Especialistas veem nova fase para FIPs
Depois das turbulências por investigações em razão de perdas
de fundos de pensão no passado, os Fundos de Investimento em Participações
(FIPs) passam por nova etapa, apontaram especialistas durante o 10º Seminário
de Gestão de Investimentos da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de
Previdência Complementar (Abrapp).
A despeito do estigma que ganhou por causa dos problemas
recentes enfrentados no país, a classe de ativos tem potencial para
investidores institucionais e papel na diversificação de negócios, além de
poder trazer bons retornos, especialmente quando se observa as experiências
internacionais, ressaltam. As boas práticas e os cuidados, defendem, poderão
permitir mais segurança nas oportunidades com FIPs.
“Não se pode demonizar nenhum tipo de investimento, seja FIP
ou outro. É preciso avaliar como investir de forma prudente e consciente em
qualquer tipo de investimento, ver se a entidade foi diligente. Se há análise
de risco correta, não há problema”, disse o diretor de Orientações Técnicas e
Normas da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), José
Carlos Chedeak.
Ele afirmou que este tipo de investimento pode ter boa
rentabilidade e há casos de sucesso, mas reforçou a importância de “ampla gama
de fatores” para análise na seleção de um FIP por fundações, como a estrutura
do gestor, se a gestão de risco está alinhada à carteira da entidade, os
mecanismos de entrada e de saída do capital e revisão detalhada do regulamento.
“A gente passou por período turbulento [em FIPs] de 2010 a
2015. Não era a questão do veículo, mas a prática. Pontualmente, algumas questões
realmente tiveram seus desvios apontados, mas muita coisa mudou, a própria
regra da CVM mudou. Não há nenhum estigma do órgão regulador pelo ativo. Mas é
preciso trabalhar para que se tenha análise de risco nas fundações, para que,
se esse ativo fizer sentido, possa fazer parte do portfólio”, disse, reforçando
que a prioridade é a proteção do patrimônio dos fundos.
Algumas das maiores entidades do país, como Petros
(Petrobras), Funcef (Caixa) e Previ (Banco do Brasil), enfrentaram problemas de
governança, que culminaram em denúncias de corrupção e má gestão na operação
Greenfield.
Na avaliação do diretor de investimentos da Petros,
Alexandre Mathias, os FIPs passaram por estigma no país por causa do histórico
das fundações públicas, mas é importante diferenciar as práticas do veículo de
investimentos, que tem bons resultados em todo o mundo.
Há muitas lições aprendidas, apontou ele, como a revisão do
processo de escolha de gestores, a concentração em fundos monoativos e em
determinados setores, como infraestrutura e óleo e gás. Sua expectativa agora é
pela divulgação, pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), das novas normas
para os fundos de investimentos, a partir da Lei de Liberdade Econômica. “A
partir disso, as fundações voltarão a ter segurança jurídica para não estarem
expostas a um fundo com um passivo que pode ser infinito. É um ponto
fundamental para uma nova era com as FIPs”, disse Mathias.
Integrante do Grupo de Trabalho Boas Práticas para
Investimentos em FIPs da Abrapp, Arlete Nese ressaltou que os FIPs são parte
relevante dos investimentos de family offices, enquanto representam só 1% dos
recursos de fundos de pensão. “A grande questão é a governança”, apontou,
informando que a Abrapp está preparando um guia de boas práticas no segmento.