Assistência médica e psicológica é principal atrativo da cesta de benefícios
Saúde mental entrou de vez no portfólio, mas planos médicos continuam como grande chamariz, avaliam consultores
Valor Econômico - 08 de Abril de 2021Saúde mental, alimentação saudável, lazer e capacitação. De acordo com consultorias de recursos humanos ouvidas pelo Valor Econômico, esses serão os novos pilares que vão guiar os pacotes de benefícios nos próximos meses, entre grandes empregadores. A intenção das chefias, segundo os especialistas, é manter em alta a moral das equipes - em um momento de recrudescimento da pandemia no Brasil - e dentro de um cenário que não sinaliza data de retorno para os expedientes presenciais.
O mercado de trabalho aponta para novos privilégios, como o
“vale-Netflix” ou o pagamento do salário em dia agendado pelo profissional. As
principais mudanças dos pacotes estão relacionadas ao “antes” e “durante” a
pandemia, como a busca de um estilo de vida mais saudável, apoio ao bem-estar
financeiro e treinamento para mudanças na carreira, analisa Roberto Rosseto,
líder de financial services da Mercer Brasil.
O consultor afirma que, nessa linha, mais empresas estudam
mudanças ou já aplicam uma política de vantagens flexíveis em que o colaborador
monta um pacote de acordo com suas necessidades. “Assim, a escolha sobre a
adesão a um plano de saúde, previdência privada ou a um auxílio-MBA, por
exemplo, fica a critério do empregado.”
Para Clayton Pedro, sócio do XFour, hub de HRtechs (startups
de RH) da consultoria de recursos humanos Fesa Group, facilidades ligadas ao
cuidado com a saúde mental ganharam relevância no último ano. Mas, uma das
principais tendências globais no setor é o salário sob demanda, quando o
funcionário pode receber o pagamento dos dias trabalhados no mês a qualquer
momento, sem esperar uma data fixa para o depósito.
Na opinião de Fernando Mantovani, diretor-geral da
consultoria Robert Half, as organizações que não querem perder seus melhores
talentos passaram a rever os pacotes de regalias com maior frequência. Ele
observa o desembarque de mais ofertas ligadas ao lazer, como o vale-livro ou o
“vale-Netflix”. “São tentativas de aliviar o dia a dia dos colaboradores”, diz.
Mas a assistência médica continua como um dos chamarizes mais valorizados do
mercado, principalmente neste último ano, destaca.
O boletim do mês passado da Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) indica que de março (início da pandemia) a fevereiro deste
ano, houve um aumento em todas as modalidades de contratação dos planos de
saúde, sendo que o maior percentual foi verificado nos coletivos empresariais
(1,81% a mais em relação a março de 2020). A sinistralidade registrou queda em
fevereiro e a inadimplência se manteve estável.
Um dos principais desafios com relação aos benefícios de
assistência médica neste ano, avalia René Ballo, líder da área de consultoria
em benefícios da Willis Towers Watson, é o de uma “potencial bolha de custos”
para as empresas - já que no ano passado os atendimentos eletivos e consultas
de prevenção foram represados. “As empresas precisam tomar decisões importantes
com relação à composição orçamentária, montando plano para lidar com os custos
que não sabemos talvez quando chegarão. Talvez a partir do segundo semestre”.
Ele lembra que esses custos podem aumentar, considerando que
muitos tratamentos preventivos ou de doenças crônicas foram suspensos. Uma
pesquisa realizada pela consultoria em junho do ano passado com 196 empresas no
Brasil indicou que mais de 50% estavam adicionando ou expandindo o acesso a
serviços de saúde mental online e à telemedicina. Apenas 12% delas modificaram
ou revisaram o desenho do plano de licenças remuneradas e as práticas para
reduzir custos e 78% planejavam adicionar novos programas de bem-estar por
conta dos impactos da pandemia.