisadas totalizavam R$ 5,6 bilhões. Em quantidade, as seguradoras registraram 57.045 avisos de sinistro, sendo 18 mil para automóveis e quase 29 mil para residências. Em valores absolutos, as apólices de grandes riscos, com 821 pedidos de indenizações, responderam por R$ 2,8 bilhões.”


Ivan Gontijo, presidente do grupo Bradesco Seguros, que respondeu por mais de 40% do lucro do banco no primeiro semestre de 2024, destaca as novidades, como o seguro de proteção digital, apólices personalizadas para pequenas e médias empresas e o aumento da demanda por proteção contra riscos cibernéticos. “Investimos em novas coberturas para transações bancárias, transferências e uso indevido do Pix. Com o aumento dos roubos nas principais capitais do país, o valor da carteira desse produto cresceu mais de 200% no comparativo de contratações entre 2022 e 2023. Também estamos acompanhando com interesse as demandas por seguros cibernéticos. A Bradesco Seguros e a Swiss Re Corporate Solutions estão trabalhando juntas para oferecer o Seguro Riscos Cibernéticos PME”, conta. Gontijo comemora um faturamento 15,2% maior no primeiro semestre de 2024 (R$ 58,2 bilhões).

O CEO da Porto Seguro, Rivaldo Leite, aposta na manutenção do ritmo da companhia, que investe na excelência dos serviços a consumidores e corretores. “Em junho, os financiamentos automotivos totalizaram R$ 16,8 bilhões, alta de 32,5% em doze meses. Já o emplacamento de veículos avançou 15,6% no primeiro semestre, segundo dados da Fenabrave [Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores]. São boas notícias, pois a grande maioria que compra um carro financiado faz o seguro do bem. E estamos preparados para ser a melhor opção para corretores e consumidores.”

“A diversidade de nossa carteira de produtos e serviços nos últimos anos é um fator que contribuiu para o alcance dos nossos resultados até agora em 2024, e este cenário deve se manter”, afirma Felipe Nascimento, CEO da Mapfre Brasil. Para seguir crescendo de forma sustentável e ganhar eficiência operacional, a seguradora vem apostando na flexibilidade dos produtos, incluindo opções mais enxutas para diferentes perfis. Os corretores são a principal força de vendas, mas a companhia está expandindo parcerias com instituições financeiras e varejistas.

Em 2023, o grupo alemão HDI fez duas importantes aquisições: a compra dos produtos de varejo da Sompo Consumer e da Liberty Seguros — registrando R$ 13,7 bilhões em prêmios emitidos ao final de 2023 e se posicionando em segundo lugar no ranking de ramos elementares. “Conseguimos transformar nossa organização em um grande provedor de seguros que, além de trabalhar com várias marcas, oferece um portfólio completo de produtos, que vão dos mais simples aos mais complexos, como seguro de Pix até seguros agrícolas diversos. Estamos otimistas com o crescimento do mercado e acreditamos fortemente no potencial de negócios deste ano”, conta Eduardo Dal Ri, CEO do grupo HDI.

A Tokio Marine, por sua vez, aposta em sua vantagem competitiva em cenários mais desafiadores, como as perdas registradas no Sul. “O fato de sermos uma seguradora multiprodutos, que atua em todos os ramos, exceto saúde e previdência, nos permite equilibrar os resultados”, afirma Daniel Dibe, diretor de finanças e administração. Ele conta que, que, de janeiro a junho deste ano, o desempenho foi expressivo em diferentes segmentos, com destaque para o seguro-viagem, que cresceu 71,8% no primeiro semestre (em comparação com o mesmo período do ano anterior); seguro fiança locatícia (62,5% a mais); seguro garantia, com 117,3%; e riscos cibernéticos, com 68,5%. “Para 2025, estamos atentos ao potencial do setor de energia renovável”.

O segmento de títulos de capitalização também comemora bons resultados. Segundo Denis Morais, presidente da Federação Nacional de Capitalização (FenaCap), as associadas estão explorando novas oportunidades, recentemente regulamentadas, para atender às necessidades do mercado, oferecendo produtos cada vez mais alinhados a diversos perfis de consumidores e negócios. “Nosso desempenho, com arrecadação de R$ 15,1 bilhões no primeiro semestre de 2024, um crescimento de 4,5% em relação ao mesmo período de 2023, demonstra que estamos no caminho certo.”

Em previdência e vida, o mercado de previdência teve um ano memorável em 2023, recuperando-se dos momentos difíceis passados durante a pandemia, quando os resgates de recursos deram o tom. Foram R$ 43 bilhões de captação líquida em 2023, o melhor resultado da série histórica iniciada em 2013. E 2024 começou forte, com crescimento estruturado. No primeiro semestre, a captação líquida alcançou R$ 30 bilhões, um avanço de 164% em relação ao mesmo período do ano anterior. Com isso, o total das reservas em planos de previdência aberta ultrapassou R$ 1,45 trilhão, segundo dados da Fenaprevi. 

Já o setor de saúde está superando o período de prejuízos operacionais e aumentando o número de beneficiários, especialmente nos planos empresariais, graças ao bom momento do mercado de trabalho formal. Levantamento da ANS divulgado em agosto mostra alta de 1,5% entre junho de 2023 e junho de 2024, totalizando 51 milhões de usuários cobertos por assistência médica.