Parlamentares querem tirar o seguro rural do teto de gastos
Bancada ruralista negocia a medida na PEC da transição com o argumento de que o recurso é importante para situações de seca, geada ou excesso de chuva
Valor Econômico - 30 de Novembro de 2022A bancada ruralista trabalha para incluir na PEC da Transição
que os gastos do governo com o seguro rural não sejam contabilizados pelo teto
de gastos (que limita as despesas do
governo federal). O valor exato não constaria da Constituição, mas seria
negociado ano a ano no Orçamento e por meio de créditos.
O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA),
deputado Sérgio Souza (MDBPR), e o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP)
abordaram nesta terça-feira o relator do Orçamento e autor da PEC, senador
Marcelo Castro (MDB-PI), com esta proposta. Seria um início de diálogo para que
parlamentares do grupo votem a favor do projeto. A proposta de emenda
constitucional defendida pelo governo eleito, que tenta abrir espaço no
Orçamento de 2023, começou a tramitar no Senado.
Segundo o presidente da bancada ruralista, a inclusão dessa
excepcionalidade na PEC não fará com que todos do grupo votem pela aprovação,
mas abrirá um diálogo com os parlamentares. Ainda seria necessário discutir o
valor total que sairá do teto, como serão gastos os recursos e o prazo de
duração da PEC – os quatro anos, segundo Souza, são considerados excessivos. A
exclusão dos gastos com seguro rural do teto, contudo, seria um passo
importante no diálogo para aprovar a proposta.
“Se a PEC trata de excepcionalidades ao teto, o seguro
agrícola também é uma excepcionalidade, em decorrência da seca, da geada, do
excesso ou falta de chuvas”, disse Souza. O valor não constaria explicitamente
da PEC, mas seria negociado de acordo com a demanda. Ele calcula que seja
preciso cerca de R$ 2 bilhões por ano. Orçamento rural O setor tem enfrentado
dificuldades com a falta de recursos para o seguro.
O orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro
Rural (PSR) em 2022 deverá ficar em R$ 948 milhões, já que cerca de R$ 50
milhões da verba original, de R$ 990 milhões, foram remanejados para o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Em julho, a Junta
de Execução Orçamentária (JEO) autorizou uma suplementação de R$ 200 milhões,
mas voltou atrás e frustrou os planos do Ministério da Agricultura de ao menos
manter a mesma área coberta no país.
Com isso, haverá um retrocesso geral nos números do programa
em relação a 2021, quando o orçamento aplicado foi de R$ 1,1 bilhão. Com os R$
948 milhões, a estimativa é que a área coberta com seguro rural não chegue a
5,8 milhões de hectares contra 13 milhões em 2021. A área segura de soja deve
cair drasticamente, de 8 milhões de hectares no ano passado para apenas 2
milhões de hectares em 2022.
O esgotamento do orçamento antes do início do plantio da
oleaginosa -- período tradicional de contratação do seguro -- e a falta de
suplementação explicam a queda. Uma fonte disse que apenas um em cada quatro
sojicultores que acessaram o subsídio no seguro em 2021 terá subvenção neste
ano.
No milho verão, a queda esperada na área segurada é de 516
mil hectares para 130 mil hectares. Qualquer adversidade climática mais grave,
como as estiagens observadas nos anos anteriores, poderá gerar perdas
bilionárias no campo nesta safra e uma corrida dos produtores pela renegociação
de dívidas devido à falta de subvenção ao seguro, alertou uma fonte.
A subvenção paga parte do prêmio da apólice. Em algumas
culturas, o índice pode chegar a 40%. Para a soja, são 20%. Com o aumento dos
custos de produção e dos preços das commodities, os seguros também ficaram mais
caros. Sem a subvenção, alguns agricultores podem optar por não contratar o
mecanismo de proteção das lavouras.
'Saímos de 4,5 milhões de hectares cobertos em 2018
para mais de 14 milhões de hectares segurados em 2021, mas neste ano estamos
voltando para perto de 6 milhões de hectares', disse recentemente ao Valor
o secretário de Política Agrícola, José Angelo Mazzillo Júnior.
Ele defende que a Pasta tenha mais autonomia orçamentária
para fazer a 'modulação' entre as diversas políticas públicas para o
setor. O secretário disse que o índice de avaliação do sucesso da política de
seguro rural não deve ser o orçamento empenhado em subvenção, mas sim a área
coberta. Isso porque os recursos destinados ao PSR aumentaram substancialmente
durante este governo, mas a área segurada voltou a patamares próximos aos de
2018.