Transformação digital será fator chave no mercado de seguros, diz Fitch
Processo “vai requerer significativamente mais investimentos em infraestrutura e tecnologias inovadoras”
Valor Econômico - 08 de Abril de 2021A implementação de modelos operacionais digitais será um pré-requisito para o sucesso no mercado de seguros da América Latina nos próximos anos, afirma a Fitch de acordo com o Valor Econômico. Na avaliação da agência de classificação de riscos, essa transformação “vai requerer significativamente mais investimentos em infraestrutura e tecnologias inovadoras”. Para a classificadora, o cenário atual “apresenta-se como uma oportunidade para as seguradoras digitais, que estão livres de sistema legados, de entrarem no mercado”.
A Fitch ressalta que a transformação digital “é uma
tendência chave que a agência identificou entre os fatores que vão direcionar
os ratings das instituições financeiras no médio (de dois a cinco anos) e longo
prazos”. A agência também enfatizou que a pandemia tem acelerado esse processo
de digitalização.
Dentro de um ambiente de demanda remota maior, tem se
desenvolvido um ecossistema de companhias na América Latina que estão inovando
as operações de seguros usando plataformas digitais. Conforme a Fitch, “as
seguradoras já estabelecidas vão ter de se adaptar”.
A Fitch enxerga a emergência das insurtechs na América
Latina como parte de um ciclo natural de inovação na indústria securitária. “Os
novos entrantes vão oferecer soluções de ponta, mas o ritmo da inovação será
definido pelos participantes tradicionais.”
Na análise da agência, a transformação digital da indústria
na região tem avançado mais na ponta de vendas, uma tendência que se acelerou
na pandemia diante da necessidade de as companhias distribuírem os produtos e
até assinar contratos digitalmente.
Os consumidores, por outro lado, têm aumentado a demanda por
produtos disponíveis on-line, bem como maior transparência de preços,
facilidade de uso e a habilidade de as coberturas automaticamente se adaptarem
às mudanças de necessidades. “No longo prazo, a Fitch espera que os produtos
padronizados de seguros sejam vendidos primariamente por canais digitais,
enquanto os agentes de distribuição [corretores] vão focar em soluções mais
compelxas de coberturas.”
Outra adaptação esperada é o uso cada vez maior de dados
pelas seguradoras. “Conforme a transformação digital se acelere, as seguradoras
vão precisar empregar ‘big data’ e inteligência artificial”, aponta a agência,
que acrescenta: “e as companhias vão ficar cada vez mais dependentes de dados
maciços para aumentar a subscrição e prover uma precificação individualizada”.
A Fitch cita ainda o uso de telemetria pelos seguros auto e
a utilização de dispositivos portáteis de monitoração pelas seguradoras de
saúde como exemplos de aplicações de “big data” atualmente. A inteligência
artificial, por sua vez, será necessária para alavancar a adaptabilidade das
ofertas de produtos e também para ajudar a prevenir e gerir pedidos de
indenizações.
A Fitch aponta ainda que, dentro do ponto de vista de
ratings, o sucesso ou fracasso dessa transformação digital para as seguradoras,
em última instância, vai impactar dois critérios de avaliação: o perfil do
negócio e o desempenho financeiro. “O sucesso ou fracasso do emprego de
tecnologia pode impactar o perfil do negócio em algumas subcategorias, como
serviços e capacidade de distribuição, escalabilidade das operações,
profundidade das ofertas de produtos e outras”, diz a Fitch.
A agência pondera também que “os frutos do investimento
tecnológico vão ficar evidentes, em algum momento, nas taxas de desempenho
financeiro”. A Fitch chama a atenção para a importância da evolução regulatória
nesse processo. “A matriz regulatória será um ponto chave para o
desenvolvimento de um ambiente saudável de inovação”, afirma a agência.
“Os reguladores tem um desafio complexo quando fazem as
normas, porque têm de equilibrar o fomento à inovação e competição, com o
bem-estar de ambos, os segurados e as companhias de seguros”, conclui.