Artigo: Seguros para micro e pequenas empresas
Por Antonio Penteado Mendonça, no Estadão
O Brasil tem baixo índice de penetração de seguros na
sociedade. Grosso modo, o setor atende empresas médias e grandes e pessoas
físicas dos segmentos A, B e C, ou a chamada classe média.
As razões para isso passam pela realidade socioeconômica
nacional. Um país com uma população de mais de 200 milhões de pessoas, na qual
100 milhões recebem até um salário mínimo por mês, tem pouca condição de
contratar seguro para todos.
A segunda razão é a falta do hábito de poupar e o quase que
completo desconhecimento de noções básicas de educação financeira. O brasileiro
não está habituado a fazer poupança. As causas para isso são variadas, entre
elas os ganhos reduzidos e as incertezas econômicas que a cada cinco anos
chacoalham a nação, em crises mais ou menos severas.
A terceira é o desconhecimento do seguro pela maior parte da
população. Sem levar em conta as classes D e E, que mal têm noção do que seja
um contrato e, portanto, não estão familiarizadas com transações mais
complexas, como a contratação de um seguro, os 100 milhões de brasileiros
teoricamente seguráveis também não estão familiarizados com o instituto, o que
faz com que sejam superficialmente conhecidos os seguros de automóveis, vida e
os planos de saúde privados, não como algo para ser contratado, mas algo para
ser sonhado e desejado.
Vale também lembrar que o setor começou a crescer há menos
de 30 anos, ou seja, é uma atividade recente, que, apesar disto, teve um
desenvolvimento impressionante após o Plano Real. De 1994 para cá, o setor deu
um salto, passando de uma participação de menos de 1% no PIB para mais de 6%,
mas este crescimento ainda é insuficiente para fazer do seguro um produto
conhecido.
É possível fazer mais? Com certeza, mas é necessário se dar
o desconto das razões supra para explicar por que ainda estamos longe das nações
mais desenvolvidas.
Visando contribuir para a mudança do cenário e o aumento da
participação do seguro no cotidiano da sociedade, a Confederação Nacional das
Seguradoras (CNSeg) criou áreas destinadas a levantar dados e apresentar
soluções para a democratização da atividade. Entre elas, a Comissão de
Inteligência de Mercado (CIM), que, em função do aumento da contratação de
seguros pelas micro e pequenas empresas, realizou um estudo sobre o assunto,
confirmando de início que a falta de conhecimento sobre seguros e o alto índice
de fechamento dessas empresas estão entre as razões que dificultam a
contratação de produtos do setor pelo segmento.
O trabalho se divide em duas fases. A primeira é focada na
melhor identificação e conhecimento deste universo. E a segunda, destinada a
analisar e avaliar os produtos oferecidos para o segmento. Com este trabalho, a
CNSeg pretende disponibilizar para as seguradoras ferramentas mais eficientes
para definir as ações e os produtos capazes de aumentar sua penetração no
universo das micro e pequenas empresas.
A primeira parte do trabalho resultou num interessante
estudo sociológico, com uma fotografia bastante exata dos players do segmento,
tanto os microempreendedores quanto os pequenos empresários. O estudo mostra de
forma bastante clara as diferenças entre os dois, com os microempresários
abrindo seus negócios quase que por necessidade de sobrevivência e as pequenas
empresas sendo criadas como consequência do conhecimento anterior da atividade
a que ela se dedica.
Atualmente, este universo é composto por quase 17 milhões de
empresas, com mais de 51% delas instaladas na região Sudeste. A maioria se
dedica ao comércio, seguidas pelas empresas de serviços. O estudo também
identificou a alta dependência da renda familiar, o que pode ser uma ameaça,
mas também é uma oportunidade importante para o setor de seguros desenvolver
produtos de proteção de renda com foco específico.
É um estudo amplo e bem embasado, que desenha com detalhes
um segmento importante, dando as condições necessárias para que as ações
destinadas a atingi-lo sejam desenvolvidas com base em conhecimento e não em
achismos.