Artigo: Seguradoras e ‘insurtechs’
Por Antonio Penteado Mendonça, no Estadão
A s seguradoras não são inimigas das insurtechs, nem as
insurtechs são inimigas das seguradoras. Ao contrário, o mundo real mostra um
desenho diferente, no qual suas atuações são complementares.
A imensa maioria das insurtechs está focada em serviços de
back office, ou seja, atuam na retaguarda do negócio, oferecendo às seguradoras
os mais variados serviços, na maioria das vezes com evidentes vantagens
operacionais e financeiras.
O número de insurtechs envolvidas com a comercialização de
seguros é pequeno, e boa parte delas ainda não conseguiu o ponto de equilíbrio
necessário para poder dizer que é um sucesso operacional. Inclusive o
fechamento de seguros através da internet ou de sistemas digitalizados é
insignificante.
A Internet serve como canal de divulgação dos produtos, mas ainda
está longe de ser o canal adotado pelos segurados para fechar seus seguros.
Há experiências bem-sucedidas, mas estão longe de serem a
regra e, até a mudança ocorrer – o que em algum momento deve acontecer –, o
cenário de médio prazo aponta a venda tradicional das apólices através dos
corretores de seguros como a forma mais eficiente de colocação dos seguros
junto à sociedade.
É curioso, o segurado ainda precisa do “olho no olho”, ou –
pelo menos – da voz de um ser humano, para fechar o negócio. Os canais
informatizados são ótimos para oferecer os produtos, mostrar as suas vantagens,
mas, junto ao grosso da sociedade, eles ainda não têm o poder de convencimento
necessário para fechar a transação.
Na área de suporte, as insurtechs têm se saído muito bem,
entregando produtos e serviços extremamente interessantes.
Desde as vistorias prévias e regulação dos sinistros até a
realização de tarefas administrativas e pagamentos de indenizações, elas
oferecem soluções eficazes, que reduzem custos, oferecem mais eficiência e
confiabilidade e melhoram o desempenho das seguradoras.
É uma parceria positiva, tanto que é comum as seguradoras se
empenharem em dar suporte e remunerar bem as insurtechs que trabalham com elas
para assim se aprimorarem e oferecerem cada vez mais serviços de qualidade.
A ação se justifica pelo ganho de produtividade e pela
economia, além, evidentemente, do fato de a seguradora poder dedicar toda sua
força ao seu negócio básico, qual seja, fazer seguros.
Como, na prática, a parceria é boa para todos os envolvidos,
não é saudável permitir ou incentivar o surgimento de hipotéticas divergências,
capazes de azedar o caldo de uma relação que tem produzido resultados
positivos.
Também não é recomendável pretender oferecer vantagens para
as insurtechs, apenas porque elas são insurtechs. Quem quer entrar no mercado
tem de ter competência para isso. Tem de saber o que quer e o que faz.
Não é justo obrigar quem investiu tempo e dinheiro, numa
longa jornada para se consolidar, a dividir seu conhecimento e sua tecnologia
com quem chegou ontem. Em última análise, é preciso bom senso para não
prejudicar um mercado que gira bem.