Escalada de ataques encarece seguro ciber
Uma espécie de “pandemia ciber”, que emergiu a reboque da digitalização acelerada e do trabalho remoto implementado entre as medidas para combater a covid-19, tem causado um forte impacto sobre o segmento de seguros criados para proteger contra-ataques virtuais. Como resultado, as apólices do gênero já ficaram, em média, 50% mais caras no Brasil quando comparadas ao ano passado. Além disso, a quantidade de pedidos de novas coberturas ciber recusadas mais que dobrou no período, segundo as corretoras e seguradoras.
Dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) ilustram
o tamanho do estrago causado pelos criminosos cibernéticos: os sinistros - as
indenizações pagas pelas seguradoras decorrentes de eventos cobertos nas
apólices - saltaram quase 39 vezes entre 2019 e 2020. Os valores das
ocorrências de ataques cibernéticos saíram de R$ 811,5 mil há dois anos a R$
31,6 milhões em 2020. No período, os prêmios emitidos para as coberturas ciber,
ou seja, os valores a serem pagos pelas companhias protegidas pelo produto,
tiveram alta mais modesta, de cerca de 101%, basicamente dobrando de um ano
para outro.
Em 2021, até junho, os números da Susep mostram que os
prêmios emitidos mantiveram o ritmo de crescimento. Em um semestre, quase
igualaram o volume do ano passado inteiro, com R$ 41 milhões. Os sinistros, por
sua vez, recuaram em termos absolutos. Em meio ano, houve perdas de R$ 7
milhões.
Ainda que a situação tenha melhorado em 2021, o salto sem
precedentes dos sinistros acendeu uma luz de alerta para o setor. “As
seguradoras estão mais restritivas, com mais receio, exatamente pela magnitude
dos ataques e, com isso, o custo já ficou 50% mais caro e com tendência de
alta”, diz Alexandre Delgado, sócio da corretora 3SEG, especializada no mercado
corporativo.
Segundo Marta Schuh, diretora de risco cibernético da Marsh,
“estamos vendo uma aceleração do aumento do número de incidentes em todas as
indústrias e os prejuízos estão bem maiores que os vislumbrados pelos clientes
e seguradoras”. A executiva explica que o cenário tem levado as seguradoras a
ficarem mais cautelosas. Algumas casas criaram, por exemplo, sublimites para reduzir
potenciais perdas em determinadas coberturas, como no caso de ataques de
“ransonware”, o sequestro de sistemas com exigência de resgates financeiros.
Ataques do tipo cresceram 85% no Brasil no primeiro
semestre, segundo a consultoria ISH.