Pandemia acelera fluxos de inovação em hospitais
O Valor
Econômico conta que, há pouco mais de três anos, quando o Hospital
Israelita Albert Einstein abriu as portas da Eritz.bio, incubadora de startups
voltada à área da saúde, poucas eram as instituições dispostas a falar em
inovação aberta - desenvolvimento de produtos e serviços em parceria com
agentes externos - no ambiente hospitalar.
A regra valia tanto para a gestão do negócio como para a
adoção de ferramentas que auxiliassem na tomada de decisão por parte do corpo
clínico. De lá para cá, a incubadora, pioneira na América Latina, recebeu mais
de 80 healthtechs. “Ao longo dos anos fomos construindo um ecossistema de
inovação, que desde o início de abril conta, também, com um fundo de
investimento em participações exclusivo, com R$ 100 milhões para serem
investidos em empresas em fase de validação de produtos e serviços”, diz o
diretor Rodrigo Demarchi. “Nosso maior diferencial é colocar as startups em
conexão com grandes especialistas. É a inovação na vida real”, afirma.
Segundo ele, a Eritz.bio trabalha em três vertentes: saúde
digital, que reúne 70% das incubadas; biotecnologia (15%) e dispositivos
médicos (15%). Entre as spin-offs da Eritz.bio está o Escala, app para montar e
gerenciar escalas de trabalho. Os gestores criam os turnos, considerando folgas
e férias dos colaboradores que acessam seus horários e podem solicitar trocas
por meio da ferramenta. “Durante dois anos nós testamos o modelo de negócio no
Einstein”, diz o CEO Vinícius Lima.
Hoje o Escala é usado por 240 empresas, 80% delas da área da
saúde, conta. São três modalidades: plantões, destinada aos médicos; jornada,
para enfermeiros, bombeiros e prestadores de serviço, e espaço, criada na
pandemia para gerenciamento de salas e posições de trabalho nas jornadas
flexíveis. Com custo médio de adoção de R$ 4 por usuário, a Escala espera
faturar R$ 6 milhões este ano, o dobro de 2020.
Para Kenneth Almeida, diretor do Hospital Alemão Oswaldo
Cruz, a pandemia acelerou muito o processo de inovação e abriu portas para
criar um fluxo de desenvolvimento. “A urgência faz as coisas acontecerem mais
rapidamente”, diz. “Desde 2018 temos um centro de inovação e em 2020 lançamos
um edital focado em plataformas digitais para relação com paciente, com mais de
40 empresas inscritas”, diz.
Nos últimos dois anos, a instituição fechou 20 parcerias no
modelo de open innovation e investiu mais de R$ 25 milhões na área, entre
infraestrutura e projetos. O incentivo à participação interna também ganhou
força. A equipe de fisioterapeutas do hospital criou um adaptador que permite a
instalação de um filtro bacteriano e viral no circuito dos ventiladores
mecânicos usados por pessoas com covid-19 internados na UTI, que possibilita ao
paciente respirar sem que o ambiente seja contaminado. “A peça, que é
descartável e custa menos de R$ 10, é extremamente eficiente e por conta disso
abrimos a tecnologia para o mercado”, explica Almeida.
Com quatro anos de operação, a startup Laura - responsável
pela criação de uma plataforma baseada em inteligência artificial para auxiliar
o corpo clínico no cuidado com pacientes internados - viu a chave virar em
2019. “Os médicos começaram a reconhecer o quanto a adoção da inteligência
artificial poderia ajudá-los ao longo da jornada dos pacientes”, diz o CEO
Cristian Rocha. O hospital Oswaldo Cruz foi um dos primeiros a usar a
tecnologia para monitorar pacientes internados e com covid. Em breve usará,
também, o Laura Inteligência Clínica, que auxiliará o médico na tomada de
decisão a partir de dados relativos ao risco de mortalidade e atendimento dos
alertas disparados.
Seguindo a lógica do machine learning, o robô Laura analisa
mais de 90 variáveis, se conecta ao prontuário eletrônico e monitora os
relatórios de saúde e informações clínicas de cada paciente. Ao identificar
qualquer anormalidade, emite um alerta. Adotado em mais de 40 instituições, o
Laura já realizou mais de 8 milhões de atendimentos e ajudou a salvar 24 mil
vidas.
Na visão de Rafael Ribeiro, diretor de produtos digitais do
Hospital Sírio-Libanês, mais do que quantidade, o que pesa é qualidade.
“Estamos atentos a empresas que ajudem a mudar os modelos de gestão, tornem os
processos mais ágeis e tragam ferramentas que permitam ao hospital participar
da economia digital”, diz. Entre os projetos que avançaram em 2020, ele aponta o
Pronto Atendimento Digital, aplicativo que dá ao usuário acesso digital ao PA
do hospital para consultas com médicos de família, prescrição e pedidos de
exames digitais.